O relatório da ONU contra o Cristianismo. Parte 3: De que lado, afinal, está a Igreja?

29/06/2020 às 13:00 Ler na área do assinante
"Nós não devemos enfraquecer ou fracassar. Iremos até ao fim. Lutaremos com confiança crescente e força crescente (...) nunca nos renderemos” (Discurso de Winston Churchill em 4 de junho de 1940)

Esse texto dá prosseguimento ao que expus aqui:

Nos textos anteriores tentei esclarecer sucintamente o que sabemos sobre a atuação da ‘Organização das Nações Unidas’ (ONU) no avanço de uma ‘nova ordem mundial’ e de sua ‘nova ordem religiosa mundial’ (luciferianismo). Vimos que o principal obstáculo ao seu projeto, especialmente no ocidente, é a moralidade judaico cristã, o que explica seus ataques irrefreáveis ao Cristianismo.

Embora tais ataques não sejam recentes, a ONU tem robustecido sua guerra contra o Cristianismo, o que fica claro especialmente no seu recente relatório que comentei nos textos anteriores, intitulado “Freedom of Religion or Belief” (‘Liberdade de Religião ou Crença’), o qual será também pano de fundo da reflexão que pretendo fazer aqui.

Com efeito, apesar do título, tal relatório não pretende defender a liberdade religiosa, mas caracterizá-la como “perigosa” (sim, pasmem, é assim que o relatório define a fé cristã: “perigosa”). Noutros termos, dada a suposta “periculosidade” da fé cristã, seu relator sugere sua abolição.

Não apenas da liberdade religiosa, aliás, mas mesmo da objeção da consciência. Desconheço, em tempos recentes, ataque tão explícito e hediondo à fé cristã, especialmente de uma instituição tão abrangente como a ONU (que possui 193 países membros, bem como “estados observadores”, como o Estado da Cidade do Vaticano - Civitas Vaticana -, sede da Igreja Católica).

Esse relatório escancara que já não estamos em uma mera guerra cultural: o combate passou, por assim dizer, para uma fase mais dramática. Agora está mais do que devassada a pretensão da ONU para eliminar definitivamente a derradeira resistência às suas pretensões de instituir uma nova ordem e religião mundiais.

Mas, diante de um ataque tão abjeto caberia perguntarmos: qual tem sido a reação dos cristãos e de suas instituições frente a essas investidas bélicas?

Sinceramente, não causa surpresa não vermos sequer um esboço de reação por parte de nossos líderes religiosos. Mesmo diante desse abjeto ataque frontal à liberdade religiosa e à objeção da consciência, não vimos, até o momento em que escrevo esse texto, qualquer resposta institucional e robusta ao infame relatório da ONU aqui citado.

Na verdade, é presumível que não haja reação alguma, uma vez que nossos líderes religiosos talvez estejam em acordo com a agenda da elite globalista em geral, da qual a ONU é um mero títere, uma espécie de protótipo de governo supranacional, o qual serve como laboratório para experimentações de cunho globalista, ou seja, como uma espécie de prolegômeno para uma real nova ordem mundial.

Como comentei nos textos anteriores (cujos links estão acima), o relatório da ONU pretende destruir especialmente a moralidade judaico cristã, talvez último fronte de defesa da civilização tal como a conhecemos, com suas instituições, valores e, claro, benesses.

Nesse sentido, a ONU tem mirado especialmente na questão da sexualidade, acusando os cristãos de usarem sua fé para resistir, por exemplo, aos avanços da ideologia de gênero, a qual, como fica claro em seus termos mesmos, é mera ‘ideologia’ e nada tem a ver com ciência.

Trata-se de algo que simplesmente surgiu em mentes torpes e hoje se enraizou, como um câncer maligno, em nossa cultura, sobretudo a partir de nossas universidades, nas quais as ideias mais execráveis não apenas foram concebidas (frequentemente subsidiadas pelas organizações que citei nos textos anteriores, como ‘Fundação Rockfeller’, ‘Fundação Ford’, ‘Open Society’, etc), mas irradiadas para a sociedade civil.

Com isso ideias estúpidas e nocivas ganharam aparência de “superioridade” intelectual e moral, quando, na verdade, são anticientíficas e, pior, terrivelmente danosas e imorais. Ideologia de gênero é uma delas. Mas há outras ideias tão deletérias quanto a ideologia de gênero, como a defesa do aborto, por exemplo.

No entanto, como vimos nos textos anteriores, não é preciso recorrer à fé para se opor à ideologia de gênero, ao aborto (que a ONU considera uma questão de “saúde sexual”), à promiscuidade e à dissolução da ideia de família “tradicional” (aquela formada por homem, mulher, em uma relação de continuidade – “até que a morte os separe” – e exclusividade – “fidelidade”).

Especialmente no texto anterior vimos que podemos assumir esses estandartes de um ponto de vista secular e fundado em descobertas de diversas ciências. Dessa forma, é falaciosa e pervertida a acusação feita ao Cristianismo pelo autor do relatório, o qual o acusa de fazer o que justamente ele e a ONU têm feito, a saber, violar direitos humanos e a dignidade da pessoa humana mesma.

Por exemplo, é a ONU que viola direitos humanos ao promover o aborto (em que uma vida humana individual – uma pessoa – é assassinada intencionalmente); é a ONU que viola a liberdade individual ao nos impor vacinas cuja eficiência é, ao menos, contestável; é a ONU que viola os direitos humanos ao aderir a uma política de despopulação (redução populacional), especialmente em países mais pobres; é a ONU que viola direitos humanos ao espraiar a ideologia de gênero e, consequentemente, os seus males, como famílias destruídas, vidas arruinadas pela dita “liberação” sexual, etc.

Poderíamos, aqui, acrescentar muitos exemplos dos males que as ideologias da ONU causam sobre a dignidade da pessoa humana. Males advindos não de posturas científicas, mas de ideologias promovidas especialmente pela esquerda, a qual serve como reles vassala da elite global mundial (dos titereiros).

Mas como fica especialmente a Igreja diante desses ataques?

Às vezes me pergunto se nossos líderes religiosos não editariam uma nova versão da Bíblia, uma espécie de versão “new age” (luciferiana). Afinal, parte de nossos líderes religiosos tenta fazer de conta que não há, na Bíblia, passagens como aquela que lemos em “Levítico” 18:22.

Que dizer do que lemos em 1 Coríntios 6:10? Poderíamos remeter a outras passagens: “Gênesis” 19:4-8; “Deuteronômio” 23:17; “Gênesis” 2:23-24; “Marcos” 10:6-8; “Efésios” 5:28-31; “Romanos” 1:26-27; “Atos” 15:19-20; “1 Timóteo” 1:9-10; “Mateus” 19:4-6.

Com efeito, essas passagens têm, em comum, o fato de assentarem os valores fundamentais da moral judaico cristã atinente à sexualidade: por exemplo, esclarecem em que consiste o matrimônio (e, consequentemente, a família); ilustram as diferenças essenciais entre homem e mulher; demonstram a profanação da fornicação, assim como a mácula moral de comportamentos sexuais aviltantes que, ao fim, conspurcam a dignidade da pessoa humana, frequentemente reificando a ser humano, tornando-o uma espécie de ‘coisa’ (rejeitando seu valor em si).

Com efeito, os pontos que aqui cabe esclarecer são os seguintes: hoje temos como apresentar rijos argumentos seculares, fundados em ciência, em defesa dos valores expressos nas passagens bíblicas acima citadas (me referi a alguns desses argumentos nos textos anteriores). Portanto, não se trata, aqui, apenas de dogmas. Há uma sólida justificação (baseada em razões e fatos) para a defesa da moralidade sexual de jaez judaico cristão.

Não obstante, Ahmed Shaheed (relator do relatório aqui em discussão) insiste que tais valores devem ser abolidos, abortados. Ele cita inclusive o exemplo da Polônia, país que mantém a visão “tradicional” de casamento, entre homem e mulher, acusando-a de desrespeitar os “direitos humanos” em sua atual visão corrompida pela ONU, para a qual qualquer ajuntamento constituiria uma ‘família’.

Mas seus ataques às soberanias nacionais não param na Polônia (país com um dos maiores números de cristãos da Europa), mas se estendem, por exemplo, até a América latina, na qual alguns países (Brasil e Chile, por exemplo) têm estorvado as pretensões da ONU de instaurar “programas de educação sexual”, expressão que disfarça o que ela realmente pretende: fomentar a prática do aborto como medida contraceptiva com fins de redução populacional.

Em resumo, o relatório aqui referido combate tanto a liberdade religiosa quanto a objeção de consciência para evitar reações contra a ideologia de gênero e a prática do aborto, como se as críticas a essas pretensões da ONU tivessem bases unicamente religiosas. Ora, como vimos até esse ponto, mesmo ateus têm boas razões, fundadas em diversas ciências, para rejeitar tanto ideologia de gênero quanto a prática do aborto.

O que a ONU pretende, mediante o relatório de Ahmed Shaheed, é instituir uma nova religião e moral globais, sugerindo, inclusive, uma “releitura” da Bíblia à luz da ideologia de gênero, o que significaria, ao fim, a destruição do texto bíblico (propósito da ONU e de seus titereiros, aliás).

Dessa maneira, o que a ONU escancarou definitivamente nesse relatório é que ela por décadas vem, contra a moral judaico cristã, insistindo em práticas (relacionadas especialmente à sexualidade) que pretendem fazer colapsar a “alma do mundo”, ou seja, os valores que constituem a “força espiritual” que nos conduziu ao mundo civilizado, um mundo mais em acordo com o que há de mais humano em nós, promovendo, pois nossa plena realização humana.

Por certo a sexualidade é parte de nossa natureza, mas ela (impulso sexual) está presente nos demais animais também. Assim, tal como as plantas possuímos funções vegetativas (respiramos, metabolizamos, etc.); tal como os animais temos aspectos sensitivos (sentimos frio, dor, prazer, etc); mas, como humanos, podemos agir virtuosamente, isto é, não sermos reféns de nossos ímpetos sexuais, por exemplo.

Pois a ONU pretende acabar justamente com aquilo que nos torna humanos, nos reduzindo a meros animais motivados pelos nossos impulsos mais bestiais. A ONU intenta pôr fim às ações virtuosas (e ao que há de humano em nós, portanto).

O estímulo ao sexo ligado exclusivamente ao simples prazer do momento, bem como a prática do aborto como método contraceptivo, faz parte desse projeto. Além disso, há, não podia faltar, o estímulo ao divórcio (dissolução da ideia de família enquanto Aliança – que envolve continuidade e exclusividade -: uma Aliança de fidelidade por toda a vida) e a hipersexualização de crianças (com sua consequente incitação à pedofilia).

Dessa forma, a ONU está em profundo acordo com a ideia de ‘luciferianismo’, o qual, poder-se-ia dizer, é a “nova ordem religiosa mundial” promovida pela “nova ordem mundial”.

Logo, não há conspiração aqui, pois a ideia de conspiração sugere algo oculto. Pois bem. As ações da ONU já não são ocultas, como o revela claramente esse relatório. Na verdade, as ações da ONU têm muitos pontos em comum com as ideias de Aleister Crowley (uma das mais influentes figuras satanistas do século XX) e de Anton Lavey (fundador da Igreja de Satã). Ambos engendraram uma nova espécie de religião, a qual está visceralmente em acordo com o luciferianismo inerente à “nova ordem mundial”.

Mesmo assim, diante de todas essas evidências, nossos líderes religiosos sequer reagem aos avanços da ONU, tampouco se posicionam em defesa da moralidade judaico cristã. Em dezembro/2019, por exemplo, em uma audiência ao lado do Papa no Vaticano, o secretário geral das nações unidas, António Guterres, afirmou que o Papa “é um campeão na proteção do planeta”. Não apenas isso, ainda afirmou que “nós precisamos de sua voz moral mais do que nunca”.

Como assim?

Se a “voz moral” do Papa está fundada na Bíblia, como é possível conciliá-la com os ataques da ONU à moralidade sexual que encontramos no texto bíblico?

Enquanto Papa, cabe ao sumo pontífice reiterar aqueles valores morais inerentes à Bíblia (como aqueles presentes nas passagens que indiquei acima). Esse, aliás, é um dever de todo aquele que se diz guiado pela Bíblia.

No entanto, o Papa recomendou, nessa mesma audiência, não que seguíssemos as orientações bíblicas, mas que tivéssemos “uma maior fé na comunidade internacional”. Ou seja, não se trata de ter maior fé em Deus, mas na “comunidade internacional”. Isso é no mínimo intrigante.

Dessa forma, não seria o caso de termos, ao invés de uma maior “fé na comunidade internacional” (nova ordem mundial), uma cada vez maior e obstinada fé nas escrituras?

Não seria o caso de nos colocarmos ao lado do texto bíblico e, tal como Churchill propôs que se fizesse em relação ao ataque do hediondo nazismo, dizermos:

“nós não devemos enfraquecer ou fracassar. Iremos até ao fim. Lutaremos com confiança crescente e força crescente (...) nunca nos renderemos” ?

Agora, nos perguntemos: como conciliar passagens como a que lemos em 1 “Coríntios” 6:9-11 com as pretensões da ONU?

Não apenas isso: um cristão não deveria estar preocupado com o Reino de Deus, desprezando a ideia de uma nova ordem mundial luciferiana?

Em verdade, o fato inconteste é: não há possível aproximação entre ONU e Cristianismo. A ONU é uma combatente instituição anticristã. Todo aquele que a ela adere está agindo também de forma anticristã, independentemente de sua posição hierárquica. Se havia alguma dúvida, esse relatório da ONU é a definitiva declaração de guerra contra o Cristianismo.

E, na medida em que nossas instituições religiosas estão mais preocupadas com a agenda da ONU do que com os princípios bíblicos, fica evidente de que lado elas estão.

Carlos Adriano Ferraz - (Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS).

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