A importância da proteção, ou os ratos que rugem

27/06/2020 às 12:07 Ler na área do assinante

Proteger os seus é uma regra de funcionamento de todo aglomerado humano, seja em qualquer tempo, circunstância ou lugar.

Na ausência dessa proteção, a parcela da sociedade que parecia tão coesa e tão forte, começa a se desagregar, porque seus integrantes passam a viver sob o domínio do medo, como em um filme de Sam Peckinpah.

A coragem está diretamente ligada ao fato de o indivíduo acreditar que ele pode até pagar um preço pela sua ousadia e determinação, mas que nunca estará sozinho.

Ele precisa crer que não será jogado aos leões, e que não será tratado como peça insignificante dentro do tabuleiro.

O cidadão que acredita estar sozinho, apenas por sua conta e risco, perde a coragem de chamar vagabundo de vagabundo e ladrão de ladrão; e qualquer juiz de quinta categoria torna-se um imenso fantasma a assombrá-lo cotidianamente.

Nesse clima e contexto, o cidadão começa a concluir que a força da comunidade a qual pertence é apenas uma ficção ou uma força real em franco declínio.

É assim que funciona o ser humano, e não de outro modo; e o terrorismo não é praticado apenas com bombas, mas também com mutilações psicológicas, as quais acontecem por meio de ameaças, seguidas de exemplos reais de colegas presos e perseguidos.

Pensem em um campo de batalha. Um soldado de verdade enfrenta o fogo inimigo. Ele sabe que pode morrer. Afinal, ele não está em um piquenique. Baixas acontecem.

Porém, se o soldado é ferido e cai, e seus companheiros passam por ele como se ele nada valesse, sua coragem e determinação desaparecem, e seu coração é invadido pela mágoa e pela decepção.

Pessoas excepcionais não se deixam levar por esse processo psicológico tão humano, e mantêm, em nome de um ideal, a fidelidade e a dignidade, mesmo concluindo que a recíproca não é verdadeira.

Mas vitórias políticas não vêm de homens excepcionais, mas dos homens comuns que sustentam os pés dos homens excepcionais.

Se o inimigo não consegue derrubar o homem excepcional, começa a triturar os homens que apoiam e sustentam a existência da excepcionalidade.

Se o inimigo conseguir aplicar esse processo de trituração por um tempo razoável, chegará o momento em que o homem excepcional não terá mais um grupo de pessoas corajosas à sua volta, o qual será substituído por um grupo de pessoas fracas e venais.

Então, o homem excepcional se assemelhará a um leão cercado por ratos que rugem, como em um filme de Jack Arnold.

Marco Frenette

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