Lições do incêndio no Museu Nacional

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Em 2 de setembro de 2020, o incêndio no mais importante patrimônio histórico nacional completará dois anos. As suas causas e (a falta de) consequências dizem muito sobre a cultura política brasileira.

Desde 2003, quando a esquerda assumiu o Governo Federal e iniciou a transferência dos museus às universidades federais, o Museu Nacional teve três diretores, todos indicados pelos partidos ditos progressistas. Nenhum deles se preocupou em resolver os crônicos problemas de segurança.

Muito ao contrário, o risco foi agravado quando o último andar do prédio passou a receber aulas de pós-graduação e servir de arquivo para o material usado. Ainda foi improvisado um sistema de ar condicionado para as salas de aula, exatamente o que gerou o incêndio, aumentado pelas toneladas de papel. Bom lembrar que para o público não havia ar condicionado.

Somente quando o prédio histórico foi devastado pela irresponsabilidade de seus gestores, soubemos que não faltaram recursos, pois as transferências do governo federal à UFRJ haviam crescido de 2,6 bilhões de reais em 2014 para 3,1 bilhões em 2017. No mesmo período, apesar de ser o Reitor do mesmo grupo político, os recursos repassados pela Universidade ao museu caíram de 163 mil reais em 2014 e 2015 para 26,4 mil em 2017 e quase nada em 2018.

Como se não bastasse, também descobrimos que o Museu Nacional recebia mais de 180 mil visitantes por ano, que pagavam ingressos entre 4 e 20 reais, mas a receita não era contabilizada. Era suficiente para manter adequadamente as estruturas elétrica e de proteção contra incêndios.

Em nenhum momento o Reitor da UFRJ ou o Diretor do Museu vieram a público se desculpar, explicar a tragédia ou, ao menos, renunciar. Nossa grande imprensa também não cobrou explicações. Sem surpresa, o Diretor se mantém até hoje em um cargo sem atribuições, como se nada tivesse acontecido.

Esse triste enredo evidencia as duas principais características da esquerda brasileira: o elitismo e a leviandade.

Os recursos da Universidade, oriundos dos sofridos contribuintes, deveriam ser destinados à sua atividade fim, que é o ensino, por meio de investimento em estrutura. Contudo, foram quase inteiramente consumidos pelo inchado quadro de pessoal, ideologicamente loteado.

Como não poderia deixar de ser, faltaram recursos para pesquisas relevantes e para manter os prédios. Sobraram desleixo com o patrimônio público e desrespeito ao contribuinte e à nação, que perdeu parte de sua história e não recebe os profissionais que precisa em razão do desperdício de recursos.

Fernando Lemme Weiss. Advogado, mestre e doutor em Direito Público pela UERJ.

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