Produção de alimentos, agroenergia e fibras na água
06/02/2016 às 18:07 Ler na área do assinanteA Terra em que vivemos é o Planeta Água. Dois terços da superfície da Terra é ocupada, principalmente, por mares, com água salgada. Apenas 2 % da água é doce. A área da Terra com solo permite o cultivo em apenas 11% da sua superfície. O restante são solos rasos, declivosos ou pedregosos, com limitações químicas ou muito frios. A humanidade depende, atualmente, quase que exclusivamente do solos para produção de alimentos, agroenergia e fibras para suas necessidades básicas. Estes solos cultiváveis estão quase todos já ocupados. Alguns países não tem como expandir sua área de produção por falta de solos adequados. Na agricultura, o solo é considerado o recurso natural renovável mais importante e estudado, sob aspectos físicos, químicos e biológicos.
Exploramos muito pouco a produção nas águas. Nas águas são produzidos alimentos, matérias primas para energia e fibras. Durante muito tempo apenas coletamos os seres vivos das águas, principalmente peixes, semelhante ao que nossos ancestrais fizeram antes do desenvolvimento da agricultura atual, onde praticamente tudo que consumimos é produzido pelo homem. Nas águas é possível produzir alimentos de qualidade em grande quantidade. Existem fazendas para produção de peixes, camarões, crustáceos, moluscos, algas etc.
A exploração da aquicultura, envolvendo águas continentais, estuarinas e marinhas, já se constitui em alternativa para aumento da oferta de alimentos para o homem.
O Brasil possui condições extremamente favoráveis para incrementar a sua produção aquícola. Existem mais de 3,5 milhões de hectares de lâmina d'água em reservatório de usinas hidrelétricas (ANEEL) e propriedades particulares no interior do país. O País também conta com uma extensa área marinha passível de uso sustentável para a produção em cativeiro.
Segundo o extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), atualmente o País produz aproximadamente dois milhões de toneladas de pescado (levantamento preliminar de 2013), sendo 40% cultivados. A atividade gera um PIB pesqueiro de R$ 5 bilhões, mobiliza 800 mil profissionais entre pescadores e aquicultores e proporciona 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos.
O potencial brasileiro é enorme e o País pode se tornar um dos maiores produtores mundiais de pescado. Segundo levantamento estatístico divulgado pelo MPA em 2010, a aquicultura já apresentou significativo crescimento nos últimos anos, passando de 278 mil toneladas em 2003 para 415 mil em 2009, o que equivale a 35% de incremento em menos de uma década. Já a produção da piscicultura atingiu 60,2% de crescimento apenas entre 2007 e 2009. Isoladamente a produção de tilápia aumentou 105% em apenas sete anos (2003-2009). Em conjunto, a aquicultura cresceu 43,8%, entre 2007 e 2009, tornando a produção de pescado a que mais cresceu no mercado nacional de carnes no período.
De acordo com a FAO/ONU, a produção de alimentos nas águas vem crescendo a 2,4% ao ano nos últimos dez anos. A Ásia é a principal região do mundo a explorar a aquicultura. O Brasil tem enorme potencial para produção nas águas. Pode se tornar destaque mundial, assim como é atualmente na produção de soja, milho, algodão, café, citros, celulose, fumo, carnes bovina, de frango e suínas etc. Da mesma forma que temos condições adequadas para roduzir em terra (solo, clima, tecnologia), também temos para produzir nas águas, com recursos naturais e clima favorável em quase todas as regiões. Há necessidade de se investir em tecnologia de produção. Para isto, há necessidade de recursos humanos, em quantidade e qualidade. O engenheiro de pesca é o profissional para produção nas águas comparável ao engenheiro agrônomo para a produção no solo. Tem competências para atuar nos recursos naturais, produção animal e vegetal, engenharia de produção, processamento de produtos da pesca, biotecnologia e economia, administração e sociologia de pesca.
É necessário analisar os mitos e verdades referentes a produção nas águas, principalmente as relacionadas as questões ambientais e sócio-econômicas. É possível conciliar a pesca extrativa com a produção aquícola. A produção mundial da aquicultura foi em 2013 de 97 milhões de toneladas, representado por 48% de peixes, 28% de plantas aquáticas, 16% de moluscos, 7% de crustáceos e 1% de outros. Essa produção representa um mercado de US$ 157 bilhões, sendo 60% para peixes, 22% para crustáceos, 11% para moluscos, 4% para plantas aquáticas e 3% para outros produtos.
Enquanto o crescimento da pesca extrativa foi de 3,7% entre 2003 e 2013, a produção de pescado cresceu 80,4% no mesmo período. A China é líder mundial tanto na pesca extrativa como na aquicultura, além de maior exportador. Em 2013, a pesca extrativa no mundo foi de 92,5 milhões de toneladas, com a China produzindo 16,2 milhões de toneladas, seguida por Indonésia, EUA, Índia, Vietnã, Noruega e Filipinas; o Brasil ocupou a 10ª posição, com produção de 0,8 milhões de toneladas e crescimento de 7% em relação a 2003. Em 2013, a produção aquícola no mundo foi de 70,2 milhões de toneladas, excluindo as plantas aquáticas, no mundo, com a China produzindo 43,5 milhões de toneladas, seguida por Índia, Vietnã, Indonésia e Bangladesh. O Brasil ocupou a 8ª posição, com 0,5 milhões de toneladas e crescimento de 73% em relação a 2003.
Em 2012, as importações de pescado no mundo alcançaram US$ 129 bilhões, com crescimento de 108% em relação a 2002. O Japão foi o maior importador do mundo, atingindo US$ 18 bilhões, com crescimento de 32% em relação a 2002. Foi seguido por EUA, China, Espanha e França; o Brasil importou US$ 1,2 bilhão, com crescimento de 447% em relação a 2002.
A produção na água pode contribuir muito para atender as demandas mundiais de alimentos, energia e fibras. O Brasil pode também ser líder nesta produção, assim como já é na produção no solo. Temos recursos naturais em abundância. Há necessidade de se implementar políticas públicas que alavanquem este desenvolvimento.
José Otavio Menten
Diretor Financeiro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Vice-Presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da ESALQ/USP.
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da Redação