A bomba relógio da INsegurança pública e a indiferença do STF aos riscos que suas decisões podem provocar a longo prazo
01/09/2020 às 15:00 Ler na área do assinanteEmbora impactante, a descrição do relatório da Polícia Civil encaminhada ao STF, semana passada, sobre o crime organizado no Rio de Janeiro, provocou pouca reflexão a respeito desse dado importante que pode gerar graves consequências ao país, especialmente aos projetos de combate à criminalidade no momento oportuno.
Segundo relatório, das 1.413 comunidades dominadas pelo crime organizado, 81% estão nas mãos dos traficantes e 19% com os milicianos.
São cerca de 56.600 criminosos soltos contra 22 mil policiais do efetivo de rua.
Diferentemente do que aconteceu em novembro de 2010, quando os traficantes atearam fogo em carros nas vias expressas e atiraram contra postos de policiamento ostensivo na cidade do Rio de Janeiro, que levou a polícia e as forças armadas a invadir o Complexo do Alemão, não está havendo mobilização dos criminosos contra as forças do Estado, apesar da aterradora diferença de efetivo armado e do momento fragilizado que se encontra o Rio de Janeiro com as crises políticas, jurídicas e sanitárias.
De acordo com o delegado Maurício Mendonça, do 38º DP (Brás de Pina), os traficantes “estão se aproveitando desse período para ampliar a dominação territorial pra áreas que antes não tinham a presença do tráfico de drogas”.
Além disso, os membros do Comando Vermelho estariam recebendo treinamento militar de mercenários vindos da África e Europa Oriental.
Talvez, as duras investidas que o governo federal tenha infringido contra o tráfico, fazendo apreensões recordes de drogas em todo o país, seja um dos motivos da aparente quietude por parte dos traficantes.
No entanto, isso não parece ter causado prejuízo significativo no seu poderio bélico: só o arsenal do Comando Vermelho, está estimado em 5 mil fuzis. Além disso, ele possui braços em outros estados como o Acre e o Amazonas somando cerca de 30 mil faccionados.
Tal comportamento talvez demonstre que algo bem maior e mais duradouro esteja sendo planejado.
À exemplo do que aconteceu quando da criação das Farc na Colômbia, é provável que um poder paralelo sofisticado e muito bem articulado esteja surgindo e ganhando força no país, o que poderá tornar muito mais difícil a recuperação do domínio da lei e da ordem, provocando um novo estado dentro do Estado.
Isso poderá causar justamente o oposto do que as atitudes do STF pretendia gerar quando inviabilizou as atividades da Polícia Militar nas comunidades do Rio de Janeiro.
Um derramamento de sangue evitável no futuro poderá ocorrer se nada for feito agora.
A sociedade precisa se mobilizar e cobrar do Estado uma postura mais efetiva diante dessa situação, antes que alguma lamentável fatalidade de repercussão nacional, ou até internacional, aconteça e provoque comoção que justifique a tal esperada resposta.
Considerando a complicada situação política do governo do estado, aliada a completa indiferença do STF aos riscos que suas decisões podem provocar a longo prazo, a bomba relógio está armada e o prejuízo poderá ser bem maior se as medidas não forem tomadas à tempo de reverter essa complicada situação enquanto ainda é possível fazer alguma coisa.
Alan Lopes