A história registra que um dos pioneiros do uso da propaganda política “cegou” uma grande parte de pessoas e jogou um país europeu inteiro numa trágica aventura. Aconteceu no governo nazista de Hitler na primeira metade do século passado. Um dos seus ministros, Goebbels, um gênio da propaganda, defendia que a mentira deve ser tantas vezes repetida a ponto de passar pela verdade. Tudo depende de como são manipuladas as informações.
Ver, ler ou ouvir pessoas que defendem uma posição expressarem-se com tanta firmeza e convicção, utilizando certas técnicas de comunicação mesmo diante de fatos e circunstâncias evidentemente criminosas, acabam deixando a gente em dúvida.
Descobriu-se, assim, com a ascensão dos estados fascistas em diversos países, que a propaganda é uma arma poderosa, talvez a mais eficaz de todas as armas letais já usadas pelo mundo afora na conquista do poder, em muitos outros casos. O rádio foi o veículo inovador e poderoso naquela ocasião. Mas até os nossos dias, os mais diversos meios de comunicação passaram a ser amplamente utilizados por políticos de todos os matizes e lugares.
A partir da revolução tecnológica que invadiu o planeta com a popularização das redes sociais via Internet, o uso das informações, verdadeiras ou manipuladas, provocou um salto extraordinário nos meios de comunicação e mudou a maneira de fazer política. Políticos e sociedade, candidatos e eleitores relacionam-se de uma forma diferente e rápida, gerando ações e reações que podem se tornar surpreendentes e até fora de controle.
Há uma piada nessas redes sociais da Internet brincando com a situação aflitiva dos historiadores que terão que explicar no futuro o que aconteceu no Brasil em 2015/16. Pois é assim que as “cabeças pensantes” e ainda lúcidas estão se sentindo, meio perdidas. O que é informado pelos jornais tradicionais ou eletrônicos precisam passar por um filtro crítico bem fino e rigoroso, caso contrário dá-se a manipulação. Algumas são grosseiras, como documentos forjados, estatísticas e “pesquisas de opinião” fajutas e fotos adulteradas em computador que qualquer criança faz e também reconhece. O risco está nas alterações subliminares, aquelas que a gente não percebe claramente e provocam confusão.
Nas ruas, o problema se agrava, com gente pedindo o fechamento do Congresso, intervenção militar, golpes contra a lei e a democracia arduamente conquistada no Brasil com a Constituição de 1988, ataques a todos que se identificam de esquerda como “comunistas” ou de “coxinhas” e fascistas os que são contra o governo vigente, e por aí afora... Há excesso de informação sem lastro de um lado e muita ignorância, de outro. Isso sempre acaba mal.
Como saber quais interesses (escusos) estão em jogo nesse “imbloglio” e na movimentação dos que querem manter o status quo e o PT no governo federal e os que se manifestam pela saída da presidente Dilma, com renúncia ou impeachment? E se ela cair, quem é que vai conduzir esse avião em pleno voo, sem combustível e sem rumo? Quem está do lado da verdade e de qual verdade? Em quem devemos depositar nossa confiança e representação? Onde estão os cidadãos acima de qualquer suspeita?
Para retomar a ideia inicial deste artigo, lembro que Goebbels e outros poderosos nazistas foram julgados e condenados pela História. João Santana, provavelmente, será julgado pela Justiça Federal. Muitos empresários e políticos fazem e ainda farão acordos de delação e atenuarão suas penas. Lula e Dilma serão vítimas ou heróis nos futuros livros didáticos nas escolas brasileiras.
E todos nós? Como ficamos?
A famosa operação Mãos Limpas na Itália foi eficaz até certo ponto. Os italianos ainda têm pela frente a tarefa de sanear totalmente a corrupção na sua sociedade. Se isso acontecer por aqui já estará de bom tamanho, pois a gente pode perdoar, mas insisto em acreditar que o futuro nos reserva dias melhores, uma sociedade mais justa e solidária, onde quem engana e rouba, paga. Ainda creio que a mentira tem pernas curtas.
Valmir Batista Corrêa
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Valmir Batista Corrêa
É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.