Proteger os seus é uma regra de funcionamento de todo aglomerado humano, seja em qualquer tempo, circunstância ou lugar.
Na ausência dessa proteção, a parcela da sociedade que parecia tão coesa e tão forte, começa a se desagregar, porque seus integrantes passam a viver sob o domínio do medo, como em um filme de Sam Peckinpah.
A coragem está diretamente ligada ao fato de o indivíduo acreditar que ele pode até pagar um preço pela sua ousadia e determinação, mas que nunca estará sozinho.
Ele precisa crer que não será jogado aos leões, e que não será tratado como peça insignificante dentro do tabuleiro.
O cidadão que acredita estar sozinho, apenas por sua conta e risco, perde a coragem de chamar vagabundo de vagabundo e ladrão de ladrão; e qualquer juiz de quinta categoria torna-se um imenso fantasma a assombrá-lo cotidianamente.
Nesse clima e contexto, o cidadão começa a concluir que a força da comunidade a qual pertence é apenas uma ficção ou uma força real em franco declínio.
É assim que funciona o ser humano, e não de outro modo; e o terrorismo não é praticado apenas com bombas, mas também com mutilações psicológicas, as quais acontecem por meio de ameaças, seguidas de exemplos reais de colegas presos e perseguidos.
Pensem em um campo de batalha. Um soldado de verdade enfrenta o fogo inimigo. Ele sabe que pode morrer. Afinal, ele não está em um piquenique. Baixas acontecem.
Porém, se o soldado é ferido e cai, e seus companheiros passam por ele como se ele nada valesse, sua coragem e determinação desaparecem, e seu coração é invadido pela mágoa e pela decepção.
Pessoas excepcionais não se deixam levar por esse processo psicológico tão humano, e mantêm, em nome de um ideal, a fidelidade e a dignidade, mesmo concluindo que a recíproca não é verdadeira.
Mas vitórias políticas não vêm de homens excepcionais, mas dos homens comuns que sustentam os pés dos homens excepcionais.
Se o inimigo não consegue derrubar o homem excepcional, começa a triturar os homens que apoiam e sustentam a existência da excepcionalidade.
Se o inimigo conseguir aplicar esse processo de trituração por um tempo razoável, chegará o momento em que o homem excepcional não terá mais um grupo de pessoas corajosas à sua volta, o qual será substituído por um grupo de pessoas fracas e venais.
Então, o homem excepcional se assemelhará a um leão cercado por ratos que rugem, como em um filme de Jack Arnold.
Marco Frenette