O sensacional relato de um policial federal que por mais de quatro anos trabalhou arduamente na Amazônia
01/10/2020 às 15:54 Ler na área do assinanteVou começar esse texto dissertando sobre minha experiência na região amazônica, especialmente no Alto Solimões, onde passei mais de quatro anos trabalhando arduamente, no final da década dos anos oitenta, como policial federal.
Essa experiência da qual falo foi adquirida, dia após dia, sob condições bastante difíceis na região onde convivi com os mais diferenciados segmentos: silvícolas, ongs estrangeiras, militares, ambientalistas, Funai, diplomatas, missionários, autoridades locais, guerrilheiros, contrabandistas, entre outros. Todos com interesses nas grandes riquezas amazônicas.
Pude ouvir suas demandas, analisar o que não era dito, perceber como eram postas em prática as políticas públicas no local, compreender melhor o Norte e suas mazelas. Não vou contar aqui as aventuras passadas, apenas que elas me fizeram compreender melhor que nem sempre o discurso bonito e os projetos bem elaborados são a resposta apropriada para as complexidades regionais.
Vamos aos fatos. Por decisão governamental, uma área de 47 mil quilômetros, rica em cobre e outros minerais, poderá ser agora explorada pela iniciativa privada, após mais de trinta anos fechada à exploração. Gritaria geral! Rapidamente, nas redes sociais, artistas e “especialistas” começaram a exclamar sua indignação, hashtag SOS Amazônia.
Aposto que praticamente nenhum deles conviveu com os habitantes locais, se informou realmente sobre a região e sequer colocou os pés na terra que supostamente defendem. Constatei “in loco” como é falacioso o mito da reserva intocada.
Voltando a falar sobre o tempo que ali passei quando mais jovem, destaco que minha atividade policial visava, entre outras atribuições, a defesa das riquezas locais.
Vou citar alguns exemplos, como proteger a retirada de madeira de lei por peruanos, contrabandeada para o outro lado da fronteira, ou mesmo a mineração ilegal que permitia a saída de importantes minérios tranquilamente pelas fronteiras, enriquecendo traficantes e outros países.
Não raro, em minhas andanças no meio do mato, pude ouvir o barulho das motosserras, esse equipamento que tanto aparece em charges, porém que a grande maioria nunca viu de perto.
A verdade é que em nosso País o ideal não existe.
Querem manter um paraíso ecológico preservado e intocável, e para isso é necessária uma fiscalização rígida. Colocar uns poucos homens na fronteira não garante essa tarefa, apesar de muitos terem dado o melhor de si e tombado em conflito com criminosos bem armados em emboscadas. Uma possível solução seria permitir a exploração por uma empresa de renome, considerada apta a garantir, ao mesmo tempo, a legislação ambiental.
Com dinheiro rolando, o governo recebendo sua parte, a empresa faturando, trabalhadores cadastrados realizando a mineração, é mais fácil fiscalizar porque toda a atividade que já existe hoje se tornaria legal e estaria condicionada às leis em vigor. Multas poderiam ser aplicadas, licenças suspensas em casos de desrespeito e riquezas geradas para o País.
Essas riquezas estão lá e hoje o Brasil precisa delas para o desenvolvimento da região e da Nação como um todo. Se o brasileiro não explorar seus bens, outros vão fazê-lo em seu lugar e de forma rudimentar, agressiva ao meio ambiente.
Por exemplo, garimpeiros criminosos usam mercúrio para facilitar a exploração mineral mesmo sabendo que a substância contamina o solo, a água e os seres humanos. Fazem isso por ser mais rápido e barato, com medo de serem pegos não têm tempo a perder. E nem regulamentos a cumprir, uma vez que agem na clandestinidade.
Em pleno ano de 2020, com a tecnologia de ponta disponível, a exploração sustentável é uma alternativa para resolver com inteligência esse impasse. Tentar fiscalizar uma área não explorada é uma missão difícil para um país de primeiro mundo, imagine para o Brasil. Um país como o nosso, em luta para sair da crise, não pode abrir mão de suas riquezas em momento de fragilidade financeira alegando a hipótese da destruição ambiental com viés ideológico. Como o Brasil e seu povo com renda per capita tão baixa e dívida quase impagável pode deixar suas riquezas “intocadas” sob justificativa de que a entrega à iniciativa privada nacional ou estrangeira estaria colocando em risco a nossa soberania?
A reserva criada no regime militar tinha como objetivo futuras explorações previstas em lei. Por que ouvimos e acreditamos em ONGs internacionais e nacionais sobre as quais nem sabemos a verdadeira origem e suas pretensões?
A Amazônia legal é uma riqueza do povo brasileiro e deve ser explorada, sim, sob nossa tutela, principalmente agora que estamos tentando sair “do fundo do poço”. Já chegou a hora de aprendermos a ganhar com o que temos e a respeitar nosso bem maior que é o patrimônio nacional. Todos os brasileiros devem e podem participar dessa fiscalização ambiental.
Nos dias atuais, o argumento de preservar sem usufruir não se sustenta mais. Corremos riscos? Sim, mas esses riscos são ainda maiores se mantivermos a inércia mantida até o momento. Devemos ter em mente que a degradação do meio ambiente causada por explorações ilegais é muito maior que qualquer atividade legal na nossa floresta.
Termino citando James Lovelock:
“Não é a terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. A natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que produzimos. Nada do que fazemos destruirá a natureza. Mas podemos facilmente nos destruir.”
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Carlos Arouck
Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.