Como “ciência” se tornou outro mantra no discurso da esquerda
14/06/2020 às 11:44 Ler na área do assinanteHá um fato sobre a esquerda que deveria ser de conhecimento público, a saber: ela degenera parasitariamente toda instituição sob seu domínio.
Em minha opinião tal fato deveria ser de ‘conhecimento comum’ porque ele envolve danos que afetam negativamente a vida de todos.
Em alguma medida, somos todos afetados pela sua agenda para a implantação de ideias hostis aos pilares civilizacionais.
Não apenas isso, ela pretende desestabilizar governos contrários à sua agenda, como expus aqui:
Vejamos, então, resumidamente, o que ocorre quando ela assume certas instituições e quais seus resultados.
1. Economia. Quando interfere na economia a esquerda insiste na planificação econômica, rejeitando a ideia de liberdade econômica (e economia de mercado).
Resultado: miséria, desperdício, fome e morte. Isso porque, como foi demonstrado por Mises em 1920, uma economia planificada não funciona, ou, ainda, ela é totalmente antieconômica. Não há como um indivíduo ou grupo de sujeitos, por exemplo, estabelecerem preços. A coordenação econômica requer um mercado livre no qual os preços transmitam informações cruciais sobre a demanda e a oferta de bens. O economista russo Yuri Maltsev, em sua introdução à obra de Mises, nos diz que, “quando o governo soviético decidiu determinar 22 milhões de preços, 460.000 salários e mais de 90 milhões de funções para os 110 milhões de funcionários do governo, o caos e a escassez foram o inevitável resultado”. Imaginem: um grupo de burocratas estabelecendo, arbitrariamente, o preço de algo. O resultado é sempre ou escassez ou desperdício. O melhor mecanismo para estabelecer preços, bem como evitar desperdício e falta, é identificar o que as pessoas querem e quanto elas pagariam por esse algo. O valor de um objeto está em quanto estamos dispostos a pagar por ele (ele não possui valor em si) Um artista pode criar algo que ele julga valer milhões. Mas se ele mantiver esse preço ele provavelmente não o venderá a ninguém (pois as pessoas não estão dispostas a pagar o valor por ele estipulado). A não ser, é claro, que ele consiga recursos públicos mediante lei Rouanet, Procultura, etc, agências que compram, com o dinheiro dos pagadores de impostos, produtos que esses mesmos pagadores não comprariam voluntariamente.
2. Costumes. Aqui ela tenta impor ideias como o desarmamento da população, a desmanicomialização, a descriminalização de criminosos, o estímulo ao uso “recreativo” de drogas ilícitas, o desarmamento da polícia, a legalização ampla do aborto, a eliminação da família ‘tradicional’ (homem, mulher e filhos oriundos dessa relação); se não bastasse tudo isso, ainda fomentam a banalização do divórcio, o estímulo da sexualidade em crianças e da promiscuidade em geral, etc. Essas são pautas às quais a esquerda se agarra fortemente, pois, como sabemos a partir de uma vasta pesquisa, a implementação dessa agenda causa a dissolução da civilização que se estabeleceu, espontaneamente, ao longo dos últimos dois mil anos.
3. Universidades. Por mais difícil que seja admitir, o fato é que nossas universidades têm sido, dado serem geridas pela esquerda, parte dos problemas que a sociedade civil enfrenta. Ao invés de causarem prosperidade científica e moral, elas têm fomentado aguerridamente os danos à economia e aos costumes mencionados acima. Aliás, a maioria daquelas ideias torpes referidas acima são oriundas de mentalidades pervertidas desde o interior de nossas universidades. Nossas principais agruras são manufaturadas desde cima, da “elite”, ou, dos nossos “ungidos” do meio acadêmico.
Mas os danos causados por ela não se limitam aos costumes e à economia, mas são devastadores sobre a ciência mesma. Em recente comentário nas redes sociais, o presidente do Senado, ao asserir que estava “devolvendo” a MP 979/20 para o Presidente Bolsonaro, disse que estava “vigilante na defesa das instituições e no avanço da ciência”. No entanto, eu primeiramente perguntaria (uma vez que ele está, assim como eu, preocupado com as instituições) se há, na ‘Constituição da República Federativa do Brasil’, a previsão de “devolução de MP”. Isso porque uma MP é uma medida adotada pelo Presidente em casos de urgência. Ela não vigeria por até sessenta dias dependendo de aprovação (ou não) do Congresso Nacional? Até a deliberação do Congresso ela não teria força de lei? Não seria o caso de ele apresentar uma fundamentação técnico jurídica para sua decisão, a qual parece fundada unicamente em sua vontade pessoal? Mais: não estaria sua decisão contrariando a ‘Constituição da República Federativa do Brasil’, a qual permite ao presidente estabelecer medidas provisórias?
Esse é um ponto. Mas ele importa porque a MP em questão é aquela que permitiria ao Ministro da Educação escolher, durante o período da pandemia, reitores pro tempore para as instituições federais de ensino superior. Ou seja, teríamos a oportunidade de resgatá-las dos bárbaros que as invadiram e as estão vilipendiando por anos. Em suma, tal MP permitiria que as universidades passassem a ser dirigidas para a prosperidade, material e moral.
Comentei essa possibilidade auspiciosa aqui:
Com efeito, independentemente das indagações acima, o fato é que as universidades são, assim como expoentes de nosso judiciário, mídia e política, anticiência em sua grande parte. Por essa razão sinto repulsa intelectual e moral quando os vejo defendendo “a ciência” e o “avanço da ciência”.
Na verdade, causa-me ojeriza a maneira como violentam nossas instituições e a ciência mesma. Julgo que a maioria daqueles que têm evocado recentemente a ciência são sujeitos medíocres alinhados com uma ideologia para a qual em nada importa a verdade (objeto da ciência), mas apenas sua narrativa dogmática (anticiência).
São dogmáticos pois não aceitam o dissenso, razão pela qual estão tentando, de todas as formas possíveis, censurar a liberdade de expressão e imprensa.
Denominam tudo aquilo que lhes é contrário de ‘fake news’.
Por mais evidências que apresentemos, sua reação é sempre a mesma, a saber, o cerceamento das liberdades.
São reacionários pois estão tentando de forma cada vez mais brutal impedir a liberdade em todas as suas expressões, não apenas a de expressão e imprensa.
Estão nos impondo o uso de máscaras cuja eficiência é, do ponto de vista científico (que eles rejeitam) questionável; estão nos impedindo de ir e vir; estão estagnando a atividade (livre) econômica, ao custo de milhões de desempregados e centenas de milhares de empresas fechadas; e, claro, estão tentando criminalizar a liberdade de imprensa e expressão, pilar de sociedades democráticas.
E o fazem, vejam, alegando estarem preocupados com o “avanço da ciência”.
Violam direitos fundamentais, a constituição federal e o espírito científico e ainda ousam dizer que é pela ciência?
Realmente, eles não sabem o que é ciência.
Em primeiro lugar, a ciência está ligada à natureza humana. Como disse Aristóteles, ‘todos temos, por natureza, desejo pelo saber’.
Nossos mais remotos ancestrais já estavam tentando entender o mundo ao seu redor e seu mundo interior.
Disso adveio o avanço que nos permitiu criar, no medievo, as universidades, as quais tinham como propósito nossa prosperidade intelectual e moral (basta lermos os mottos das mais antigas universidades para que confirmemos seus propósitos).
Ao longo da modernidade tivemos também avanços civilizatórios na economia (desenvolvimento do liberalismo), na política (divisão dos poderes), na ciência, na moral, na estética, etc.
Tais avanços estão hoje sendo ameaçados pelos bárbaros que se dizem “defensores da ciência”.
São, na verdade, néscios que, uma vez com poderes decisórios cujos efeitos podem ser sentidos pela sociedade civil, causam a degenerescência tanto da ciência quando de nosso tecido social moral.
Ignoram que a ciência, em sua origem, estava ligada a conhecimento, debate, argumentação e, claro, florescimento humano. Ela sempre foi uma das formas de nos autorrealizarmos como humanos.
No momento em que, em seu nome, sujeitos ineptos a aviltam, eles enxovalham também a natureza humana, nos levando a algo muito distinto da ciência, a saber, à barbárie.
E nesse momento esse é o termo que define o atual estado de coisas em diversas de nossas instituições: barbárie. O que estamos testemunhando não é o avanço da ciência, mas da estupidez.
Quando a esquerda usa como mantra palavras preciosas, como, por exemplo, ciência, ela as desonra, assim como ela vem desonrando nossas universidades, judiciário, mídia, política, etc, as quais são, desde sua criação, instituições essenciais ao desenvolvimento civilizatório.
Carlos Adriano Ferraz. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito. Também é membro do movimento Docentes pela Liberdade (DPL), sendo atualmente Diretor do DPL/RS.