O conselho que dribla a crítica sem qualquer legitimidade

15/09/2020 às 07:22 Ler na área do assinante

O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, CRPRS, no dia do psicólogo, para fazer a cabeça dos profissionais, distribuiu um MSN com a dicção do politicamente correto nos exatos termos seguintes:

"Em 27 de agosto, dia da/o psicologa/o, o CRPRS reforça: 'A Psicologia escolhe a vida: Nao ao genocidio!' Parabens, Psicologa/o, pelo seu dia!"

O que importa é o subtexto, o que é dito sem estar explícito. É aquilo que não é textual, mas, nesse caso, dito de modo sub-reptício, trazendo a posição político-partidária dos diretores do CRPRS.

Não há por que fazer rodeios. Está na cara que o pano de fundo é a pandemia de covid-19; e que os diretores aproveitam-no para, sem mencioná-lo, projetar a mais negativa imagem de Jair Bolsonaro.

E daí? É proibido criticar Bolsonaro? Não! Pelo contrário, não há democracia sem a crítica que oxigena o poder político. Mas estarão os diretores do CRPRS fazendo propriamente crítica ou será outra coisa?

Há um dado de realidade que joga luz sobre o fato: a disputa pelo poder realiza-se menos pela força e mais pelo embate ideológico, forjando narrativas, espalhando versões e, no fim, infundindo crenças, tudo para granjear a adesão das massas e manobrá-las.

Aliás, até porque as pessoas são ideologicamente influenciáveis é que se despendem milhões com marketing nas campanhas eleitorais.

Pois bem, o discurso do CRPRS está num concerto de narrativas em que uma dá a deixa para outra. Já viram o "diretório do pânico"? A extrema imprensa pega um assunto grave (a pandemia) e manipula números, imagens, informações, metendo pavor na população: só falta a música do Ayrton Senna para anunciar o número de mortos.

É nesse panorama que surge uma armadilha cognitiva, isto é, o falso dilema entre "salvar vidas" e "salvar a economia", como se a subsistência humana fosse possível sem a economia (chegam a chamar de ganancioso a quem aponta urgência em salvar a economia).

Em pânico, a cabeça de uns quantos vira uma esponja que absorve qualquer explicação para seu sofrimento, aceitando facilmente a ideia de que o governo é o maior (e até exclusivo) culpado pelas mortes da pandemia.

Na Revista Piauí (agosto, 2020), Martim Vasques da Cunha diz:

"Sem dúvida, um dos principais responsáveis pelas mortes no Brasil é o presidente Jair Bolsonaro (...)".

Por que seria ele responsável pelas mortes? Cunha não explicita, mas ajuda a criar a cortina de fumaça que tira visibilidade dos bilhões desviados da saúde por prefeitos e governadores corruptos. Sem dizer que Bolsonaro, nessa crise, teve as mãos amarradas pelo STF.

"Ah, mas nem ministro da saúde ele tem!", dizem. Tem, sim! Mas com status de interino, o que lhe tem sido útil: é que, meio esquecido pela oposição, o ministro acaba conseguindo trabalhar em paz.

Alguém aponta quantos óbitos o governo poderia ter evitado? Nalgum país foi possível evitar mortes? Nada! Mas, que importam os fatos?

Aí, na série das narrativas, vem uma que acusa Bolsonaro de genocídio.

Até Gilmar Mendes (ministro do STF) insinuou essa patacoada.

É a deixa para o CRPRS falar "Não ao genocídio!", mirando na mente esponjosa dos que absorveram a narrativa. A finalidade é óbvia!

Mas tem o CRPRS legitimidade para fazê-lo? É claro que não!

Ocorre que os conselhos de fiscalização profissional (como o CRP), dotados de personalidade jurídica de direito público, têm natureza jurídica de autarquia e exercem atividade tipicamente pública. Logo, eles não podem tomar partido contra nem a favor de governo algum.

Portanto, os diretores do CRPRS usaram meio ilegal para, em tom mais debochado que irônico, insinuar a existência de um crime que não houve.

Por mais críticas que haja à atuação de Bolsonaro frente à pandemia – e no Brasil, hoje, há liberdade para criticar -, imputar-lhe crime de genocídio é um ato tremendamente irresponsável, para dizer o mínimo.

Não gostar do presidente é do jogo democrático. Já aceitar que se lhe faça oposição de maneira truculenta é imaturidade ou coisa pior. Mais vale, pois, que psicólogos tenham olhos críticos para a atuação do CRP.

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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