A Supremacia do Novo Guardião

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Estava tudo em paz na casa dos guardiões da lei, quando surgiu um novo indicado para substituir o guardião que se aposentara. O novo guardião começou a tomar atitudes que em nada agradava. Aparecia muito, falava demais. Os dez guardiões que já viviam na Casa da Lei começaram a ficar incomodados com o guardião mais “novo”. Afinal, viviam em paz, reuniam-se constantemente em reuniões amigáveis, regados com vinhos importados de boa qualidade e diferentes pratos de comida, sendo o principal, sempre uma boa e deliciosa lagosta.

A cada dia uma artimanha. O povo já estava começando a ficar irritado com o novo guardião, pois as atitudes que o mesmo vinha tomando afetava a relação das pessoas com os guardiões da Lei, fazendo com que se perdesse completamente a confiança naqueles que tinham como obrigação cuidar dos direitos e deveres da sociedade; guardar o bem-estar e manter a ordem em todos os grupos ou instituições. Mas isso não incomodava em nada o novo guardião. Parecia que vivia em um mundo paralelo do que viviam seus colegas, acreditando piamente que podia fazer tudo e estava acima da própria lei que lhe cabia guardar. A região começou ter problemas sérios com as decisões tomadas pelo novo guardião. Um grande conflito se formava entre as instituições e o povo.

Cansado das arbitrariedades, o povo recorreu ao Presidente que também já estava sofrendo as consequências das atitudes do novo guardião. Nada foi resolvido, pois por audácia do dito guardião, o Presidente perdeu alguns de seus poderes que interferiam nos demais poderes. Então o povo recorreu aos deputados, os quais disseram que seriam os senadores a resolver, afinal, eles tinham o poder de colocar e tirar qualquer guardião da lei que não estivesse cumprindo com a Lei Maior da região.

O povo, então foi ao senado. Porém quando lá chegaram tiveram uma triste surpresa: o novo guardião havia tirado também os poderes dos senadores. Já não cabia mais aos mesmos colocar ou tirar guardião. E agora? A quem o povo recorreria? Então, alguém disse: “Vamos falar com os dez guardiões, afinal eles são em número maior e podem frear as sandices desse novo guardião. Eles também devem estar indignados por perderem sua paz e regalias. Então, o povo armado com suas bandeiras verdes e amarelas foram falar com os dez guardiões. Crianças, jovens, adultos e idosos se reuniram e foram na certeza que agora seria resolvida a questão. Já não havia mais tempo, logo todos perderiam sua liberdade.

Ao chegar na Casa da Lei, o povo chamou os dez guardiões. Ninguém apareceu. Gritaram. Ninguém apareceu. Quando já pensavam em invadir a casa, eis que surgiram os dez guardiões. O povo esperançoso pediu que tomassem uma providência quanto as arbitrariedades do novo guardião. Porém, uma nova e terrível surpresa veio como notícia dita por um dos guardiões que representava a todos os outros: “Lamentamos, mas fomos enganados pelo novo guardião. Acreditamos que ele estava fazendo a coisa certa e quando percebemos o engano, já era tarde. Agora não somos mais nada aqui na casa, além de meros escravos do novo guardião que se intitulou Guardião-mor. Perdemos. Ele tomou a casa para ele, nos chamou de incompetentes e rio de nossas caras”. O guardião mor surgiu repentinamente e mandou os dez que eram guardiões entrarem e os proibiu de falarem.

Assim, surgiu uma nova república, onde o direito de todos era permanecer em silêncio.

Foto de Claiton Appel

Claiton Appel

Jornalista. Diretor da Ordem dos Jornalistas do Brasil.


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