Lula por Lula: “um merda de um metalúrgico" (Vídeo)
04/03/2018 às 10:50 Ler na área do assinanteLula é nas Preliminares uma piada; no Mérito, um perigo.
Certa feita, logo após ser conduzido coercitivamente pela Polícia Federal, na TVT (TV do Trabalhador), ele palestrou sobre si próprio. Asseverou que o ódio que desperta 'neles' é o fato de um merda de um metalúrgico ter chegado a Presidência da República. Disse sentir-se magoado, desrespeitado e prisioneiro. Pediu desculpas à Marisa e seus filhos e amigos. Criticou o Judiciário, o Ministério Público, a imprensa e, principalmente, o Juiz Sérgio Moro pelo fato de ter sido conduzido coercitivamente à presença do Delegado Federal encarregado de colher o seu depoimento. Frisou que jamais se furtou a atender as autoridades judiciárias, excetuando o caso com o Ministério Público de São Paulo, quando se recusou a comparecer à presença do promotor Conserino, por considerar que o MP paulista era incompetente para investiga-lo.
Naquele dia, Lula, mais uma vez, se disse perseguido pelas elites por que “eles não aceitam que o pobre passe para o andar de cima”. Adiante, passou a proclamar a velha e desgastada estória de sua trajetória de sorte, como ele próprio classifica. Disse (não necessariamente nessa mesma ordem e quantidade): “minha primeira sorte foi ter sobrevivido” à realidade do lugar onde nascera, quando as crianças não passavam do quinto ano de vida; “a segunda sorte foi conseguir um diploma escolar”; “a terceira sorte fundar um partido”; “a quarta ser Presidente”. – Em resumo, é um homem de sorte”.
E continuou:
Disse que é o melhor palestrante do mundo, melhor que todos os ex-presidentes juntos. Disse que cobra caro pela palestra, “mais até do que cobrava Clinton (ex-presidente americano”).
Lula provou mais uma vez sua boa capacidade retórica, embora carecesse do que realmente importava: sobre os fatos concretos nada tratou.
Se dizendo vítima e sentindo-se provocado convocou todos os movimentos sociais e o próprio Partido dos Trabalhadores, na pessoa de Rui Falcão, à reconstrução da luta da agremiação que ajudou a fundar. Encerrou dizendo: “deram uma paulada na jararaca, mas não acertaram a cabeça, acertaram o rabo e a jararaca tá mais viva do que nunca”.
Em rápidas e resumidas palavras foi essa a autodefesa de Lula que revela a sua revolta por ser alvo de investigações e entender-se desrespeitado.
Vamos considerar, por algum momento, entender justificáveis as reclamações do ex-presidente, em parte, enquanto homem. Mas, fato é: ele é um investigado de relevância justamente por ter sido, por dois mandatos, o Chefe de Estado e do Governo brasileiro.
Lula, mais do que ninguém, deveria comportar-se de modo republicano. Se é que é inocente como diz ser, mais ainda se faz necessária essa condição diante dos fatos que atingem, não só a ele, mas a todos indistintamente.
O que Lula parece não entender é que os comportamentos criminosos que se deram, tanto no âmbito público como privado, são extremamente graves para o Brasil e o seu povo. Não à toa, vivemos o que vivemos hoje.
O ex-presidente não pode ignorar que o que se desvela até aqui revela que a corrupção impregnou-se, profundamente, em algumas agremiações partidárias e em várias instituições do Estado, além de, revelar também a confusão entre as coisas públicas e privadas quando estão envolvidas empreiteiras nacionais estreitamente relacionadas com o Estado e o Governo.
Agentes públicos e particulares, em sodalício, construíram um modelo de assalto ao Estado de tal forma a torna-lo refém de interesses pessoais em detrimento do bem público.
Tudo o que até aqui revelado – desde o episódio “Mensalão” até o “Petrolão” – denuncia um modelo de governabilidade com o aparelhamento do Estado capturado por uma organização criminosa.
Com elevado grau de perfeição, o Ministro Celso de Melo, em seu voto no inquérito 3983/DF que decidiu pelo recebimento da Denúncia apresentada pelo Procurador-Geral da República contra Eduardo Cunha Presidente da Câmara Federal, disse:
“(...) Daí a corretíssima advertência do eminente Professor Celso Lafer, para quem nenhum cidadão poderá viver com dignidade numa comunidade política corrompida:
‘Numa república, como diz Bobbio num diálogo com Viroli, o primeiro dever do governante é o senso de Estado, vale dizer, o dever de buscar o bem comum, e não o individual, ou de grupos; e o primeiro dever do cidadão é respeitar os outros e se dar conta, sem egoísmo, de que não se vive em isolamento, mas sim em meio aos outros.
É por essa razão que a República se vê comprometida quando prevalece, no âmbito dos governantes, em detrimento do senso de Estado, o espírito da facção voltado não para a utilidade comum, mas para assegurar vantagens e privilégios para grupos, partidos e lideranças (...).
Numa república, as boas leis devem ser conjugadas com os bons costumes de governantes e governados, que a ela dão vigência e eficácia. A ausência de bons costumes leva à corrupção (...), que significa destruição e vai além dos delitos tipificados no Código Penal. (...) A corrupção, num regime político (...), é um agente de decomposição da substância das instituições públicas.
O espírito público da postura republicana é o antídoto para esse efeito deletério da corrupção. É o que permite afastar a mentira e a simulação, inclusive a ideológica, que mina a confiança recíproca entre governantes e governados, necessária para o bom funcionamento das instituições democráticas e republicanas (...)”.
Por fim, o berreiro de Lula nunca interessou ao mundo jurídico nem, tampouco, aos fatos criminosos que foram se confirmando a cada dia. E se Lula não tivesse qualquer envolvimento com quaisquer delitos não deveria ter se preocupado, nem muito menos ter se sentido ofendido pela coerção a que se submeteu. Que lhe fique claro, definitivamente, que, nem ele nem ninguém está acima da lei.
Posso até entender a revolta que sentiu por ser conduzido de forma coercitiva, posto que, eu próprio tenho como uma exceção que exaspera em muito o que se tem por mais normal, ou seja, querendo a autoridade competente ouvir qualquer pessoa, deve, em princípio, marcar local, data e hora, intimando-a; não comparecendo, que se leve à presença da autoridade coatora conforme os ditames legais.
De todo modo o Lula pós-presidência, que se autoproclama a viva alma mais honesta do Brasil, submeteu-se ao rigor legal e reagiu. O avanço e o amadurecimento das investigações demonstraram que a costumeira sorte parou de lhe sorrir.
E para o seu espírito, e a mansidão da alma de seus asseclas, lembro Nietzsche: “Uma alma que sabe que é amada e que não sabe corresponder ao amor manifesta a sua origem: o que nela estava sepultado abaixo da superfície”.
JM Almeida
João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas.