Traição é rompimento. É violação da confiança. Quando alguém dentro do Governo tem cargo de Ministro e obrigações de lealdade ao Estado e atua espionando, vazando informações e difundindo boatos, traindo, "atacando por dentro" ou procurando desmobilizar uma eventual reação à agressão externa é chamado de “Quinta Coluna”, expressão conhecida no mundo inteiro como sinônimo de traição.
O traidor ou o “Quinta Coluna” aparece em muitos momentos da história: com um beijo Judas traiu Cristo; Silvério dos Reis denunciou Tiradentes para que as Cortes portuguesas continuassem a escravizar os brasileiros; com um print de celular e no meio de uma pandemia, diabolicamente, Moro traiu Bolsonaro e 57milhões de brasileiros que nele votaram.
Na obra de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, o florentino reserva um lugar especial aos traidores.
No Evangelho de Lucas conhecemos a traição de Judas:
“E estando ele ainda a falar, eis que veio Judas, um dos doze...Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é: prendei-o. E logo, aproximando-se de Jesus disse: Salve, Rabi. E o beijou.” (Mateus - 26:47-49)
O ato de enganar tem um toque de esperteza, de descaramento, de crueldade.
O traidor busca quebrar um acordo que ambos combinaram e juntos festejaram.
A atuação do traidor é a mesma do ator em cima de um palco: ele põe uma máscara em sua face e faz uma performance com clareza, sem qualquer sentimento de pesar.
Nesse ato da peça o ludibriado não tem nenhuma importância, nenhum mérito, nada que o dignifique, é só mais um “sujeitinho” desprezível a ser enganado.
A traição mais covarde é aquela em que o traído depositou toda sua confiança no traidor, aquela em que o traído reconheceu o traidor como essencial para seu projeto de vida ou de governo.
A traição de Silvério dos Reis feita a Tiradentes quando o Brasil era colônia de Portugal, tinha a finalidade de buscar oportunidades e colher vantagens a qualquer custo.
Silvério dos Reis sabia de todos os passos dos Inconfidentes, de todas as discussões, estava lá dentro, participava das reuniões.
Depois da traição e do enforcamento de Tiradentes, foi para o Maranhão porque lá havia seus “iguais”, e tendia a ser bem recebido, pois lá a colônia lusa era numerosa o bastante para proporcionar-lhe o conforto e a segurança de estar entre idênticos.
Em 1794, segundo o historiador Manuel de Jesus B. Martins, no artigo “Joaquim Silvério dos Reis: honra e prestígio no Maranhão”, partiu para Portugal, onde foi recompensado por sua traição.
“Recebeu o ‘foro de fidalgo da Casa Real, o hábito de Cristo e o perdão de uma dívida fiscal de mais de 400.000 cruzados, além de uma pensão de duzentos mil réis”.
De volta ao Brasil, em 1795, tentou reconstruir sua vida, mas encontrou clima hostil à suas pretensões, principalmente no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, tendo sofrido vários atentados.
Sua fama de traidor corria rápida em cada lugar que chegava. Traiu, mas nunca mais teve paz.
Às duas da tarde, seguindo ordens do Supremo e de seu Ministro mais astucioso, Celso de Mello, aquele que fala sem dizer coisa alguma e imagina que é um sábio, Sergio Moro entrou pela porta dos fundos na Policia Federal para depor. Foi recebido por seus amigos, porque assim determinou o Ministro.
Sim, entrou pelos fundos, como fazem todos os covardes e traidores.
Levava consigo uma penca de celulares, áudios, vídeos, arquivos para entregar aos agentes.
Seu depoimento durou perto de 9 horas. Nele, Sergio Moro, repetiu as acusações de ingerência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal.
O colunista da revista Época, Guilherme Amado, afirma que Moro teria gravado em seu Whatzapp áudios, conversas, links e imagens trocadas com Bolsonaro e organizou um dossiê com o histórico de 15 meses de conversas para provar as denúncias que faz contra o Presidente.
Tentando dar uma de João-sem-braço, ao sair do depoimento, Moro disse aos jornais que: “Não gravou o presidente por mais de um ano”. Perante a Polícia Federal, disse que isso é “absolutamente mentira” e que “jamais gravou diálogos com Bolsonaro”.
Se não gravou, não filmou, não tem arquivos, foi fazer o quê na Federal?
Parece que a única interferência clara foi a de Moro que quis nomear e “desnomear” o superintendente sem ter poder legal para isso.
Dante Alighieri, na obra-prima “A Divina Comédia, coloca os traidores no último e nono círculo do Inferno: um lago congelado chamado Cocite.
Esse lago é formado pelas lágrimas dos condenados e pelos rios do inferno que nele deságuam seu sangue.
O lago é subdividido em quatro valas onde ficam os condenados: a primeira, denominada de Caína em referência a Caim da bíblia, os que traíram seu sangue estão mergulhados no gelo até o peito; na seguinte, denominada de Antenora, os que traíram sua pátria ou seu partido estão mergulhados no gelo até o pescoço; na terceira, a Ptoloméia, os que traíram seus amigos e pessoas de seu convívio ficam somente com o rosto para fora do gelo, enquanto suas lágrimas congelam os olhos; por fim, a Judeca em referência a Judas Iscariotes, os que traíram seus benfeitores ou senhores estão totalmente cobertos pelo gelo.
Aqui também reside Satã, preso no gelo até o meio do peito, peludo, com enormes asas que possuem membranas como a dos morcegos no lugar de penas, provoca um vento sentido por toda a esfera, ele tem três cabeças e com cada uma delas, morde os traidores.
Lá já estão Judas e Silvério dos Reis. O Príncipe das Trevas aguarda Moro, com cheiro de enxofre, para um grande abraço.
É só questão de tempo.
Carlos Sampaio. Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
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