15 meses de conversas no Whatsapp. Foi isso que Moro entregou à PF, em seu depoimento. 15 meses, em um governo com 16 meses.
Ou seja, Moro "gravava" as conversas com o presidente, desde o 2º mês.
Enquanto o povo criticava Bolsonaro, sem entender o porquê de algumas ações; como no caso do juiz de garantias, quando o presidente não vetou para que o Congresso não derrubasse os outros 15 vetos; ou no caso do COAF, quando os deputados rejeitaram o destaque do governo e mantiveram a Comissão com o Ministério da Fazenda; Moro já estava preparando o seu "dossiê".
O dossiê já era preparado, aliás, quando Bolsonaro ficou ao lado do ex-ministro, não se importando com o reflexo na sua própria imagem, enquanto o "The Intercept" vazava suas conversas particulares com promotores da Lava-Jato.
No início do ano, Moro ainda afirmava que o presidente nunca interferiu nas suas funções como Ministro e, agora, apresenta "provas" de interferência desde fevereiro de 2019.
A única prova inquestionável, então, é a de que ELE É UM MENTIROSO.
Resta saber, apenas, em qual momento estava mentindo.
Em um rápido exercício de imaginação, não fica muito difícil descobrir; já que a justificativa de interferência se baseia na narrativa de que Bolsonaro quer garantir a impunidade do filho, Flávio, que NÃO É INVESTIGADO PELA POLICIA FEDERAL, mas pelo MPRJ. (Sim, o Ministério Público pode investigar crimes por conta própria, de acordo com o julgamento do STF ao Recurso Extraordinário 593.727, em 2015).
Menos difícil, ainda, quando compreendemos que Moro se demitiu no momento da exoneração de seu amigo Valeixo.
O mesmo que não investigou o porteiro que mentiu, na tentativa de envolver o presidente na morte de Marielle; o mesmo que concluiu o inquérito dizendo que Adélio não teve mandantes nem cúmplices, apesar de existirem inclusive vídeos mostrando a participação de outras pessoas; o mesmo que eximiu Glenn Greenwald da responsabilidade na invasão do celular do próprio Moro.
Fato, aliás, que me deixa pensativo, desde aquela época: POR QUE essa violação, contra o próprio Ministro da Justiça, ficou tão "barata" para o jornalista? Será que todas as conversas foram divulgadas, ou será que existem outras, que deram segurança, inclusive, para que revelassem a invasão da privacidade de autoridades da República, sem temer as consequências?
Não consigo compreender que seja simplesmente uma jogada de marketing político. Não consigo acreditar que, saindo desta forma, atirando lama no governo que compôs, por mais de um ano, esteja tentando manter sua imagem de "Reserva Moral" e visando as eleições de 2022. O "timing" é totalmente errado; o método é totalmente errado.
Para alguém que não queria "manchar a biografia", se colocar nesta situação, onde sai como cúmplice ou como mentiroso e de qualquer forma como traidor, não parece muito inteligente.
Mesmo o "centrão", que está comemorando a crise instalada, nunca mais olhará com os mesmos olhos para o ex-juiz. Desde a época de César, os políticos adoram a traição, mas odeiam os traidores. Restar-lhe-á somente a companhia da banda mais podre, o "Lago Cocite" da vida pública, ao lado de Dória, Joice, Witzel, Janaína e outros indivíduos que causam asco em qualquer pessoa com o mínimo de senso ético.
Posso estar (e espero que esteja) completamente enganado. Mas essa história está fedendo. E não é pouco!
"Quem revela o segredo dos outros passa por traidor; quem revela o próprio segredo passa por imbecil." (VOLTAIRE)
Felipe Fiamenghi
O Brasil não é para amadores.