Professor é uma categoria profissional das mais importantes em qualquer sociedade. É no seu trabalho que está a base para a construção da civilização moderna. Falo isso com a maior tranquilidade, pois qualquer profissão, das mais técnicas até as ditas profissões liberais, passou pelos bancos escolares. Advogados, médicos, engenheiros, cientistas, só para citar alguns exemplos, tiveram atrás de si um mestre, que ensinou, orientou e mostrou os caminhos para o futuro. Infelizmente, com o tempo, raros são os que se lembram desses mestres como importantes em sua vida. Em resumo, nenhuma sociedade sobrevive sem uma boa educação e sem seus multiplicadores, sob pena de ficar frágil e dependente.
Porém, a educação em uma sociedade, independentemente de sua cultura, não passa apenas pela escola e pelo professor. A própria sociedade tem responsabilidades nesse processo como um todo.
O educador nem sempre tem o seu devido e merecido lugar. Desse modo, esta categoria do magistério profissional, em parte malformada e mal remunerada, se arrasta no campo da depressão e da desilusão, apesar de comumente ser uma vitrine para políticos e suas plataformas eleitorais. Isso porque na vida real, fora da escola, nas ruas, as coisas são muito mais complicadas e as relações humanas são preconceituosas, intolerantes e violentas. Na verdade, estamos assistindo o crescimento de gerações incultas e mal-educadas que não sabem conviver em sociedade e respeitar o seu próximo. Será que estamos retroagindo aos tempos da barbárie? Há um ex-presidente da república que se vangloria de não ter estudado, disseminando um triste exemplo para a juventude. Não creio, entretanto, que desqualificar nossas deficiências na educação e na sociedade atual seja uma solução plausível, nem tão pouco uma desculpa.
Um fator agravante na formação deficiente de uma grande parcela de professores é a interferência política e ideológica que vem ocorrendo, de forma preocupante, interferindo na formação crítica dos alunos, especialmente no que se refere às matérias das ciências humanas. Mas, este problema pretendo tratar oportunamente, por se tratar de algo muito sério e perigoso que vem ocorrendo nas escolas públicas, sob orientação do próprio governo vigente.
Outro dia fui a uma palestra na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e dois senhores conversavam mais alto que o palestrante falando ao microfone. Foi uma demonstração de deselegância e desconsideração que atrapalhava a plateia atenta ao assunto. Culpa de seus professores? É claro que não. É a sociedade que está se desconstruindo, perdendo valores humanos fundamentais. Agora, o que dizer de outros espaços, como shoppings, salas de teatro, de cinema, sem esquecer, é óbvio, das vias públicas. Há uma verdadeira guerra civil urbana nas nossas cidades e não existe somente o medo do confronto com o banditismo que assola o país, mas também experiências negativas com o cidadão dito normal. Começo a acreditar que anormais somos nós que pedimos licença, dizemos obrigado e bom dia a todas as pessoas que encontramos e ficamos prisioneiros em nossas casas, cercadas de cerca elétrica e de animais ferozes, com medo.
Mesmo com a hipocrisia e o falso moralismo contidos na antiga campanha de desarmamento, o que mais se vê hoje em dia é a exposição de armas de fogo pela bandidagem. O desarmamento conseguiu retirar do cidadão correto a sua arma, deixando em seu lugar uma sensação de insegurança sem precedentes. Além do mais, os bandidos hoje não têm um mínimo de humanidade: roubam carros com bebês dentro ou arrastam crianças até a morte hedionda. Estupram e matam jovens, idosos e crianças de modo bárbaro e indescritível, o que nos leva a crer que não são humanos.
Creio que a única opção para atenuar essa guerra é pela via da educação. Escola e cidadania são as chaves da educação formal e informal. A escola tem seu papel definido, embora nem sempre o cumpra. Já os valores e a cidadania precisam ser disseminados pela família, pelas igrejas e pelo conjunto de pessoas que formam uma comunidade, um bairro, uma vila. Se há grandes mudanças naquilo que tradicionalmente conhecemos como família tradicional, a coletividade deve ocupar um novo lugar e exercer um novo papel na formação de crianças, jovens e corrigindo os abusos de pessoas que não sabem viver em sociedade.
Uma pesquisa recente sobre a atuação dos professores recém-formados e iniciantes na carreira do magistério nas escolas públicas de São Paulo informa que muitos desistem da profissão sem chegar ao primeiro mês de trabalho, motivados pelas péssimas condições de trabalho, salas superlotadas e alunos sem motivação. Isso, sem contar com o somatório de agressividade e desrespeito, inclusive com agressões e violências contra os professores. Os choques que esses professores sofrem no confronto direto com esta dura realidade demonstram, também, que a formação do professor nas universidades está aquém da necessária para sua atuação nesses novos tempos de violência e barbárie.
Como esperar que o professor faça o milagre da transformação de crianças e jovens se nas ruas, em casa e em outros espaços que frequentam só há violência sob diversas formas?
Esse é o grande problema que temos pela frente.
Valmir Batista Corrêa
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Valmir Batista Corrêa
É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.