O segredo e o perigo do óbvio. E como fica a Religião versus a Política nessa história?
13/07/2020 às 05:13 Ler na área do assinanteNa vida, nada é mais óbvio quando a mentira se contrapõe à verdade para chegarmos a decisões ou escolhas pessoais ou coletivas. Existem mentiras isoladas, muitas vezes, nem mal fazem a ninguém. Tem aquelas que se confundem com a omissão, outras podem causar dor, sofrimento e até a morte. Mas, mentira é mentira, e ponto final! É óbvio!!!
E a religião na política, nesta temática? Vou ater-me à católica, por questões da atualidade política brasileira.
Não é segredo para ninguém que a igreja católica usa sua penetração, muito forte junto aos fiéis, para se unir à causas políticas. Até aí, nada de anormal, mesmo porque isso é notório em qualquer religião ao longo dos séculos.
É necessário dizer que a política está em tudo, e é um direito do cidadão, qualquer cidadão, inclusive, religiosos, manifestar-se. A questão é o meio que se utiliza para isso.
Causa espécie a entrega que se dá às narrativas criminosas do jogo político. Isso vem, na hierarquia da instituição católica, desde a Santa Sé, onde o Papa Francisco lidera alguns movimentos mundo afora, ainda que de forma bem, digamos, reservada e sutil. Mas o filtro da sociedade, naturalmente, flagra situações constrangedoras.
Aqui no Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é a instituição que representa, e orienta as diretrizes da igreja católica, fundada em 1952, congregando os bispos brasileiros. É presidida por Dom Valmor Oliveira Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, desde 2004.
Atuante na vida política brasileira desde então, a CNBB, seguindo a mesma linha do Vaticano, discreta, quase sofisticada, com participação veemente em vários momentos da nossa história. Na teoria, se posiciona com o “povo”, mas acaba tropeçando em ideologias políticas, aproveitando-se dos flagelados, dos vulneráveis, e querendo ou não, da boa fé das pessoas. Mas não tem nada de espartano.
Só neste ano, várias manifestações de líderes católicos no entorno da política, mas tomo como referência os casos dos padres Júlio Lancellotti, da Igreja São Miguel Arcanjo, São Paulo/SP, Reginaldo Manzotti, da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, Curitiba/PR e Edson Adélio Tagliaferro, da Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, em Artur Nogueira, interior de São Paulo. O que causa perplexidade são as notas emitidas pelas instituições superiores na hierarquia católica. Carregadas de hipocrisia. Discorro sobre, em seguida.
Em comum, nos discursos dos padres, o uso dos cultos e ações religiosas para expor tendências políticas. Usam e abusam de textos e personagens bíblicos. Alguns de forma sorrateira. Mas o segredo está numa palavrinha muito comum entre os que dominam multidões; Óbvio. Para os políticos e para a igreja, cai feito uma luva. Por outro lado, desfralda o caráter de muita gente.
Padre Júlio Lancellotti disse certa vez:
“Quem segue Jesus Cristo não pode estar do lado dos que querem matar e exterminar.”
Com esta frase, Lancellotti quer faturar com o óbvio do óbvio? Óbvio que sim! A questão é a quem quer atingir. Não precisa interpretar nem nas entrelinhas. Desde sempre, Júlio Lancellotti tem ligações quase carnal com a esquerda, mais diretamente com o PT. É figurinha fácil nas mídias petistas.
O ex-presidente Lula, condenado pela justiça, teve a defesa do padre, que antes da condenação, deixou de celebrar missas até que as investigações terminassem.
E os fiéis... Que se danem, imagino ter pensado ele. Em 2007 ( não vou entrar no mérito), com gravíssimas acusações, seu advogado era o petista de carteirinha, à época, Luiz Eduardo Greenhalgh.
Inúmeras vezes, suas homilias estavam voltadas a ataques políticos. E como não podia deixar de ser, o óbvio estava lá.
Quem é contra os miseráveis, os abandonados, os sem teto, os esfomeados?
Em sã consciência, ninguém! Mas os incautos não percebem que o sistema os mantém ali, na miséria o tempo todo. Às vezes, sai um, mas entram três. Dito isso, que é público, não se vê uma instituição católica interferir nas ações do padre, que há décadas atua desta forma.
No caso do Padre Reginaldo Manzotti, a CNBB, se “revoltou” com denúncias que dão conta de eventual negociação do padre Manzotti com o governo Bolsonaro.
O canal que o padre representa abriria apoio ao governo tendo como contrapartida, verbas federais, o que a instituição chamou de “comercialização da fé”. Olha o óbvio marcando presença. Quem concorda com isso? De novo, ninguém! Mas não caberia aqui, listar essa comercialização da fé pela igreja católica em muitas circunstâncias.
A começar pelos benefícios governamentais recebidos em forma de isenções de muitas maneiras. O Brasil, um estado laico, dá concessões a instituições religiosas, que por reciprocidade, deveria propor o laicismo da igreja com relação ao estado, ou seja, a parcialidade nas duas vias. Mas isso fica só no conceito.
Já o padre Édson Adélio, ultrapassou todos os limites! Deixou a discrição de lado e foi direto no queixo para recriminar Jair Bolsonaro. Disse ele, em plena missa virtual:
"Vocês querem que eu fale o quê? 'Ah, ele não trabalha porque não deixam ele trabalhar'. Não! É porque ele não presta! Bolsonaro não vale nada. E quem votou nele tem que se confessar. Pedir perdão a Deus pelo pecado que cometeu, porque elegeu um bandido pra por de presidente."
Nas redes sociais, uma fração do vídeo foi postado por muitos críticos, e isso repercutiu muito, o que fez o bispo da Diocese de Limeira, Dom José Roberto Fortes Palau, emitir comunicado desautorizando declarações políticas do pároco.
Segundo o bispo, o padre Edson “reconhece que se excedeu em suas palavras e pede desculpas ao Sr. Presidente da República e a todos que se sentiram de algum modo atingidos”. Um hipócrita!
Dom José Roberto declarou ainda que as opiniões do padre não representam a posição da Diocese de Limeira”. O bispo encerrou a nota afirmando que a Igreja Católica “não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político”. Pronto!!! Essa última frase, marcou o óbvio e depenou a própria nota. O bispo não ia perder a oportunidade da declaração.
A CNBB... bem, a CNBB se calou até aqui.
Mediante a reprimenda pública, o padre Edson emitiu uma nota de esclarecimento, em boa matéria descritiva do jornalista Matheus Adler. Alegou ter havido uma discussão acalorada com uma apoiadora do presidente (que coisa, não?).
O padre conseguiu piorar em suas justificativas sobre o que já havia dito na missa, e com isso a alegação de que o vídeo publicado foi tirado de contexto, etc., etc... caiu por terra. Assista ao vídeo, aqui, dentro do contexto reclamado pelo padre.
Confira:
Sua presunção permitiu-lhe dizer que Bolsonaro é um desequilibrado, e que o mundo não gosta do presidente, e por isso debocha do Brasil. Na nota, uma salada com personagens, cenários e tempos bíblicos, citações do evangelho, além de agregar conflitos sociais e culturais (claro, não deixaria de comentar o óbvio).
Finaliza, pedindo; “Rezem por mim.”
Mas para que rezar pelo senhor, caro padre? Óbvio que o reverendíssimo padre se sente autorizado por Deus para falar o que falou.
Só que não! Reze por si! É mais seguro, e quem sabe Deus lhe perdoa? É mais do que óbvio!!!
Aproveitando o ensejo... A CNBB postou em seu site que o bispo da diocese de Palmares/PE, dom Henrique Soares da Costa está respondendo bem ao tratamento que faz contra o coronavírus. Só não conta que tratamento é este. Diz apenas que essa recuperação "veio após a realização das 24 horas de oração por dom Henrique."
Ora, ora... é óbvio isso!
Fonte: CNBB
Alexandre Siqueira
Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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