O importante é manter a narrativa: Nenhum compromisso com a saúde e com a sociedade
03/06/2020 às 05:28 Ler na área do assinanteJornal Nacional desta terça-feira (2): exatos 24 minutos dedicados à pandemia do coronavírus e seus efeitos.
A notícia de mais impacto nessa área veio à tarde: a divulgação de matérias em duas importantes revistas médicas (Lancet e New England Journal of Medicine) alertando para dados inválidos no estudo feito com 96 mil pacientes quanto ao uso de cloroquina.
Esse estudo havia concluído que a cloroquina não só não é eficaz como pode ser prejudicial para doentes de Covid-19.
Tais conclusões haviam sido amplamente divulgadas, dias atrás, pelas duas revistas, que por isso mesmo hoje, num gesto de responsabilidade, alertaram seu público para o fato de que o estudo passou a ser questionado diante de evidências de falhas metodológicas, que estão sendo apuradas através de uma auditoria. A coisa é séria (até porque o estudo havia servido de base para a OMS também se posicionar contrariamente à cloroquina).
Quando, lá atrás, foram anunciadas as conclusões do estudo, francamente desfavoráveis ao emprego da cloroquina, a notícia ganhou a manchete do Jornal Nacional, que destacava ter sido esse o maior estudo já feito, com quase 100 mil pacientes. Destacava também, claro, que a substância então “reprovada” pelo estudo havia sido recomendada pelo ministério da Saúde por pressão do presidente Bolsonaro.
A repercussão foi tanta que procuradores do Ministério Público Federal “recomendaram” ao ministério da Saúde que banisse a cloroquina.
Hoje, a notícia dada por duas importantes revistas médicas de que uma auditoria investiga a possibilidade do tal estudo ter sido um gigantesco equívoco foi simplesmente OMITIDA pelo Jornal Nacional - apesar de, curiosamente, ter sido veiculada pelo site G1, que é do grupo Globo (O link da matéria: 'The Lancet' divulga 'manifestação de preocupação' e diz que estudo sobre cloroquina com 96 mil pacientes de Covid-19 passa por auditoria
No JN não pode - atrapalha a “narrativa”, companheiro.
Marcelo Rocha Monteiro. Procurador de Justiça