A formidável evolução de Max Eastman: De revolucionário socialista a conservador intransigente
13/08/2020 às 13:46 Ler na área do assinanteMax Eastman (1883-1969) foi um ensaísta, intelectual e comentarista político americano, conhecido em sua juventude por ter sido um inveterado e enérgico proponente do socialismo. No entanto, depois de passar quase dois anos na União Soviética — durante o alvorecer da revolução bolchevique — Eastman mudou radicalmente de opinião, e passou a combater ardorosamente tudo aquilo que antes defendia.
Eastman nasceu em 1883 em Canandaigua, no estado de Nova Iorque. Desde a sua juventude, identificou-se com a esquerda política — que estava em ascensão pelo mundo — e passou a associar-se com diversos intelectuais e autores que compartilhavam de suas crenças. Sua irmã, Crystal, um ano e meio mais velha, ficaria conhecida como uma renomada jornalista, famosa por militar em benefício do socialismo e do feminismo. Crystal infelizmente faleceu precocemente, aos 47 anos, em julho de 1928.
Na década de 1920 — período da ascensão dos bolcheviques —, Eastman teve a oportunidade de visitar a União Soviética, então o epicentro do socialismo mundial. As expectativas eram elevadas, muitas pessoas realmente acreditavam que o socialismo poderia mudar o mundo. Eastman teve a oportunidade de passar quase dois anos no que era então a maior nação do mundo, e decepcionou-se completamente. Algo muito similar aconteceu mais ou menos na mesma época com a escritora brasileira Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, que depois de visitar a União Soviética, decepcionara-se profundamente com o comunismo.
Quando tomou conhecimento das campanhas de genocídio, dos expurgos stalinistas e da ferrenha luta pelo poder que ocorria entre Stálin e Trotsky, Eastman passou a refletir de forma contundente sobre o que era, de fato, o socialismo. Depois que Trotsky fora assassinado no México por Ramón Mercader, em 1940, Eastman assumiu sua desilusão e seu amargo desapontamento para com a ideologia, mudando radicalmente suas convicções políticas.
Eastman, que já havia redigido e publicado inúmeros tratados sobre socialismo e revolucionários socialistas — como Desde que Lenin morreu e Marx e Lenin: A Ciência da Revolução, entre muitos outros — tornara-se um antissocialista convicto, que passou a denunciar de forma sistemática o totalitarismo, bem como todas as desgraças e arbitrariedades inerentemente arraigadas ao socialismo.
Eastman, no entanto, foi mais além. Tornou-se também um ardoroso defensor do livre mercado, ao perceber como este sistema dinâmico e descentralizado torna todo o tipo de riquezas acessíveis aos mais pobres, como nenhum outro sistema é capaz de fazer. Quanto mais estudava, mais Eastman afastava-se do socialismo, e com mais convicção difundia — sempre de forma veraz e pungente — as terríveis, lancinantes e dramáticas verdades sobre esta ideologia tirânica, assassina e escravagista. Seu ensaio Reflexões sobre o fracasso do socialismo tornou-se uma importante referência acadêmica sobre o tema.
Eastman amadureceu e reconheceu quão equivocado ele estava, como poucas pessoas são capazes de fazer. Sua humildade permitiu a ele reconhecer o seu erro. Até porque Eastman viveu sua juventude no início do século 20, quando o socialismo ainda não havia sido colocado em prática, e todas as promessas e expectativas estavam voltadas para esta ideologia, que alardeava ser a cura para todos os males da humanidade.
Assim que o socialismo foi colocado em prática, no entanto, Eastman escolheu não fazer vista grossa para a brutalidade, a violência e a degradante tirania que revelaram-se elementos inerentes deste cruel, opressivo e autoritário sistema. É natural estarmos equivocados na juventude. Deplorável é persistir no erro.
Evoluir faz parte da natureza humana. Max Eastman merece ser lembrado como um indivíduo que não permitiu que o orgulho, a arrogância e a soberba falassem mais alto, como é tão comum em militantes de seitas políticas, que normalmente são profundamente intransigentes em suas convicções; pois, via de regra, priorizam ideologias ao invés de seres humanos.
Max Eastman morreu em março de 1969, aos 86 anos de idade, na ilha de Barbados.
Wagner Hertzog