Materialismo científico e mente quântica

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O materialismo científico (crença de que a matéria se sobrepõe ao espirito) tem como fundamentação filosófica a física newtoniana (leis que fundamentaram a mecânica clássica) e a teoria evolucionista darwiniana (onde os mais fortes sobrevivem e os mais fracos sucumbem). Não há lugar para o homem integral (coalisão de espírito e matéria) ou holístico, porque o plano espiritual inexiste nesse contexto.

O filósofo Aristóteles, na Grécia clássica, iniciou a história da ciência (e quiçá do materialismo científico). Cerca de 1.000 anos depois os árabes redescobriram os princípios aristotélicos e os aplicaram na medicina e na matemática, fazendo a organização social avançar com relativa segurança por muitos séculos. O filósofo inglês Francis Bacon defendia o uso permanente do método científico (empirismo) porque, segundo ele, a obtenção dos fatos verdadeiros se dá através da observação e experimentação (regulada pelo raciocínio lógico). Ensinava que os pesquisadores deveriam fazer as teorias que quisessem mas, depois, era preciso que trabalhassem para ver se elas descreviam o mundo real. 

Os novos conhecimentos foram muito fortes e induziram a humanidade a um comportamento híbrido: acreditar em dois planos de vida, sendo um material e outro espiritual. A crença no domínio da matéria e de que as leis naturais regiam e eram regidas pelos elementos materiais cósmicos, e só por eles, induziu o ser humano para uma vida de ansiedades, descrenças e desesperanças. Mas também levou ao desenvolvimento tecnológico e filosófico, moldando os grupos sociais.

Entretanto, a natureza é sábia e no decorrer dos tempos, os cientistas (físicos, matemáticos, antropólogos e biólogos), tal como fizeram os filósofos, observaram que a matéria carrega consigo uma espécie de consciência que se expande pelos múltiplos universos, contrariando a ideia (aparentemente simplista) de ondas e partículas flutuando em um espaço cheio de éter. O pesquisador Rupert Sheldrake sugere a existência de uma “memória inerente à natureza” que permite a comunicação à velocidade do pensamento, e que transcende o tempo e o espaço, preservando o conhecimento acumulado ao longo das existências.

O físico Werner Heisenberg afronta o determinismo sugerindo que “a existência da matéria, por si só é uma grande incerteza”. Lipton, fundamentando-se em Einstein (que diz que o campo de energia é o organismo que controla as partículas) afirma que é um erro crasso tentar explicar o mundo exclusivamente sob o ponto de vista material. Einstein, comentando a física quântica, foi além, concluindo que “Não há lugar nesta nova física para o campo e a matéria, pois o campo é a única realidade”.

Newton, Galileu, Leibniz e outros pesquisadores criaram massa crítica para seus estudos (seguindo a orientação de Bacon) proporcionando enorme avanço científico que induziu os europeus a forjarem uma nova concepção de mundo. O desenvolvimento tecnológico, o Iluminismo e a Revolução Industrial mudaram a forma de se ver as relações sociais e as relações de produção, mas não mataram a crença em Deus e na sobrevivência do espírito.

As bases da física newtoniana e do aristotelismo ficaram abaladas quando Albert Einstein demonstrou que a matéria pode se comportar como a luz e a luz como matéria. Por outro lado, os estudiosos concluíram que as teses de Darwin não eram originais e apresentavam falhas conceituais devido à falta de massa crítica para comprovação das hipóteses. O sobrevivente não é o mais forte, mas sim o ser que melhor se adapta às adversidades do meio ambiente, conforme Lamarck pressentira. E isso muda toda a concepção de raciocínio lógico em relação à evolução das espécies e à própria organização social.

Não estou capacitado a avançar por esse caminho para uma análise da mudança de paradigmas na evolução de uma concepção de mundo, por dois motivos básicos: não tenho a formação teórica necessária em física, em biologia e em antropologia e, consequentemente, não tenho acesso à bibliografia especializada hoje existente. Entretanto, quero destacar algumas obras sobre o tema, as quais me encantaram: Análise da Teoria Corpuscular do Espírito e Psi Quântico segundo a Física e o Método Científico, do físico Alexandre Fontes da Fonseca; Evolução Espontânea, do biólogo Bruce H. Lipton em coautoria com o sociólogo Steve Bhaerman; O Quarto Caminho, do físico P.D. Ouspensky; três livros do físico Fritjof Capra: O Tao da Física, O Ponto de Mutação e Sabedoria Incomum; Mente Quântica e ciências Sociais, do cientista político Alexander Wendt; Do Pó das Estrelas ao Homem, da bióloga Hebe Laghi de Souza.

Vale a pena ler e meditar sobre as reflexões comparativas que esses autores fazem usando os conceitos da moderna física quântica e os antigos ensinamentos filosóficos da China, da Índia, do Egito, da Grécia e da Palestina. Capra afirma que “As concepções científica e religiosa acerca da evolução tem estado frequentemente em oposição, supondo a última que houve algum plano básico geral, uma espécie de projeto idealizado por um criador divino, enquanto a primeira reduz a evolução a um jogo de dados cósmico. A nova teoria dos sistemas não aceita nenhuma dessas concepções”.

Com a identificação dos “campos de energia” a medicina holística, integração da mente quântica com o corpo físico, avançou significativamente. Algumas técnicas há muito tempo conhecidas, tais como a acupuntura, o do in, a transmissão de energia pelas mãos, a concentração mental de energias e outras mais, se aperfeiçoaram comprovando que a fé pode “remover montanhas” e o querer pode curar doenças incuráveis, extirpando o determinismo.

Entretanto, junto com esse avanço do conhecimento também vieram o charlatanismo e a mistificação. Muitas obras apócrifas, escritas e apresentadas como se tivessem milhares de anos, muitas ideias fantasiosas e muitos poderes inexistentes foram divulgados como se tivessem origem nos tempos de Buda, de Confúcio ou outros pensadores ilustres. Muitas falsas teorias foram elaboradas quase que no presente e são vistas como se derivadas fossem do budismo, do hinduísmo e do confucionismo. Propostas falaciosas foram criadas para o ocidente, sem comprovação de origem, e foram sendo infiltradas nos ritos de antigas tradições filosóficas, comprometendo a credibilidade de algumas instituições sérias e bem intencionadas.

Alguns mistificadores usam fragmentos das doutrinas dos rosacruzes e da teosofia e saem falando em chakras, egrégora, mantra, carma e outras palavras mais, sem conhecerem (realmente) seus significados e os riscos de seu uso sem as precauções devidas. Apregoam que assim estarão construíndo homens de bons costumes que, por sua vez, construirão uma sociedade perfeita.

Para se combater um charlatão (indivíduo que ostenta qualidades que não possui procurando auferir lucro ou prestígio pela exploração da credulidade alheia) basta deixar que suas propostas se esvaiam no decorrer do tempo. O mesmo comportamento vale para os mistificadores, trapaceiros, impostores e falsos profetas vendedores de milagres. Augusto Cury dá um conselho: “Se alguém lhe bloquear a porta, não gaste energia com o confronto. Lembre-se da sabedoria da água: a água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna”.

As mudanças estão ocorrendo e, lentamente, reprogramando o subconsciente coletivo da humanidade. Entretanto, como diz Claudio de Moura Castro: “Temos de nos vacinar contra a mediocridade, a arrogância e o bairrismo. Ainda temos áreas que (...) não acreditam na necessidade de se verificar empiricamente as teorias”.

LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política.

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Landes Pereira

Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.

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