A digitalização social - Parte III: A Guerra que ja começou

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A Guerra que já começou e você certamente, vai ter que lutar!

Aviso Importante: esse texto tem cerca de 2.600 palavras e 5 páginas de Word (assim como os dois anteriores já publicados e disponíveis no JCO e que recomendo ler). Se não gosta de textos longos, pare agora, deixe para ler num momento mais tranquilo (ou leia em etapas). Mas acredite que o seu conteúdo pode ter um impacto importante na sua vida e na luta que citei e que explicarei melhor no texto.

Criou coragem? Então vamos juntos...

Como diria o grande “Wendell Carvalho”: este é para os fortes #paraosfortes

Quando me propus a escrever este ENSAIO, tomei uma decisão sobre a qual já vinha pensando e estudando ao longo de mais de 20 anos (dos mais de 30 que acompanho o universo digital e seu impacto na sociedade). Me refiro sobretudo à internet e às redes sociais, um fenômeno que vi nascer, do qual participei de construção e que de forma acelerada foi impactando o comportamento, os relacionamentos e a vida de toda a humanidade, por mais que um conjunto de “possíveis” barreiras, em sua maioria culturais, mas também ideológicas e tecnológicas, pudessem ser um imenso desafio a se vencer...

Não foi! Veio como uma “tsunami”, tomou conta da sociedade e segue, de forma avassaladora... só Deus sabe onde vai parar!

O fato é que a partir de 1989, quando a web/internet passou a ser “oferecida aos cidadãos comuns”, era estabelecida uma espécie de “Nova UTOPIA”: a da integração dos povos; acesso ao conhecimento e ao compartilhamento, desse conhecimento com benefícios para todos. Enfim: o surgimentos do embrião de uma sociedade Global onde pela própria propagação exponencial do conhecimento e valores compartilhados, seria produzida a “argamassa” que nos permitiria construir uma nova sociedade mais integrada (uma espécie de Perestroika Universal), “consciente” e “engajada” na solução dos imensos desafios da Globalização que expuseram flagrantemente todas as mazelas e desigualdades do mundo.

Mas é notório observar que as UTOPIAS que representam um ambiente perfeito/ideal para o desenvolvimento de uma sociedade ideal e perfeita, representam ideais, que na maioria das vezes desembocam em DISTOPIAS TOTALITÁRIAS que são a sua antítese, como é o caso, por exemplo o da “Raça Ariana” que culminou com o NAZISMO, um dos maiores Genocídios da nossa história ou do “MARXISMO/COMUNISMO” onde o “Estado perfeito” como provedor, levou quem o adotou ao cometimento de crimes que exterminaram mais de 100 milhões de pessoas ao redor do planeta. Esse “mundo ideal” preconizado pelos “comunistas” só foi perfeito para os detentores do poder, nunca para a população que não passou de “massa de manobra” para os objetivos funestos desses regimes.

UTOPIAS E DISTOPIAS: A DIGITALIZAÇÃO SOCIAL E A SINISTRA SIMILARIDADE

Ao final da Parte II, deixei como uma espécie de “dever de casa”, tomar contato com três DISTOPIAS que são fundamentais para se compreender do que estávamos falando afinal, quando falávamos de um processo de DIGITALIZAÇÃO SOCIAL: onde as REDES passam a fazer parte de um MECANISMO que vai DIGITALIZANDO A HUMANIDADE, onde as pessoas são convertidas apenas em mais UM NÚMERO e, à partir de um MODELO DE EQUALIZAÇÃO, passam a ser conduzidas, por esses MECANISMOS na direção dos interesses deles.

Essas distopias foram posicionadas em forma de resenhas, nos links:

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO (Em 1932 por Aldous Huxley)

FAHRENHEIT 451 (Em 1953 por Ray Bradbury)

1984 (Em 1959 por George Orwell)

Não incluí intencionalmente, uma quarta Distopia, que é na verdade considerada a “mãe” das outras distopias que se seguiram foi o livro “NÓS” (de Ievguêni Zamiátin em 1920) o que faço agora e assim, falamos de 4 Distopias fundamentais e não três.

NÓS, escrita por Zamiátin, que é ambientada na Ex-União Soviética, foi inspirada na experiência do autor, nascido na Rússia, e relaciona-se às Revoluções de 1905 e 1917 o que levou a obra a ser proibida à época, pelo Regime Comunista Soviético. Com base nisso, foi publicada nos EUA como “WE” em 1924 e somente em 1988 em tempos de Perestroika (Glasnost), foi finalmente publicado na sua terra natal, já num contexto bastante desconfigurado, mas ainda válido e aberto à reflexão.

Porque essa obra é fundamental (recomendo ver a resenha) para entender o contexto no qual pretendo discutir a DIGITALIZAÇÃO SOCIAL?

Simples:

  • A incrível semelhança, guardadas as proporções e linguagem, da sociedade apresentada em sua obra e a RÚSSIA de hoje do Sr. Vladimir Putin, onde o regime é “preservado”, sem oposição e num processo eleitoral no mínimo estranho, para dizer o mínimo. Mas vejam e tirem suas próprias conclusões...
  • Todas as distopias a partir de 1924, foram influenciadas pela Obra NÓS, a começar por ADMIRÁVEL MUNDO NOVO e principalmente por 1984 (lembrando que em 1920 não tínhamos a mídia televisiva). George Orwell fez inclusive uma resenha sobre esta obra de Zamiátin, o que revela o quão importante ela teria sido para ele e sua própria obra (1984 e também a Revolução dos Bichos).
  • As Distopias foram trazidas à tona por estarem associadas a movimentos bem atuais que representam modelos de manipulação e que acreditem, estão sendo associados à eleição de representantes ditos de “EXTREMA DIREITA” (que é como a ESQUERDA costuma rotular a DIREITA) e que tem seu representante máximo em Donald Trump nos EUA.

Sobre esse último ponto, o célebre “case” de como as eleições foram impactadas pelo “Projeto Álamo” que incluiu estrategicamente a intervenção da empresa CAMBRIDGE ANALYTICA (a mesma que conduziu plebiscito do Brexit e outras quantas eleições ao redor do mundo) na condução da Campanha à partir das REDES SOCIAIS, o que resultou inclusive num documentário chamado PRIVACIDADE HACKEADA onde o poder das REDES se materializada de forma impressionante (mesmo que seja importante alguma curadoria, uma vez que o documentário parece ser uma obra feita por Democratas, que representam, como citei, a esquerda nos EUA, ou seja, os adversários ferrenhos dos Republicanos, portanto).

Mas sobretudo, é fundamental perceber que na distopia NÓS, mesmo que tenhamos a figura do ESTADO PROVEDOR, ela só acontece em razão da “mecanização do ser humano” (na época associada ao Taylorismo) o que hoje poderíamos chamar de “digitalização do ser humano” (associado às Redes Sociais). Nessa sociedade “ficcional” (?), as pessoas são NÚMEROS e sua rotina e ações são “gerenciadas pelo Estado”, como forma de estabelecer uma sociedade perfeita: sem dor, disputas, inveja e ao fim, uma sociedade “artificial” onde as emoções são “sublimadas” como em “Fahrenheit 451” onde essa condição é estabelecida por uma droga sintética que é uma espécie de “elixir” da felicidade, um antidepressivo que evita o “desprazer”.

O que pode ser mais UTÓPICO que uma sociedade sem dor e onde as pessoas são felizes o tempo todo? O fato de que não somos robôs e dor e prazer são partes de nós, de nossa construção e daquilo que nos edifica e nos faz melhor ou pior: uma sociedade sem liberdade e livre arbítrio é certamente uma DISTOPIA.

A DISTOPIA DIGITAL EM CURSO

Há gente que acredite nesse mundo ideal e/ou se omita de “pensar” ou mesmo de “observar” o que se encontra em curso numa sociedade absolutamente conectada e digitalizada (Algo que alertei em artigo que fala da vida pela janela dos smartphones, principalmente dos jovens hiperconectados).

Quando analisamos o “case” (um dentre milhares possíveis) “CAMBRIDGE ANALYTICA” temos uma dimensão e uma visão de proporção do potencial manipulativo e de como as “liberdades preconizadas pela UTOPIA DA WEB” estão, a cada dia, mais próximas de uma visão DISTÓPICA com base no potencial manipulativo das redes por “organizações GLOBALISTAS OU LOCALISTAS” que, com muitos recursos $$$ e poder (capacidade de influência local e global) podem conduzir as pessoas por caminhos tortuosos, principalmente uma grande massa de vulneráveis.

No “case Cambridge Analytica” é possível ver como o FACEBOOK permitiu o vazamento de dados dos perfis de 36 milhões de pessoas o que permitiu à Cambridge utilizar tecnologias (mineração de dados) e inteligência artificial capazes de estabelecer, como foi citado, mais de 5.000 pontos de monitoramento de um único perfil. A partir disso, toda comunicação representada por “conteúdos” especialmente direcionados a cada um, e levando em conta uma análise profunda sobre sua personalidade; hábitos; relacionamentos; comportamento (efetivo e com base em inferências lineares e não lineares) e por aí, passavam de forma sutil, a “influenciar” suas posições e que inclusive, passavam a ser “compartilhadas” por esses perfis.

Segundo o “case”, uma criança nascida na era digital, poderia chegar aos 18 anos à absurda possibilidade de ter 70.000 pontos de monitoramento: ou seja, seria cada vez mais possível interferir no seu pensamento e na sua visão de mundo. Alguma similaridade com as DISTOPIAS que apontei como referência de leitura?

Não é difícil imaginar que apenas numa simples definição de tecnologias 5G estaríamos discutindo por qual tecnologia poderíamos estar sendo invadidos em nossas privacidades e a partir dessas invasões, como a tecnologia eleita estaria pronta a nos manipular de uma forma absoluta e indefensável? Parece teoria da conspiração, não é? Avalie, reflita...

Ou vocês têm alguma dúvida sobre o que tem sido feito pelo PCC na CHINA, a partir da telefonia celular?

O PROCESSO DE MANIPULAÇÃO NO BRASIL

No Brasil vimos acontecer em Governos Progressistas (desde a Social Democracia (Progressista) de FHC até o Lulopetismo de cunho Progressista Marxista) onde a educação foi aparelhada e “cabeças foram e vêm sendo feitas há quase duas décadas) onde os jovens foram “doutrinados” ao invés de educados o que, fica bem visível, considerando o estágio de “desqualificação” atingido pelos alunos atualmente (basta ver os resultados do PISA). Ou seja, os investimentos em educação feitos pelos governos petistas que apresentaram entre 2008 a 2013 uma evolução de 66 Bilhões para 126 Bilhões, representando sair de 3% do PIB para algo próximo a 6% do PIB e cuja meta de Fernando Haddad, ministro da Educação de Lula fora fixada em 7% do PIB algo que seria mudado por Dilma Rousseff à partir de 2015 e vigorará até 2020 no seu governo, para 10% do PIB. Sim, isso representava objetivos inconfessáveis. Os desavisados poderiam pensar: “que maravilha”, quanta nobreza, mas para onde esses recursos foram? Não precisam responder...

Além do aparato ideológico que a esquerda promoveu e que em décadas anteriores houvera se posicionado no “universo cultural” combatendo os regimes militares, desta vez encontrava um ambiente ainda mais fértil nos “Campos da Educação” só que com uma diferença fundamental: desta vez tinham as chaves do cofre e podiam usar não só para aparelhar a educação como para promover “desvios fundamentais para a causa”. Sabemos que a “causa” em regimes de esquerda é enriquecer os membros e amigos da elite do partido que, a rigor nunca produz riquezas e sim as sugam, distribuem e consomem em detrimento dos interesses da população manipulada.

Mas quando pensamos em manipulação da “molecada” a estratégia hoje, em tempos de Digitalização Humana, é bem mais sofisticada. Parece ser ainda mais fácil, sutil e barato do que o que levou décadas e consumiu (e consome) grandes volumes de recursos.

Senão vejamos:

Basta criar um “personagem”, apenas para citar um exemplo: como o do “youtuber” Felipe Neto (que tem hoje 38.8 milhões de seguidores, investir nele e entrar no universo imaginário da “molecada”. Não por acaso, esse personagem agora defende a não monitoração e regulação das redes, já que ele próprio estimula as crianças a criarem perfis falsos mentido sobre a sua idade já que os regulamentos das redes não permitem usuários menores de 18 anos. Seria interessante ver o que sobraria dessa rede de 38.8 mi se cada um dos perfis dos seguidores estivessem atrelados a um CPF real. Não é difícil imaginar que esse número seria reduzido dramaticamente... mesmo que ainda seriam números significativos.

Muitos perfis como esse ainda surgirão e serão encampados ou financiados por interesses que não é difícil estabelecer (mesmo que audiências expressivas são regiamente “monetizadas” por essas redes que se beneficiam pela mídia vendida e veiculadas nesses canais).

E que defesa podem ter os pais que tem seus filhos aliciados e manipulados ou até mesmo “educados” por tais perfis, cuja audiência está atrelada a determinado conteúdo? Não é mesmo necessário a manipulação genética como a descrita em Fahrenheit 451 para atingir tais objetivos...e nem é preciso queimar os livros que jamais serão lidos pelas crianças e adolescentes dessas novas gerações...

AS “TIAS (e os Tios) DO ZAP E AS ELEIÇÕES NO BRASIL

O fenômeno das “tias do zap” que determinaram a forte base conservadora de apoio que elegeu Bolsonaro, foi um fenômeno sociológico influenciado pelo SURGIMENTO DE UMA SOCIEDADE DIGITAL (não confundir com uma DIGITALIZAÇÃO SOCIAL que é outra coisa), ou seja, baseado na TRANSFORMAÇÃO SOCIAL DIGITAL que as redes trouxeram. E foi a isso que eu me referi nos textos introdutórios. Esse movimento estava menos relacionado, mas também influenciado, pelo que chamei de MODELO DE EQUALIZAÇÃO DIGITAL que se estabeleceu velozmente nos últimos anos.

Esse movimento já estava em curso, mas era menos visível entre 2016 e 2018 e, por isso mesmo, permitiram uma certa “liberdade de expressão” que não creio se repetirá. Pelo menos o ambiente será diferente e haverá novos grupos posicionados: um ambiente certamente mais controlado e menos “livre”, certamente mais manipulado.

A experiência que no Brasil destituiu a ESQUERDA do Governo (e não do poder, como citei em artigos sobre o tema) e trouxe a DIREITA ao Governo foi promovida mais pela DERROCADA DAS IDEOLOGIAS DE ESQUERDA no mundo e da CORRUPÇÃO que é inerente aos PARTIDOS de esquerda, sempre que atingem o poder (é assim em todos os lugares e não foi diferente no Brasil). O principal fator, ao meu ver, foi a OPERAÇÃO LAVA-JATO e que, nas eleições, teve nas Redes Sociais (Tias e Tios do Zap), uma ferramenta que desequilibrou o jogo e produziu o resultado que deu um start ao PROJETO DE CONTRA-ATAQUE encampado inclusive, pelo fato de que boa parte da imprensa, sempre se posicionou com a ESQUERDA e por esta era amplamente e regiamente REMUNERADA.

Foi assim, que a partir das eleições e fortemente presentes na PANDEMIA, movimentos GLOBALISTAS e de ESQUERDA (que não são necessariamente a mesma coisa: aos “partidos Globalistas”, em geral, o interesse é por DINHEIRO E PODER) se mobilizaram para ocupar posições ao redor do Planeta e apenas para citar dois exemplo:

  • No Brasil, tentando derrubar Bolsonaro, retomando o Governo perdido pelo fenômeno da combinação Lava-jato/Tias do Zap;
  • Nos EUA tentando evitar a reeleição de TRUMP alavancando a candidatura de JOE BIDEN, nada muito diferente apenas pelo fato de que nos EUA, quem ganha a Eleição, assume o Poder mesmo com oposição. A guerra no Brasil é pela governabilidade visto que o PODER está fortemente aparelhado.

Como eu imaginava, seria difícil tornar o tema menos árido, assim como conseguir colocar sobre a mesa todos os elementos desse jogo, um imenso tabuleiro que nos permitisse entender quais são as possibilidades e se há trunfos de ambas as partes ou se estaríamos condenados a um processo sem volta de manipulação: caminhando inexoravelmente para uma DISTOPIA DIGITAL que numa visão de DIGITALIZAÇÃO SOCIAL pressupõe, se não há uma percepção de que essa realizada é possível e que é precisamos tomar consciência dela e do que já está posto, além do que está por vir.

Como não vejo como esgotar o tema, mesmo que introdutório, deixarei para um próximo texto as conclusões preliminares dessa visão e, enquanto isso, permitirei que os leitores possam absorver, digerir e refletir sobre o tema. Dessa forma, será possível, não esgotar o tema como falei, mas sobretudo o necessário posicionamento de uma série de possibilidades que podem sim, nos auxiliar a desarmar essa bomba relógio cujo tic-tac já começamos a ouvir.

Foto de JMC Sanchez

JMC Sanchez

Articulista, palestrante, fotografo e empresário.

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