O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro recebeu convite para falar numa conferência sobre "combate contra a corrupção, democracia e Estado de Direito" na Argentina. Mas, depois, foi solenemente desconvidado.
O evento, organizado pelo Centro de Estudos Sobre Transparência e Luta Contra a Corrupção da Universidade de Buenos Aires, agendado para 10/06/20, teria a sua participação através da plataforma Zoom.
O convite a Sergio Moro foi cancelado, segundo La Nación, por causa do "repúdio e indignação gerado por sua figura entre setores do kirchnerismo", o que acaba sendo elogioso para o ex-juiz.
Na Torre de Babel da política argentina, o kirchnerismo (populismo peronista reciclado) é o equivalente do lulopetismo: os dois integram o Foro de São Paulo, no qual tramam a implantação de ditaduras socialistas na América Latina, e têm ambos o modus operandi de se apropriar do Estado para enriquecer a companheirada e se perpetuar no poder.
Foi essa gente que censurou a presença do ex-juiz com manifestações do tipo "Repúdio absoluto ao miserável de Sergio Moro e à atividade que ele organiza", postagem no Twitter do deputado Nacional Rodolfo Tailhade.
E "[Moro] emblema da corrupção e manipulação da justiça para fins partidários", Twitter de Alicia Castro (sem mandato).
Tailhade, Castro et caterva mantêm, ademais, a cínica "narrativa" em que Lula é o cordeiro imaculado e perseguido, e Sergio Moro é o malvado que o mandou prender para impedir-lhe uma nova candidatura.
Mas será admissível a suspensão de uma atividade acadêmica só por que contraria um conglomerado ideológico?
Claro, o risco era, ao escutar Sergio Moro, os estudantes argentinos (provável maioria do público) descobrirem que Lula já sofreu duas condenações, as quais já tiveram suas respectivas sentenças confirmadas por colegiado de segunda instância, o que as torna irreversíveis.
Ao constatá-lo, estudantes de direito da pátria de Sarmiento ficariam perplexos, porque as condenações já transitaram em julgado, sim, mas Lula segue solto graças ao contorcionismo hermenêutico do Supremo Tribunal Federal, que o deixa livre até mesmo da prisão domiciliar.
Mas o principal é que, à farsa kirchnerista, não convém que estudantes argentinos conheçam a verdadeira história da Operação Lava Jato, nem os institutos jurídicos nela aplicados, nem a experiência de Moro como juiz: o que alimenta o populismo é a desinformação, não o conhecimento.
Moro, que, no terreno político, tropeça nas próprias pernas, foi um juiz excelente: além de produzir na velocidade de "fórmula 1" e ter muita coragem para encarar os corruptos mais influentes do país, suas sentenças foram, na maioria, confirmadas em segunda instância e nos tribunais superiores. À parte de ter-lhe ou não simpatia, que jurista não gostaria de ouvi-lo?
Mas ele foi barrado pelo autoritarismo kirchnerista. No entanto, o que é mais grave, assim na Argentina como no Brasil, é a universidade estar dominada por ideias totalitárias e ser usada para arrebanhar a juventude e cooptá-la para o ativismo ideológico da esquerda.
Renato Sant'Ana
Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br