“Incontáveis pessoas, de marajás a milionários e de pukkha sahibs (‘verdadeiros cavalheiros’) a moças bonitas, odiarão a nova ordem mundial, se tornando infelizes pela frustração de suas paixões e ambições mediante seu advento, e morrerão protestando contra ela. Quando tentamos estimar sua promessa devemos ter em mente a angústia de aproximadamente uma geração de descontentes, muitos deles pessoas bastante galantes e de boa aparência” (H. G. Wells. “The New World Order”, 1940).
Pessoas (mesmo “elegantes e de boa aparência”) morrerão reagindo à instituição de uma nova ordem mundial?
Quando H.G Wells publicou a obra “A Nova Ordem Mundial”, em 1940, ele entreviu uma reação à sua criação, mencionando que “descontentes” reagiriam contra ela. Hoje, oito décadas após sua publicação, vemos que uma possível reação foi simplesmente neutralizada por aqueles que a estão levando a efeito. Afinal:
Quem realmente costuma se pergunta sobre se há algo de errado com o mundo? Quem realmente se pergunta sobre se professores, políticos, et al, estão (ainda que sem o saber) mentindo?
Quem realmente costuma se perguntar sobre como o mundo realmente funciona?
Quem realmente se pergunta sobre estar sendo manipulado, por exemplo, pela grande mídia?
Quem realmente se pergunta sobre se as coisas são como elas nos são apresentadas desde a infância?
Quem realmente se pergunta sobre a existência de um ‘deep state’, isto é, sobre uma elite que governa o mundo desde as sombras?
Quem realmente se pergunta se práticas como eugenia e aborto violam a dignidade da pessoa humana?
Quem se pergunta se medidas como atual isolamento e a obrigatoriedade de usos de máscara, impostas sem justificativas razoáveis, viola a liberdade individual?
Provavelmente, ao levantarmos essas questões, concluiremos que a maioria das pessoas sequer cogita a seu respeito, o que é um poderoso indício de que os titereiros que operam desde as sombras estão sendo malignamente eficientes em sua paciente e longa empreitada.
Mas voltando à distopia de Wells, aqui é interessante citar o título e o subtítulo do livro de Wells: “A Nova Ordem Mundial: Se ela é possível, como ela pode ser alcançada e qual tipo de mundo um mundo de paz poderia ser”. Observem que a ideia de uma nova ordem mundial é sempre revestida de termos positivos, como “paz”.
Não obstante, H.G. Wells já havia adiantado as ideias da Sociedade Fabiana em outra importante obra de “ficção”, a saber, em “A Conspiração Aberta” (1928), na qual ele descreve um mundo cosmopolita, oferecendo ideias para uma revolução mundial e uma espécie de “governo central mundial” que estabeleceria um mundo tecnocrático e uma economia planificada (socialista).
Assim como vemos ocorrer nas ideologias socialistas, mesmo nas mais sangrentas e genocidas, aqui o plano de uma nova ordem mundial se esconde sob a ideia de um “mundo melhor”, um mundo (supostamente) em paz. Na verdade, as ideias de “um mundo melhor”, de um “sujeito melhor”, escondem as maiores barbáries dos séculos XX e XXI.
Mas vejamos, primeiro, o que essas ideias têm em comum. Com efeito, dentre seus pontos em comum está o socialismo. Por exemplo, H.G. Wells foi um dos fundadores da Sociedade Fabiana, em 1884, a qual pretendia inserir o socialismo gradualmente na cultura.
Diferentemente das tentativas revolucionárias, que deixaram um legado explícito de mais de 100 milhões de mortos (contabilizados, por exemplo, em “O Livro Negro do Comunismo”), ‘gulags’, ‘paredões’, ‘campos de reeducação’, etc, a Sociedade Fabiana se introjetou sorrateiramente nas instituições, fazendo com que as pessoas se tornassem socialistas sem sequer se aperceberem disso.
Ou seja, suas vítimas não são claramente contabilizadas. Talvez a maior parte das vítimas do socialismo fabiano, gradualista, seja simplesmente invisível à primeira vista.
Mas é inerente à nova ordem mundial alguns elementos. O socialismo é claramente um deles.
Não há oposição entre socialismo e a ideia de uma nova ordem mundial. Basta vermos que a elite de Wall Street financiou a revolução bolchevique, na Rússia, algo que esclareci, por exemplo, aqui:
Mas, assim como ocorreu na revolução bolchevique, a mesma elite global mundial tem financiado outros movimentos considerados de ‘esquerda’ (antiliberais, anticonservadores, anticristãos), os quais visam, ao fim, causar o colapso da civilização tal como a herdamos.
Portanto, tais movimentos são vassalos oportunos para os fins daqueles que nos querem impor uma nova ordem mundial, uma ordem em acordo com sua visão de “mundo melhor”, o qual, em verdade, é uma distopia (pois solapam nossa individualidade e liberdade). Se não bastasse engendrarem a visão de um “mundo melhor”, também tentam criar um “humano melhor”.
Tenho insistido nesse ponto em alguns textos aqui no JCO, a saber, que essa elite global não é nem materialista nem atéia. Eles acreditam tanto em Deus quanto em Lúcifer. O ponto é que eles escolheram o lado do ‘opositor’, daquele que disse a Deus: “non serviam” – “não servirei”.
Eis a razão de eles terem como objetivo corromper o que é compreendido como criação divina, especialmente o mundo e a natureza humana. Eles ‘não servirão’ aos propósitos do Criador. Portanto, eles pretendem corromper aquilo que consideram ser obra Dele.
Eles intentam “criar” um mundo e um sujeito de acordo com suas visões distorcidas, especialmente em oposição à criação divina. Creiamos ou não em Deus ou em Lúcifer, o fato é: os artífices da nova ordem mundial acreditam peremptoriamente em ambos.
Com efeito, para levar adiante sua agenda eles criaram inclusive instituições ao longo do século XX: o ‘Federal Reserve System’ (1913); a ‘Liga das Nações’ (1919); o ‘Council on Foreign Relations’ (1921); o ‘Fundo Monetário Internacional’, FMI (1944); o ‘Banco Mundial’ (1945); a ‘Organização das Nações Unidas, ONU (1948); o ‘Clube de Bilderberg’ (1954); a ‘Comissão Trilateral’ (1973), a ‘União Europeia’ (a partir do Tratado de Maastricht, de 1992), apenas para nomear as mais conhecidas.
Aliás, nesse grupo se destaca a ONU, a qual tem sido um instrumento fundamental para a criação seja de um “novo mundo” seja para a criação de um “novo ser humano”.
Ao longo das décadas desde sua criação vemos seus propósitos gradualmente se desvelando. A criação de uma nova ordem mundial que coloque fim à individualidade, às soberanias nacionais e aos valores da tradição judaico cristã se destacam em seus planos. Abundam evidências, como as que mencionei nesses três textos:
Mas agora cito outra figura relevante ligada à ONU e suas bases, a saber, Brock Chisholm, o qual foi o primeiro diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em seus termos:
“Para alcançarmos um governo mundial, é necessário remover das mentes dos homens sua individualidade, sua lealdade à família, e às tradições, seu patriotismo nacionalista e os dogmas religiosos”.
Diante disso, não surpreende que, quando investigamos sua biografia, encontramos que ele era simpático ao socialismo e, claro, anticristão. Não apenas isso, como psiquiatra Chisholm fez parte de uma corrente que defendia o fim da distinção entre “certo” e “errado”.
Ele inclusive escreveu um artigo sobre a importância, da necessidade mesma, de rompermos os elos morais (“journal of Biology and Pathology of Interpersonal Relations”, 9, no. 1, February 1946). Com esses propósitos em mente ele foi, com John Rawlings Rees, co-fundador da influente “World Federation for Mental Health” (‘Federação Mundial de Saúde Mental’).
A ideia central de ambos era: reinterpretar e eventualmente erradicar os conceitos de ‘certo’ e ‘errado’. Desnecessário dizer que isso teve um impacto terrível sobre a formação dos futuros profissionais na área da saúde mental. Já perceberam que hoje a maior parte dos “terapeutas” estimula seus pacientes a abandonar valores ditos “repressivos”?
Na verdade, estimulam seus pacientes a se entregarem aos instintos e viverem miseravelmente, uma vez que sabemos que, sem o referencial do ‘certo’ e do ‘errado’, as pessoas vivem vidas sem sentido e infelizes.
Dessa maneira, hoje, mais do que nunca, vemos os efeitos perniciosos dessa ideia na dissolução de nosso tecido social moral. Muitos dos flagelos que hoje enfrentamos são oriundos dessa mentalidade anticristã, a qual vem gradualmente fazendo colapsar os pilares de nossa civilização e, ao fim, as vidas individuais. Esse, aliás, é o aspecto central da “nova religião global” promovida pelos seus obreiros, a qual é, como tenho exposto, luciferiana.
Mas o fato é que essa dissolução não ocorreu ao acaso: ela foi projetada, planejada e levada a efeito pela elite mundial, seja pela elite econômica seja pela elite dita “intelectual”, a qual conferiu um simulacro de “superioridade” a ideais torpes, dos quais destaco a criação de um “mundo melhor” e a criação de um “ser humano melhor”.
Que significa, para essa elite, um “mundo melhor”?
Ora, para eles um mundo melhor é um mundo totalmente administrado por essa mesma elite, em uma espécie de feudo global gerido por uma aristocracia e desvinculado absolutamente de qualquer valor cristão, no qual todos os demais seriam meros vassalos.
Nesse mundo não haveria espaço para individualidade ou liberdade. Eis a razão de estarmos acompanhando um crescente cerceamento de nossa liberdade, especialmente com o avanço de tecnologias que cada vez mais monitoram aspectos íntimos de nossas vidas.
A ficção não é apenas diversão, mas ela serve como uma eficiente ‘Predictive Programming’ (“programação preditiva”, a qual torna a mente mais receptiva a eventos futuros previamente planejados). H.G. Wells usou dessa estratégia.
Mas atualmente séries como ‘Black Mirror’ nos vão preparando, subliminarmente, para a aceitação de eventos que jamais aceitaríamos à primeira vista. O mesmo ocorre com filmes. Por exemplo, muitos citam o filme “Contágio” (2011), dentre outros, como uma preparação para a aceitação do evento pandêmico atual.
Assim, o “mundo perfeito” de acordo com a distopia de uma nova ordem mundial é um mundo sem Deus, sem liberdade e sem individualidade, totalmente controlado por aqueles que atualmente exercem, ocultamente, o controle quase total de nossas instituições, diante de uma mirrada resistência.
Sobre um “sujeito melhor”, tal projeto passa, obviamente, pela eugenia. Tal ideia não é nova, sendo que a encontramos na antiguidade. Um exemplo pode ser lido em uma das mais importantes obras da literatura filosófica, “A República”, de Platão. Nela ele já fala em uma “seleção dos melhores”. No entanto, ela ganhou força nos últimos cem anos. Um exemplo notório das pretensões eugenistas nós o encontramos no hediondo nazismo. Mas a ideia de “raça superior” não era nova quando da ascensão do nazismo, tampouco desapareceu com o fim da segunda grande guerra. Antes do nazismo ela já havia sido “teorizada” pelo primo de Charles Darwin, Francis Galton (o qual, inclusive, cunhou o termo ‘eugenia’).
Galton tinha como pano de fundo especialmente a ideia de seleção natural de seu primo, embora ele estivesse focado na ideia de seleção artificial, mediante a qual poderíamos “purificar” a raça.
Com efeito, Galton se tornou altamente influente nos séculos seguintes, como, por exemplo, na promoção do aborto. A maior clínica abortiva do mundo, ‘Planned Parenthood’, estava fortemente ligada à ‘American Eugenics Society’. A fundadora da ‘Planned Parenthood’, Margaret Sanger, palestrava para a Ku Klux Klan, sendo que aproximadamente 80% de suas clínicas ficam nos arredores de bairros negros e hispânicos. Coincidência?
Se lermos a biografia de Sanger certamente veremos que não há coincidência nisso.
E hoje vemos que há uma preocupação exacerbada de instituições como a ONU em promover de forma cada vez mais universalizada o aborto, bem como medidas que, segundo muitos, levam à esterilização, como a ampliação do uso de algumas vacinas, especialmente em meninas de comunidades pobres em países também pobres ou em desenvolvimento. Todas essas medidas costumam ser apresentadas sob a ideia de “saúde sexual” (mesmo o aborto).
Tudo isso nos leva a considerar: quais interesses jazem sob essas medidas que alteram radicalmente o mundo e a natureza humana tal como a conhecemos?
Já não está claro que está em curso a realização de mudanças radicais que alteram não apenas o mundo tal como ele foi concebido originariamente, mas mesmo a natureza humana tal como a conhecemos?
Não estamos testemunhando aquilo que C.S. Lewis denominou de “abolição do homem”. Não estamos diante não apenas da abolição do ser humano, mas, mesmo, do mundo humano?
Creio que estamos.
Mas, lamentavelmente, não há a resistência entrevista por H.G. Wells. Parece que cada vez mais há menos descontentes, pois descontentamento implica em individualidade e liberdade, as quais estão sendo ardilosamente erradicadas. Sujeitos sem individualidade e liberdade já não se descontentam. Tornam-se meros títeres de titereiros que eles sequer conhecem.
Carlos Adriano Ferraz - (Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS).