Aumenta-se a demanda por hemodiálise nos casos graves de Covid-19
02/07/2020 às 05:18 Ler na área do assinanteNovo coronavírus pode causar comprometimento dos rins, principalmente em pacientes dos grupos de risco, como diabéticos e hipertensos. Máquinas caras e importadas dificultam ampliação do atendimento.
Desde o início da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), médicos acompanham um aumento da demanda por hemodiálise nas UTIs: a Covid-19 afeta os rins de parte dos doentes.
Mas apenas 8,75% dos municípios brasileiros têm equipamentos para o procedimento, segundo dados do Ministério da Saúde. Além da parcela significativa de cidades sem aparelhos, há também uma má distribuição deles: basicamente metade (47,5%) das 29.849 máquinas está no Sudeste.
A hemodiálise substitui os rins, retirando o sangue do paciente para purificá-lo e devolvê-lo ao organismo depois de filtrado. É uma técnica necessária quando o funcionamento renal está fortemente comprometido - passa a haver acúmulo de substâncias tóxicas no sangue e retenção de líquido no organismo.
Ainda não se sabe por que o novo coronavírus afeta particularmente os rins: pode ser uma ação direta no órgão ou uma consequência da infecção geral. Uma das hipóteses, inclusive, chega a citar o uso do ventilador mecânico.
As máquinas de hemodiálise são caras e importadas. Assim como no caso dos ventiladores mecânicos, o mundo passa a procurar as multinacionais que fabricam os equipamentos - e elas manifestam incapacidade de responder à demanda.Há também outros gargalos no Brasil: existe o temor de que faltem profissionais capacitados para operar os equipamentos de hemodiálise.
Além disso, o setor funciona basicamente com clínicas financiadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o último censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, o número de pacientes crônicos que necessitam do procedimento saltou de 48 mil, em 2002, para mais de 133 mil, em 2018.
No entanto, a verba destinada à área não acompanhou o crescimento da demanda. Hoje a grande preocupação é justamente que esse tipo de procedimento só está disponível em apenas 9% das cidades do Brasil.
Ednei Silva
Professor, jornalista e escritor.