Não seja trouxa de cair nesse papinho politicamente correto que existe para nos dividir e conquistar.
Existem valores com que todos concordam. Alguns verdadeiramente, outros hipocritamente, por conveniência. São bons. Todo mundo sabe quais são os bons valores: honestidade, caráter, bondade, etc. Nem preciso listá-los, todo mundo sabe. Qualquer um prefere ser inteligente, rico e bonito do que burro, feio e pobre, não é mesmo?
Isso posto, todo mundo gostaria de morar em um país em que pudesse sair tranquilamente na rua, sem medo de ser roubado, enganado e muito menos assassinado. Em que todo mundo tivesse um rendimento justo em troca do trabalho que exerce (como eu disse em Mim quer Tocar, em 1982), e que as coisas não custassem tão caro por causa dos impostos que temos que pagar para sustentar gente inútil, parasitas que nada produzem e vivem às nossas custas.
Onde todos tivessem orgulho de sua contribuição à sociedade e estivessem satisfeitos com o que fazem, por poder fazer o que sabem fazer melhor. Posso dizer que esses são outros pontos com que todos concordam. É a verdadeira razão da política, inclusive, definir qual a melhor forma de viver em sociedade. Muitos desses valores são normalmente considerados como sendo de gente de bem e essa gente de bem é muitas vezes considerada como “sendo de direita” embora obviamente exista gente ruim em qualquer lado.
Mas é justo pensar que existe mais gente de bem à direita, gente que cultiva esses valores. Gente que é normalmente vista com maus olhos pela esquerda, gente “bunda-mole”, “gente religiosa”, “gente careta”. Evidente que esse é também o estereótipo da “gente direita”. Especialmente no Brasil, onde valorizamos a “esperteza”, a “malandragem” e também a rebeldia e o deboche, nossos escudos contra a onipotência de povos mais avançados que nós.
A esquerda e a direita concordam (como já disse, talvez por motivos diferentes) que seria ótimo que todos fossem honestos, bons, inteligentes e bem-educados. Bem-educados, inclusive é um ponto que vale a pena esclarecer. Não adianta dar X ou um milhão de X para a educação para resolver o problema. É principalmente dessa educação de valores que precisamos. Do que é ser cidadão, qual nossa função na sociedade, o que podemos fazer para melhorar todo o entorno para nós mesmos. É uma questão de caráter e até de inteligência. Se for bom pra todo mundo é melhor pra todos. Mas nossa mentalidade tacanha e mesquinha, lapidada através de anos de “farinha pouca, meu pirão primeiro” moldaram essa sociedade em que vivemos.
A esquerda e a direita discordam do método a ser utilizado e dos meios para chegar ao poder. A esquerda acredita que o Estado deve prover tudo, o que é uma falácia, o Estado não existe. O Estado é o canalha que chegou ao poder e explora o povo para, supostamente, cuidar do povo. Como já vimos centenas de vezes (e continuamos vendo), é assim que acontece. Sempre. A direita acredita que o Estado deve garantir segurança para que possamos exercer nossos direitos à vida, à propriedade e à liberdade. E cada um que faça seu melhor, em igualdade de condições.
Nós precisamos de leis que sejam cumpridas à risca e não interpretadas de acordo com conveniências. Precisamos de contratos que sejam respeitados. Acho que aqui também só não concorda aquele que é beneficiado pela frouxidão dessas leis. Esperar que a prisão “recupere” bandidos é uma besteira. A prisão deveria ser algo que fizesse com que ninguém desejasse ir para a penitenciária (palavra que vem de penitência). Mas como quem está no poder sabe que não irá, fazem leis para os outros. As leis aqui são feitas de tal forma que fica difícil cumpri-las. De propósito, para beneficiar corruptos no poder que lucrarão com elas.
No fundo, esquerda e direita concordamos em muita coisa. Mas pensar que haverá um cara que reúna todos esses valores e que nos conduzirá triunfantes ao Shangri-la é uma utopia. A boa notícia é que não precisa existir esse cara: basta que exista uma maioria de caras com esses valores. De preferência, a grande maioria. São bons valores, todos concordamos. Não é “uma ditadura da maioria”.
Portanto, você que acredita verdadeiramente nesses valores, que entende que é muito melhor não ser roubado, assassinado e enganado, que é muito mais fácil viver numa sociedade em que todos colaboram e pensam no todo e não só em si próprios (sim, pensar em si também é perfeitamente normal. Mas não em detrimento dos outros), não seja trouxa de cair nesse papinho politicamente correto que existe para nos dividir e conquistar. Você que já tem bons valores e está acostumado desde criança a tratar a qualquer um com respeito, não se deixe levar por essa cafajestagem de ver preconceito em tudo.
Só o que essas pessoas desejam é fingir que têm os valores que você verdadeiramente tem. São, por sua vez, manipulados por pessoas interessadas tão somente em chegar ao poder para te explorar. Cultive os bons valores não porque você é “um ser humano maravilhoso”; mas porque é a coisa inteligente a se fazer.