A pandemia, a reação e a eleição

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O que apresentar primeiro: a coisa boa ou a ruim? Comecemos por aquela que é de todo negativa. Depois se vê o que tirar de bom.

No Rio Grande do Sul, em seis meses de pandemia, morreram sete empresas por hora, totalizando 30 mil - dados da Junta Comercial. Inclusive hotéis e restaurantes tradicionais.

Mas, em maioria, fecharam empreendimentos modestos - de comércio e prestação de serviço.

Quem faliu é gente que tem iniciativa, que arrisca tudo, gera emprego, impulsiona a economia e garante a subsistência da vida.

São sonhos que se apagaram, empregos que desapareceram, vidas que murcharam: a economia encolheu e cresceu uma onda de incerteza e temor.

Quem terá feito empatia (palavra da moda) com tais vítimas da pandemia?

Políticos de conhecida coloração ideológica, além da mídia e da casta acadêmica, entre outros, parecem contentes com o desastre.

Assim no RS como no Brasil inteiro, o que se vê é uma verdadeira cruzada para disseminar o pânico e matar a esperança.

Não há dúvidas de que é dramática a situação, com um vírus que ainda não tem controle. Mas o pior é haver quem queira tirar proveito da crise.

Foram aproveitadores que cunharam um falso dilema, um embuste cognitivo para enganar as pessoas: defender a economia ou defender a vida?

Acaso a vida pode subsistir sem a economia? Onde está o dilema?

Embora amem ter patrimônio, esses arautos do pânico diabolizam o capital, odeiam empresas, misturam alhos com bugalhos e tratam o dono da padaria e o especulador George Soros como se fossem a mesma coisa.

Faltou, do governo estadual e da Assembleia Legislativa, uma palavra de encorajamento e solidariedade para os empreendedores que faliram.

O que sobrou, por todo lado, foi performance salvacionista com a repetição do mantra "fique em casa", como se isso, que é indispensável para vulneráveis, encerrasse a solução cabal no enfrentamento da crise.

A pandemia desmascarou o egoísmo e a inclinação oportunista de muitos e mostrou o quanto e como a população pode ser manipulada.

Mas nem tudo está perdido. O Brasil não vai acabar. Logo entraremos numa fase de recuperação. E serão os empreendedores, hoje subestimados, que vão impulsionar a revitalização da economia.

Além disso, é positivo que, dentro de alguns dias, haja eleições municipais. Ou alguém dirá que uma tal chance de renovação é inútil?

Sem a política, o que resta é abuso de poder. Quanto menos gente interessada em política houver, mais cômodo será para os oportunistas, ao passo que mais gente interessada tende a reduzir abusos.

E não há como ficar de fora: os que dão as costas à política, encenando superioridade moral, acabam sendo úteis ao parasitismo espertalhão.

Ora, estar o ar poluído nunca foi motivo para se desistir de respirar.

Por que é que alguém, senão por preguiça e mediocridade, usaria a escusa de estar a política dominada por espertalhões para dela desistir?

O que faz uma sociedade melhor ou pior é a qualidade das suas instituições. E a questão é "como melhorar as nossas instituições?". É precisamente para essa tarefa que elegemos os nossos representantes.

Sejamos, pois, adultos e, abandonando ilusões juvenis, comecemos por aprimorar nosso critério de escolha para reduzir a margem de erro na eleição daqueles que, em nosso nome, vão gerenciar o futuro da cidade.

Pensemos com generosidade que é aí, na política municipal, que serão forjados os líderes que conduzirão o país futuramente.

E a saída é distinguir entre quem valoriza o trabalho e quem bajula o trabalhador para, dele, tirar proveito. Entre quem quer instituições abertas e transparentes e quem só as quer úteis a seu projeto de poder.

Tudo começa pelo município. As eleições de 2020 marcam o início da recuperação: vamos melhorar o país, principiando por arrumar a cidade.

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Foto de Renato Sant'Ana

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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