Qual é a dificuldade de ver no comunismo uma doutrina maligna, ditatorial, totalitária e assassina?
14/07/2020 às 05:46 Ler na área do assinanteO comunismo é, sempre foi, e sempre será uma doutrina cruel, depravada, maligna, desumana, autoritária, irascível e inerentemente assassina. Não é sem razão ou motivos, por exemplo, que o comunismo é proibido em praticamente todo o leste europeu.
Em países como Romênia, Moldávia, Ucrânia e Polônia, para citar apenas alguns — que vivenciaram em seus territórios todo o horror deste deplorável e infame sistema político tirânico, agressivo, despótico e violento, que se vangloria em causar incomensurável sofrimento aos indivíduos que têm o infortúnio de viver sob o seu jugo — o comunismo é ilegal, sendo completamente proibida a exibição pública de símbolos comunistas.
Até mesmo usar uma camiseta com a estampa do terrorista argentino Che Guevara pode levar o indivíduo para a prisão. Há mais de três anos, a Polônia proibiu qualquer referência nos espaços públicos a elementos reminiscentes do período stalinista.
Inclusive, atitudes foram tomadas por parte do governo para alterar nomes de ruas, monumentos e demais adereços no espaço público, com a finalidade de erradicar de forma definitiva toda e qualquer referência ao comunismo.
Mas, se o comunismo é tão nocivo e maligno, por que ele é tão difundido na América Latina, especialmente no Brasil?
Sabemos que aqui no Brasil, a esquerda detém o monopólio da educação no sistema de ensino, tendo dominado plenamente escolas e universidades, que acabaram sendo convertidos em anfiteatros de doutrinação política.
É evidente que o comunismo não será atacado ou questionado nesses ambientes, onde a esquerda é predominante e detém incontestável hegemonia. Para citar um exemplo dramático nessa questão, há pouco mais de dois anos, um evento marcado na Universidade Federal de Santa Catarina — que expunha de forma franca e aberta os horrores históricos do comunismo, e que tinha como um de seus palestrantes convidados o embaixador da Ucrânia no Brasil — teve sua realização cancelada.
É proibido falar mal do comunismo nas universidades brasileiras. A que lastimável ponto chegamos.
Isso não surpreenderia ninguém que realmente compreende quão profunda é a hegemonia da esquerda política em nosso país, especialmente nos ambientes de ensino, que foram todos convertidos em bunkers de doutrinação ideológica.
Como a esquerda é muito atrativa para os jovens por seu caráter revolucionário, sempre foi muito fácil para os marxistas inveterados atrair novos súditos. Mas todos eles, evidentemente, tomam o cuidado de ocultar deliberadamente do público jovem todos os aspectos negativos direta ou indiretamente relacionados ao comunismo.
Portanto, a grande maioria dos jovens que sente alguma simpatia ou afinidade pelo comunismo foi cooptada por alguém com conhecimento superior, que deliberadamente omitiu informações relevantes.
O que doutrinadores omitem é o fato de que o comunismo sempre esteve, e sempre estará intrinsecamente ligado ao totalitarismo, sem o qual não poderia existir. Deste componente crucial para a sua existência deriva todo o seu horror.
A anatomia funcional do comunismo exige isso, pois, na ausência deste elemento necessário para a consolidação da utopia, as pessoas teriam liberdade. E ao experimentar a liberdade, as pessoas passam a rejeitar o comunismo. Liberdade e comunismo são dois elementos completamente incompatíveis. Só deseja o comunismo quem nunca o vivenciou na própria carne.
Outra questão importante a ser explicada é que com a liberdade, vem a desigualdade, algo natural e inerente a uma sociedade livre, e que não é necessariamente ruim — afinal, é necessário lembrar que a pobreza é um problema, e deve ser combatida, mas não a desigualdade, e elas não são a mesma coisa; este é um conceito que a esquerda tem subvertido e confundido de forma sistemática entre aqueles que são doutrinados.
Pobreza e desigualdade não são sinônimos. Um igualitarismo forçado só pode ser implementado através de um governo tirânico. E via de regra, o comunismo torna todos iguais na miséria, não na riqueza. As únicas pessoas que ficam ricas no comunismo são aquelas que fazem parte da elite governamental.
Todas as demais terão que lidar com problemas dramáticos como pobreza, miséria e fome, o que é inevitável em uma ditadura comunista, pois no comunismo não é permitida a existência de empreendimentos privados, assim como também não existe liberdade econômica.
Outra questão interessante a ser observada é que, embora o comunismo pregue — ao menos em teoria — a existência de uma sociedade sem classes, na prática os regimes comunistas têm classes muito distintas, onde aqueles que são mais fiéis ao regime estão no topo da pirâmide, e por causa da sua lealdade, tem direito a usufruir de determinados benefícios e privilégios que são inacessíveis ao restante da população.
Assim, se formam classes privilegiadas, que usufruem de uma existência muito abastada, bem diferente das pessoas mais humildes, desprovidas de contatos e conexões políticas.
Para o comunismo funcionar, portanto, é necessário um estado onipotente com poderes absolutos. Apenas assim será possível impor — através de decretos brutais e autoritários —, um igualitarismo forçado à sociedade, que de outro modo, não teria como existir.
Dessa forma, o estado também se reserva o direito de remover, encarcerar ou até mesmo eliminar quem ousar se opor a doutrina oficial do regime, o que comprometeria a homogeneidade forçada imposta à sociedade, e que poderia levar outros indivíduos descontentes a se rebelarem.
Como escrevi acima e volto a enfatizar aqui, liberdade e comunismo são conceitos totalmente incompatíveis.
Esse sistema, evidentemente, em decorrência da completa e total ausência de liberdade, invariavelmente acaba gerando e difundindo um colossal e inexpugnável nível de miséria por toda a sociedade, já que a liberdade econômica é completamente suprimida.
Coisas simples e necessárias como trabalhar e produzir acabam sendo criminalizadas pelo estado; por essa razão, as pessoas têm que recorrer aos mais variados expedientes para conseguir sobreviver, como é o caso de muitas pessoas em ditaduras comunistas como Cuba, Venezuela e Coreia do Norte.
Muitos cidadãos são obrigados a recorrer ao mercado negro para não morrer de fome. Muitas dessas pessoas recorrem até mesmo ao contrabando de alimentos, pois a falta de opções as obriga a recorrer aos mais variados expedientes para conseguir sobreviver.
Na China maoísta, vários empresários cometeram suicídio depois que os comunistas conquistaram o poder após vencerem a guerra civil contra os nacionalistas. A criminalização da iniciativa privada levou muitos ao desespero, e por essa razão, centenas de pessoas que possuíam negócios próprios acabaram tirando a própria vida.
Ser dono do próprio negócio era coisa de burguês capitalista explorador, de acordo com os ditames da doutrina totalitária comunista.
Esse tipo de problema é inerente ao comunismo, que problematiza e criminaliza praticamente tudo. Nada pode ser feito sem a autorização do regime. Se um indivíduo trabalhar demais, pode acabar sendo acusado de ser uma pessoa imoral e gananciosa, ávida por enriquecer.
Se for um empregador, pode ser considerado um burguês famigerado obcecado por lucros. Como, em função de perspectivas desta natureza, o trabalho individual acaba sendo invariavelmente criminalizado, a produtividade de um país comunista — somada a quase que total ausência de capital privado — é inexpressiva.
Os indivíduos não têm autonomia para absolutamente nada, não podem empreender, não podem negociar, não podem ter um negócio próprio, pois todos são obrigados a depender do estado e do sistema de planejamento central, que nunca é capaz de saciar devidamente as necessidades ou atender as demandas da população, algo que todas as experiências históricas do comunismo comprovaram reiteradamente, vez após vez.
Todas essas malfadadas e deploráveis experiências históricas também nos mostraram que a igualdade forçada nunca se aplicou aos dirigentes governamentais e a alta hierarquia do partido que está no poder — pois estes vivem uma vida de luxo e suntuosidade obscenas, enquanto o restante da população tem que lidar com escassez de alimentos, de recursos e desnutrição crônica.
O que a grande maioria dos simpatizantes do comunismo — especialmente os mais jovens — é incapaz de perceber, é que o objetivo do comunismo não é produzir uma sociedade mais justa, tampouco solucionar os problemas que afligem a sociedade humana.
Isso não passa de propaganda falaciosa, meticulosamente elaborada para atrair os incautos. Sob prerrogativas ingênuas, mas que a princípio podem parecer verossímeis, o comunismo nada mais é do que uma formidável e eficiente plataforma para o poder político. O economista Thomas Sowell afirmou:
O que Marx realizou foi produzir uma visão tão abrangente, dramática e fascinante que pudesse suportar inúmeras contradições empíricas, refutações lógicas e repulsões morais em seus efeitos.
A visão marxista tomou a esmagadora complexidade do mundo real e fez as partes se encaixarem, de um modo que era intelectualmente estimulante e conferiu tal senso de superioridade moral que os oponentes poderiam ser simplesmente rotulados e dispensados como leprosos morais ou reacionários cegos.
O marxismo foi — e continua sendo — um poderoso instrumento para a aquisição e manutenção do poder político.
Olavo de Carvalho resumiu em poucas palavras o que o comunismo realmente é:
"O comunismo não é um grande ideal que se perverteu. É uma perversão que se vendeu como um grande ideal."
Os elementos mais preponderantes que permitem que uma doutrina tão nefasta como o comunismo continue tendo plena aceitação — ao menos em um país como o Brasil — envolve os fatores concernentes à doutrinação sistemática realizada em ambientes que deveriam ser de ensino, mas que transformaram-se efetivamente em campos de doutrinação ideológica.
Os componentes fundamentais para se perpetuar a doutrina estão todos nas salas de aula deste país: o público alvo é um público jovem, vulnerável e suscetível ao conteúdo apresentado, facilmente impressionável e transmitido com a deliberada supressão de informações inconvenientes.
O fato dos estudantes em geral serem incentivados a serem "bons alunos" — de forma a aceitar passivamente, como cordeirinhos obedientes, o que os professores de esquerda lhes transmitem —, ao invés de serem estimulados a pensar, raciocinar, pesquisar por conta própria, questionar e contestar o conteúdo, contribui para agravar o problema.
Basicamente, o que se faz é manter os doutrinados encerrados na mais coesa, abismal e sofrível ignorância, e pavimentar suas mentes com elaboradas restrições cognitivas, para que jamais questionam o conteúdo que estão assimilando.
Nos raros casos em que um estudante descobre, e decide contestar com argumentos, todos os acontecimentos históricos deploráveis inerentes ao comunismo, bem como os regimes totalitários que existiram em nome da utopia e os milhões de pessoas que morreram vítimas dessas ditaduras — tendo a maioria delas morrido de inanição — o doutrinador consegue iludi-lo com aquela velha máxima que todos nós conhecemos: "mas isso não era o verdadeiro comunismo".
Deixa-se implícito o falacioso argumento irracional de que todas as experiências comunistas anteriores falharam, mas que a presente revolução pela qual tanto lutam, essa sim vai dar certo, e tudo será aplicado de maneira a replicar na realidade os resultados que produzirão a tão esperada e aclamada utopia.
Esquerdistas ignoram a realidade, porque essa é a única maneira pela qual sua tão adorada ideologia pode continuar existindo. Como sempre digo, esquerdistas são especialistas em ignorar a lógica, a racionalidade, as experiências históricas e a própria natureza humana.
Uma sociedade de seres humanos naturalmente imperfeitos não pode produzir uma sociedade paradisíaca, onde tudo será belo, gracioso e benigno e onde todos viverão felizes para sempre. Além do mais, pessoas em posição de poder sempre irão abusar desse poder.
Um ditador com poderes plenipotenciários não vai agir como um pai fraterno, amoroso e bonzinho. Ele invariavelmente agirá como um déspota cruel e repulsivo, disposto a fazer o que for necessário para se perpetuar no poder.
De qualquer forma, o comunismo não passa de uma deplorável fantasia de adultos que por alguma razão recusam-se a aceitar as inexpugnáveis ingerências da realidade. O medo de crescer, assumir responsabilidades e enfrentar a vida como ela de fato se apresenta leva as pessoas a se refugiarem em utopias infantis e narcisistas.
Seria cômico se não fosse trágico. Esse, no entanto, é o diagnóstico do problema. A solução está em difundir conhecimento, a melhor arma para suplantar a ignorância.
Wagner Hertzog