A soberba não cabe dentro de um tubo de ensaio!

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Li hoje, um excelente texto de um conceituado infectologista, em síntese, criticando com elegância recheada de pitadas de arrogância, todos quantos adotam o que o autor chama de “irracionalidade” do dito “tratamento precoce” dos acometidos pelo COVID-19 com “coquetéis” de drogas diversas como a cloroquina, azitromicina, zinco, vitamina D, ivermictina, nitazoxanida, anticoagulante e corticoide.

Cita já na abertura “Cobb, o personagem de Leonardo DiCaprio, em A Origem, dizendo que “a coisa mais infecciosa que existe não é um vírus ou parasita, é uma ideia. Uma vez que ela se instala em sua mente é quase impossível removê-la”. Concluí que “há algo ainda potencialmente mais perigoso: apaixonar-se por uma ideia”; já que, segundo o autor, “a paixão por uma ideia faz com que as pessoas rejeitem de imediato toda e qualquer evidência que contrarie o conceito básico”.

Sustenta em longa e bem urdida argumentação que essas condutas não passam de meras aventuras, levadas a efeito e sendo aplicadas sem eficácia comprovada e com possibilidade real de efeitos adversos.

Em síntese alega que os pacientes que tomaram esses “coquetéis” e melhoraram, também ficariam curados sem medicação alguma, pois, segundo ele, “80% dos pacientes vão evoluir de forma assintomática ou leve, e 95% das pessoas não precisam hospitalização e menos de 1% morrem”.

Por fim, faz referência direta ao efeito Dunnig Kruegger que “demonstrou na década de 90 que quanto menos um indivíduo conhece sobre determinado assunto mais ele tem convicção sobre sua sapiência no ramo”; com o “inverso também sendo verdadeiro, quanto mais especialista no assunto, mais cauteloso o indivíduo é em suas afirmações”.

A análise dialética do texto escrito com muita classe e com pitadas de fina ironia, não deixa dúvidas que o seu autor, tangencia a intenção de invocar – legitimamente (mas não sem certa pretensão) para sua especialidade a hegemonia primordial e quase que exclusiva do saber científico sobre essa “nova” forma do vírus ainda tão cheio de mistérios.

Em certo tempo da escrita afirma que houve o “falecimento da Cloroquina, derrotada por um sem número de estudos científicos demonstrando sua ineficácia seja como prevenção, em uso precoce ou uso tardio”.

A aparente lógica do texto é ilógica. Parte de axiomas que não fecham e não levam a conclusões que possam ser tidas como verdadeiras. Primeiro porque o autor é que está apaixonado pela própria ideia do “não vai dar certo” sendo ele sim, totalmente preconceituoso com o novo. Despreza a história e a descoberta da eficiência de inúmeras drogas pela simples observação empírica dos fatos.

O próprio quinino (base da cloroquina) para tratar malária está aí para provar os fatos (basta ler sobre o assunto e a história do lago perto da árvore).

Depois, despreza uma tendência mundial – ainda muito contestada é verdade – da medicina baseada em evidências. Nesse ponto, afirma a morte da Cloroquina e o um “já não deu” para o tratamento precoce do COVID, quando estudos sérios apontam, ainda em fase incipiente, exatamente em sentido contrário.

Por fim, constrói seu raciocínio sobre um axioma equivocado quando afirma a contundência dos efeitos colaterais dos “coquetéis” esquecendo o princípio do “menor prejuízo ao paciente” e praticando exatamente o que combate: a falta de evidências científicas claras desses efeitos colaterais “graves” para administrações em baixas doses.

Também esquece da liberdade “off label” ante a ausência de terapia fundada em protocolo seguro.

Por fim, ao defender a supremacia da sua importantíssima especialidade, esquece que ela não detém o monopólio do saber científico e que a medicina é uma ciência sistêmica, assim como sistêmico e misterioso é o corpo humano.

E mais, despreza o fato que muitos cientistas com conhecimento em vírus de várias especialidades validam (na ausência de outro protocolo) o tratamento precoce.

E só para não perder a vazada, indago em minha santa ignorância confessa: que estudos científicos embasam o uso da máscara para evitar a contaminação einh?

Se for infectado, eu quero tomar o “coquetel”.

Prefiro isso que o risco que morrer sem tentar.

Será que o referido doutor em situação igual não faria o mesmo?

Para encerrar, lembro-me de um dos mais belos textos que já li na vida, que a é Encíclica de João Paulo II “Fides et Rátio” na qual afirma que ciência e fé são linhas do pensamento que se completam e se enobrecem reciprocamente. E que embora andem paralelas, se tangenciam no infinito.

Nada mais devastador para a esperança de um ser humano doente do que um médico que não crê e busca por vias do relativismo, aplacar a fé. Pois no fim é a fé que remove as montanhas. Sem deixar de salvar como tantas vezes já fez e fará!

Foto de Luiz Carlos Nemetz

Luiz Carlos Nemetz

Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista. @LCNemetz

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