A Grave Crise da Imprensa: Por que o jornalismo chegou a esse ponto tão vil?
23/06/2020 às 11:59 Ler na área do assinanteCalma pessoal, essa manchete é alarmista, gera pânico e é ‘mentirosa’.
Todos sabem, seguindo os números usados pela imprensa, que não temos hoje 1 milhão de infectados.
Desses, 800.000 não estão mais com infecção.
Já não transmitem o Covid.
Manchete mais do que enganosa.
E desses 200.000 hoje de fato infectados, tecnicamente 180.000 não irão transmitir o Covid para ninguém.
Zero.
Somente 20.000 desses atualmente infectados irão transmitir, de fato, o Covid.
Para mais 20.200 pessoas, o número de amanhã.
Isso porque o Rt ainda está acima de 1, ou 1,01 precisamente.
Se 200.000 infectados infectassem 1,01, amanhã teríamos 202.000 casos, e não 20.200.
Estou supondo que esses 20.000 irão infectar um por dia por 10 dias, mas que não deixa de ser mais perto da verdade devido aos superspreaders.
Ou seja, de 1 milhão para possivelmente 20.000 ou 40.000 há uma inaceitável diferença jornalística.
Talvez tenha feito algum erro no Rt, no número de superspreaders, no número de casos que aumentam todo dia, mas esses pequenos erros não invalidam o raciocínio mais amplo que quero lhes passar.
Preocupação sim, pânico não.
E depois de lerem um não jornalista fica bem mais claro o enorme erro do Covas e Doria.
Não identificar os 20.000 superspreaders, por telefone, pedindo que eles fiquem em quarentena e não nós.
Quantos de vocês que pegaram Covid preencheram um pedido do Covas ou Doria, para fornecerem os nomes e celulares de amigos que alguém precisaria contatar?
É um constrangimento ter que ligar para 40 amigos, especialmente se você estiver com febre e prestes a ser entubado.
Bastaria Covas e Doria contratarem uma dessas CRM para fazer as ligações.
“Então, seu amigo X está aqui no hospital com Covid, e deu o seu nome para lhe avisarmos e darmos as orientações necessárias.”
Ou, pior ainda, “Três de seus amigos indicaram que talvez pegaram de você. Vamos buscar o senhor em 5 minutos”.
Por que o jornalismo chegou a esse ponto tão vil?
Me deixa com vergonha do jornalismo que pratiquei por 10 anos na Veja.
Não era essa minha função, mas sim orientar e não assustar.
Stephen Kanitz. Consultor de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo.