Antonio Gramsci e as eleições paritárias nas universidades
14/07/2020 às 09:12 Ler na área do assinantePublico este artigo na esperança de que o novo ministro da Educação o leia, dê-lhe a devida importância e faça alguma coisa para que as escolhas de dirigentes acadêmicos em nossas universidades públicas deixem de ser plebiscitárias – prenhes de conteúdo político-ideológico (sempre de esquerda, claro) - e passem a seguir o modelo adotado pelas melhores instituições acadêmicas do mundo: a seleção por mérito, até mesmo de pessoas externas aos seus quadros.
A universidade brasileira – tão essencial ao desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do País – precisa urgentemente de uma reforma profunda que corrija os graves erros da reforma de 1968 e outros costumes nocivos que com o tempo foram introduzidos. Não deve descartar, numa eventual reforma, a criação de ‘universidades técnicas’ – preocupadas com carreiras profissionais – a exemplo de vários países europeus, separadas das outras universidades, estas dedicadas às áreas de ‘Humanas’.
Em excelente artigo intitulado “Excelência já foi elogio, mas faz tempo”, publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 21/06/2016, Rolf Kunz afirma:
“O governo do PT, desde o mandato inicial do presidente Lula, condenou as ideias de competência e de produtividade na administração [pública] como preconceitos neoliberais. ”
Para sermos precisos, a condenação dos ideais de competência e de produtividade na administração pública - entre as quais a de universidades - como preconceitos neoliberais (ou melhor, como conhecido na época de Gramsci: preconceito burguês), antecede a Lula e ao PT no governo.
Essas ideias, ou ideologias que condenam aqueles ideais de competência e produtividade, são nossos velhos fantasmas com que lidamos, na administração pública em geral e, principalmente, nas escolas e nas universidades.
A falsa, distorcida e subdesenvolvida ideia de ‘democracia’ que passou a permear as instituições públicas – e que exige as eleições paritárias para diretores de escolas, grupos escolares e universidades por estudantes, funcionários e ‘até professores’ em tais pleitos plebiscitários - é consequência da “Doutrina da Infiltração” de Antonio Gramsci (1891-1937), fundador do partido comunista italiano, em 1921.
Sempre alegando ideais elevados de democracia, a militância de esquerda acabou por distorcer este mesmo conceito tão caro aos verdadeiros democratas, visando, na realidade, a infiltração e dominação dos órgãos decisórios das escolas, sindicatos, associações de bairro, centros acadêmicos estudantis e colegiados universidades.
A História é farta em mistificações sobre o conceito de democracia. A famigerada Alemanha Oriental - o mais stalinista regime do Leste Europeu - que hoje jaz na lata de lixo da História, tinha o nome oficial de ‘Deutsche Demokratishe Republik’ (DDR), ou República Democrática Alemã. Outras tiranias comunistas também abusaram e distorceram o conceito de democracia, ao se proclamarem, elas próprias, democracias. Não surpreende, portanto, que um movimento pela democracia em órgãos públicos, como universidades, seja, na realidade, uma farsa gramscista, visando o aparelhamento dos mesmos, como “etapa para a construção do socialismo”, segundo reza o jargão eufemístico das esquerdas.
Enquanto se opera esta farsa, a qualidade administrativa e de liderança daqueles órgãos cai vertiginosamente. Isto é particularmente danoso nas escolas e universidades públicas, onde os cargos mais elevados são ocupados não por mérito acadêmico, mas por conformidade com os fundamentos gramscistas de esquerda. E, como consequência, isto fez e faz a alegria do baixo clero acadêmico, sempre de esquerda ideológica, nas instituições públicas, mormente escolas e universidades.
O destaque em ‘até professores’ dado acima é para lembrar que, não raro, a vontade docente nas universidades, embora postulada como superior em lei (75%), é, na prática, sobrepujada pela dos alunos e servidores administrativos, como se viu, por exemplo, nas últimas eleições para reitor da UFSC, numa clara quebra da ordem jurídica. Nas três últimas eleições na UFSC, isto ficou absolutamente patente. Ao que consta, não é muito diferente em outras instituições universitárias públicas no Brasil.
Essa desgraça, que resultou na mediocridade da administração pública, em geral, e nas das universidades públicas, em particular, de há muito existe nestes tristes trópicos. Ela encara as instituições públicas (universidades, em especial) como uma república de estudantes, servidores e ‘até professores’. Só que os ‘cidadãos’ desta peculiar ‘república’, não pagam impostos. Ao contrário, recebem bolsas, ensino gratuito e salários. É uma distorção cabal. O PT, diga-se com sinceridade, apenas exacerbou a prática do aparelhamento público, ou infiltração, com a criação oficiosa do Estado Sindicalista Brasileiro.
Parafraseando Rolf Kuntz, afirmo que “Magnífico” já foi elogio, nas universidades públicas brasileiras, mas faz tempo.
A ‘democracia’ universitária, de extração comuno-gramscista, transformou este “Magnífico” em seu antônimo.
José J. de Espíndola
Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.