Como a mentalidade socialista corrompeu nossas instituições
26/07/2020 às 16:30 Ler na área do assinanteUm dos temas mais abordados nos dias que correm refere-se inquestionavelmente à “liberdade de expressão”. Junto a ele encontramos outros de igual importância, como “justiça” e “prosperidade econômica”.
Mas, perguntemo-nos: por que urge colocarmos em discussão tais ideias?
Com efeito, creio que importa discuti-las porque elas estão evidentemente em crise.
Por que em crise?
Ora, porque tais ideias (“liberdade de expressão”, “justiça” e “prosperidade econômica”) não subsistem por si mesmas. Tal como ocorre com outros valores, elas carecem de instituições que as protejam e fomentem. Quando tais instituições ou as abandonam ou as violam temos, então, problemas como os que enfrentamos hoje, em que tais ideias estão sob violenta ameaça.
Mas, o que jaz por detrás dessa crise?
Coloquemos a resposta a essa questão de forma direta: subjaz a essa crise a corrupção de nossas instituições por uma mentalidade socialista que corrompe tudo aquilo que toca.
Vejamos exemplos concretos: que ocorre quando a mentalidade socialista (coletivista) se infiltra na economia, seja mediante a planificação econômica (contrária a uma economia de mercado focada no indivíduo) seja mediante a promoção de medidas como a do isolamento social?
Com efeito, o resultado é sempre o mesmo: miséria. Um exemplo paradigmático do que ocorre quando a mentalidade socialista toma a política e a economia ocorre na outrora pujante Venezuela, a qual foi, algumas poucas décadas atrás, pasmem, um dos países mais ricos da América latina.
Hoje, segundo um estudo da Universidade Católica Andres Bello (UCAB), 96% da população venezuelana vive na pobreza. Um exemplo dramático da miséria em que vivem os venezuelanos (similar ao que sofrearam as vítimas seja do Holodomor ucraniano seja do Holodomor chinês): enquanto no Brasil o cão é um estimado animal de estimação, na Venezuela ele se tornou reserva alimentar. E a perspectiva é de agravamento da situação em 2020 (e, lembremo-nos, tanto no Holodomor ucraniano quanto no chinês abundam relatos de canibalismo).
E, além do terrível problema humanitário da pobreza mesma, há suas colateralidades: aumento nos índices de violência, crises sanitárias e de saúde, perda de perspectiva quanto ao futuro, suicídios, apenas para nomear algumas das colateralidades da pobreza. Assim, a política e a economia, que deveriam estar designadas para a prosperidade, quando corrompidas pela mentalidade socialista levam ao seu oposto, à miséria.
Algo similar ocorre nesse momento com as medidas de isolamento social, as quais têm sido defendidas e fomentadas também pela mesma mentalidade socialista. Segundo dados recentes (16/07) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 716 mil empresas já fecharam desde a imposição ditatorial e infundada, por prefeituras e estados, do isolamento social e consequente estagnação da atividade econômica, a qual levou milhões de pessoas a perderem seus empregos nos últimos meses.
Ou seja, são milhões de indivíduos, de pessoas, sendo levadas à miséria e à caridade seja do estado seja de instituições caritativas. Que ocorrerá quando lhes faltar a caridade?
E quanto à “justiça”, que ocorre quando a mentalidade socialista corrompe nossas instituições jurídicas? Ora, também aqui temos uma perversão e vilipêndio da justiça mesma.
Ativismo jurídico em defesa da agenda da esquerda (pró-aborto e pró liberação do uso recreativo de drogas, por exemplo), criminosos livres (vitimização do criminoso), políticos corruptos (também criminosos) usufruindo livremente de sua riqueza roubada, violação de liberdades fundamentais, etc. Essas são apenas algumas das colateralidades oriundas da corrupção do judiciário pela esquerda.
E quanto à “liberdade de expressão”? Algumas instituições deveriam ser protetoras da liberdade em suas diversas formas. Mesmo o judiciário deveria assegurar, por exemplo, a inviolabilidade “da liberdade de consciência e de crença”, bem como a “livre expressão”.
No entanto, estarrecedores exemplos recentes nos mostram a imposição da censura por parte de uma instituição (judiciário) que deveria justamente proteger aguerridamente tais liberdades.
Não obstante, não é apenas o judiciário que traiu sua vocação originária à defesa e proteção da liberdade. Outra instituição que deveria ser o centro da liberdade, da busca pela verdade, a universidade, afastou-se também de seu propósito mais fundamental, a busca pela verdade, a qual passa, obviamente, pela liberdade.
Mediante a liberdade estamos em condições de avançar na busca pela verdade. No entanto, a universidade, hoje, também foi corrompida pela mesma mentalidade socialista, de esquerda, que corrompeu as demais instituições acima citadas.
Hoje vige aquilo que costumo chamar de “modelo socialista de gestão universitária”, um modelo obviamente destinado ao fracasso. Hoje a universidade não apenas abandonou sua vocação originária à verdade: ela abandonou a liberdade, cerceando todo aquele que não esteja alinhado com sua ideologia torpe.
A esquerda assumiu uma espécie de presunção de infalibilidade, impedindo o exercício da liberdade em seus Campi.
Vou me eximir de me alongar sobre esse ponto. Deixarei aqui um vídeo (“Há liberdade na universidade”) em que abordo justamente esse tema:
Carlos Adriano Ferraz. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutor em Filosofia pela PUCRS, tendo sido estudante visitante na Universidade estadual de Nova York (SUNY). Foi Professor visitante na Universidade Harvard, no programa de pós-graduação em filosofia. É professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) desde 2005, atuando na graduação e na pós-graduação, onde orienta dissertações e teses em ética e filosofia política, com foco no direito natural e no liberalismo clássico. É membro do DPL nacional e diretor do DPL/RS.