O covarde, segundo o satirista americano Ambrose Bierce, é aquele que, numa situação de perigo, pensa com as pernas.
Esse é o estado natural do ser humano: tirar o seu da reta, enquanto exige que o outro mantenha o dele constantemente na linha de tiro. No geral, o rato prevalece sobre o homem, e o homem termina sacrificado para a proteção dos ratos.
De modo que há apenas um punhado de políticos realmente corajosos. Porém, são eles também, evidentemente, humanos; e erram como todos nós, seja por esgotamento ou por uma análise equivocada.
Ao cometerem erros e covardias pontuais, reais ou imaginários, os políticos corajosos começam a receber cobranças de maior coragem; e é preciso reparar que as cobranças mais fortes e injustas partem exatamente dos covardes.
A desculpa do covarde para não ser ele próprio o corajoso da história é dizer que as "circunstâncias não permitem". Ora, quando "as circunstâncias permitem" deixa de ser coragem, pois, se a "situação permite", há segurança, e a coragem torna-se desnecessária.
O próprio presidente da República, se não fosse um homem corajoso, já teria nos abandonado. Ele poderia usar o mesmo argumento dos covardes: "as circunstâncias não permitem". Afinal, ele já tomou uma facada quase mortal, tem uma família para proteger, muitos poderosos o querem morto.
Quando a covardia nos assola, sempre encontramos uma desculpa para ela, não importando se somos poderosos ou insignificantes.
Um exemplo simples: populações inteiras estão reclamando de que não podem sequer passear na praia.
Numa área de pessoas corajosas, uma iria falando com outra e organizando uma coisa bem simples: amanhã seremos mil pessoas na praia, e queremos ver se a polícia irá prender a todos nós.
No entanto, é impossível encontrar apenas mil corajosos, em meio a dezenas de milhares de uma região, dispostas a defender o sagrado direito de ir e vir.
O Brasil honesto e trabalhador tornou-se um país de covardes, e parte desses covardes agora estão magoados porque o presidente se recusa a vestir sua capa de Super-Homem e nos salvar a todos.
Marco Frenette
da Redação