A traição e o ato de trair

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Infidelidade é um dos poucos assuntos sobre o qual a civilização ocidental é intolerante, por envolver mentira, decepção e o rompimento de um pacto muito forte entre o casal. No entanto, é possível superar o trauma e, em muitos casos, até sair do problema com a relação fortalecida. 

Na traição, o ideal de casamento desmorona. Passa-se a enxergar o marido e ele a mulher como na vida real. Na avaliação dos terapeutas, a melhor forma de tratar o assunto é tentar enxergar exatamente as razões da infidelidade. Não adianta o infiel declarar-se culpado ou tentar convencer o parceiro de que não sabia onde estava com a cabeça.

A atitude mais correta é assumir que estava, de fato, em busca de satisfação fora do relacionamento e reconhecer que magoou o cônjuge. O traído, por sua vez, aprenderá alguma coisa se entrar em contato com sua ferida profunda, com seu sentimento de indignação e se conseguir reavaliar o modo como escolhe suas parcerias amorosas. 

É muito comum entre pessoas traídas assumir a responsabilidade pelo fracasso da relação. Perguntar-se "onde eu errei?", "por que eu o pressionei tanto?" Na infidelidade, não existem culpados nem vítimas. Mesmo quem foi traído carrega um fardo enorme. A terapia é muito importante para dividir muito bem a responsabilidade de cada um na história. 

É impossível dizer por que um dos parceiros trai. É outro aspecto a ser desmitificado: o de que o adultério só atinge casais em crise. Não é verdade. Há também casos de infidelidade em relações muito bem sucedidas. É impossível dizer se foi por atração sexual, por vontade de correr riscos ou por paixão. No fundo, não é nem porque o outro é mais bonito ou mais interessante. Mas é que sempre representa uma novidade.

Quem ama, não trai, mas permanece fiel. 

O homem é capaz de trair e de amar ao mesmo tempo. A traição do homem é hormonal, efêmera, para satisfazer a lascívia. Não é como a da mulher. Mulher tem que admirar para trair; ter algum envolvimento. 

Porque as pessoas traem? Porque os homens traem as mulheres? Porque as mulheres traem os homens? Porque os amigos traem os amigos? Quem sou eu para tentar explicar.

O ser humano é um ser complicado por natureza. E sim, o ser humano traí também por natureza .

O que acontece para que a pessoa se entregue aos seus desejos mais secretos e traia alguém importante na sua vida? Será que é porque a outra pessoa é melhor ou mais bonita? Será que é porque seu casamento já não anda as mil maravilhas? Mas e o que explicar sobre aqueles que estão no auge do amor e ainda assim cedem aos encantos das tentações? Sim, muitas vezes no auge de uma relação, rola traição, mesmo que exista carinho, admiração, respeito e etc. Estranho não é? Mas é bem por aí.

Mais estranho é tentar compreender isso, quando sentimos na própria pele. É o tal ditado, pimenta nos olhos dos outros, é refresco. O ser humano trai e não há um que não tenha traído alguém. E não trai só porque 'quer trair'.

Nos traímos por prazer. É, simplesmente pelo prazer. Em minha opinião, é simplesmente por sentir o 'prazer' que aquilo proporciona, naquele determinado momento, por mais que haja outros motivos, esse aí é sempre o principal. A imprevisibilidade do ser humano e sua potencialidade para o bem ou para o mal, é um ponto positivo, ora negativo. É muito difícil lidar com a traição. Quando somos traídos, claro.

Mas parece que as coisas são bem mais simples e inocentes, quando partem de nós. Conseguimos reduzir a culpa e as intenções de uma forma assustadora e cínica, quando nós é quem somos os protagonistas.

E a traição não tem clichês, não tem regras. Seja você ou o seu par, lindo (a), digno de capa de revista e ou ainda, dono de uma conta em um banco no exterior recheada com muita grana. Seja inteligente, bonito (a), sensual, etc. Não importa. 

Se ainda não fomos, um dia seremos traídos. Não, eu não estou sendo pessimista e muito menos jogando praga pra você, essa é a natureza humana. E ficar pensando nisso e tentando achar uma forma para que isso não aconteça com você, é loucura. Pode acreditar, você surta. Precisamos estar preparados para lidar com isso e aceitar que as coisas são assim. É uma verdadeira lei da natureza humana. As últimas pesquisas revelam que a maioria dos homens é infiel, mas divergem sobre o número de mulheres que traem.

O resultado é de que 47% das mulheres e 60% dos homens são infiéis e alguns psiquiatras constatam que 67% dos homens e 23% das mulheres já traíram o parceiro. Mensurar dados sobre infidelidade é tarefa complicada. Não há como verificar se quem responde às pesquisas está mesmo dizendo a verdade, nem há como garantir que a presença do entrevistador não influencia a resposta do entrevistado e, ainda, muitas vezes, o questionário é respondido na frente do parceiro. 

Estudiosos classificam a infidelidade conjugal em três tipos básicos: a traição como desejo de novidade para vencer o tédio do casamento; a traição como afirmação da feminilidade ou da masculinidade - é o caso dos traidores compulsivos que precisam de nova conquista para descartá-la em seguida; e a síndrome de Madame Bovary (personagem do romance de Flaubert sobre a infidelidade feminina), em que a insatisfação afetiva leva à busca de um amor romântico que não existe.

Em todos os casos, homens e mulheres encaram a traição de maneira diferente.

Pio Barbosa

Professor, escritor, poeta, roteirista

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Pio Barbosa Neto

Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará

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