Se você acredita que uma coisa é verdadeira, ela será verdadeira em suas consequências comportamentais: se eu acredito que meu prédio está pegando fogo, eu vou levantar, correr, lançar-me pela janela, enfim, farei de tudo, darei qualquer jeito, para fugir do prédio em chamas.
Se o prédio estiver pegando fogo de verdade, tudo isso pode valer a pena; mas se a minha crença é falsa, a minha fuga destrambelhada traz mais risco à minha saúde do que o próprio fogo que, nesse caso, é ilusório. É por isso que é sempre necessário verificar, e re-verificar, o modelo da realidade que adotamos e que guia a nossa ação.
O antibolsonarismo é um modelo da realidade: segundo esse modelo, o governo Bolsonaro representa um perigo à democracia maior que outros governos que tivemos e, assim, é preciso uma vigilância mais alerta, uma crítica mais incisiva do que o normal. Até aí, tudo bem; todo poder corrompe, todo governo traz riscos de tirania, e portanto vigilância desse tipo nunca é demais.
O problema é o antibolsonarismo psicótico, que ultrapassa e muito o mero estado de alerta e torna o portador uma pessoa histericamente obcecada com a figura do Bolsonaro como sendo a única fonte possível de problemas do país. Bolsonaro é Thanos, Voldermort etc., e não há problema maior que ele, e não há fatos que me façam mudar de opinião. (Aliás, chegou aqui cheio de interpretação e nuance? Quer debater isso a sério? Então você é bolsominion! Odeie Bolsonaro, logo exista; ou caia fora).
Essa psicose tem dois componentes: primeiro, como um prédio pegando fogo, o antibolsonarista psicótico acredita que o incêndio é a única ameaça imediata que ele enfrenta; e segundo, como a ameaça lhe parece épica e terminal (o confronto final do Bem contra o Mal), diante de tal ameaça, qualquer tipo de arma é válida.
E assim como o sujeito que teme tanto o incêndio imaginário que ele se lança pela janela da cobertura e acaba se matando por causa da alucinação, o antibolsonarista psicótico pensa que deve usar de todas as forças, mesmo as anti-democráticas, para acabar com a ameaça bolsonarista.
Daí temos essa lógica absurda de acreditar que, para impedir que Bolsonaro destrua a democracia, é preciso acabar com ela antes; de acreditar que é preciso distorcer, mentir, calar, censurar jornalistas e influenciadores que ousem apoiar esse governo incendiário fascista.
Há movimentos de resistência que se tornam piores do que aquilo contra o qual resistem. O antibolsonarismo psicótico já se mostra assim faz tempo; quem acusava os outros de intolerância, de tatuar suástica pelas ruas, de querer construir campos de concentração para extermínio de minorias, enfim, quem chamava os outros de anti-democráticos são os que, hoje, aplaudem o STF em seu auto-da-fé contra a direita.
Nunca é tarde para acordar: a república é coisa complexa, com muitas instituições, interesses e conflitos, e as ameaças à liberdade podem vir de todos os lados, inclusive do STF. Você só precisa decidir se mantém esse seu casamento com a histeria, ou se revê o seu modelo da realidade em meio a esse incêndio imaginário de que você tanto foge.
Gustavo Maultasch de Oliveira. Diplomata.