Dória, que foi agora grosseiro com o presidente, já tinha sido antes com uma dama-anciã (veja o vídeo)
26/03/2020 às 13:53 Ler na área do assinanteVamos relembrar outra grosseria, outra deselegância do governador João Dória. Foi quando o novato prefeito de São Paulo teve um encontro, casual ou fortuito, talvez, com ciclistas e moradores da cidade que tinham acabado de elegê-lo.
Como mostrou a televisão, o encontro foi na via pública, quando Dória deixava o local onde houve uma solenidade no Japan House, centro cultural japonês no centro de São Paulo e que contou com a presença do então presidente Michel Temer.
Ao encontro de Dória foram muitos ciclistas com flores em buquês. As flores eram em “homenagem aos mortos nas marginais”.
Os ciclistas não concordavam com a autorização de Dória, que permitiu maior limite de velocidade para os veículos e sete pessoas já tinham perdido a vida em acidentes nas marginais.
Em dado momento do encontro de Dória com os ciclistas, quando o prefeito estava perto de entrar no carro para ir embora, uma ciclista, Giulia Grillo, ofereceu a Dória um ramalhete de flores amarelas. Eram girassóis. Dória recusou. Então, dona Giulia, uma idosa e elegante senhora, por causa da recusa do prefeito, delicadamente colocou o buquê de flores no painel no interior do veículo em que o prefeito embarcou e que estava com o vidro da porta direita todo arriado. E Dória, imediatamente e externando raiva e brutalidade, pegou o buquê de flores do painel do carro e o jogou no chão da rua e, em seguida, seu motorista partiu, sem mais.
Depois, a prefeitura distribuiu nota justificando que a atitude de dona Giulia foi “gesto invasivo e desnecessário”.
Este fato tem muitos significados. É certo que João Dória não teria agido assim, quando ainda era candidato a prefeito em busca de votos. Mas depois de eleito, fez o que fez e repetiu agora, como governador, com o senhor presidente da República, grosseria que todos viram, todos sabem qual foi e que não precisa ser relembrada aqui.
O gesto da educada ciclista também nada teve de “invasivo e desnecessário”.
A privacidade do prefeito não foi invadida.
Entregar flores a alguém não invade a privacidade de ninguém. Pelo contrário, em qualquer ocasião, é gesto nobre, gesto de admiração e carinho. É delicadeza pura. Mormente quando a pessoa que entrega é uma idosa dama e, a quem é oferecida, é o prefeito de toda a imensa comunidade de munícipes paulistanos.
Quanto à “desnecessidade”, que a nota da prefeitura de São Paulo, à época, divulgou depois, aí a questão é de foro íntimo. É preciso ter habilidades, sutilezas, refinamentos e muita sensibilidade para o convívio humano. E muito mais se exige do governante com seus governados, que são a razão de o governante existir. As flores de dona Giulia eram girassóis. Quando o Pequeno Príncipe viu as rosas no deserto do Saara, ele as achou belas. Mas as temeu, “porque elas têm espinhos que machucam”.
Mas os “girassóis” de Dona Giulia, que Dória recusou e depois, raivosamente, as atirou no chão da rua, não têm espinhos. É uma flor especial, porque está sempre voltada para o Sol, que não cansa de buscar e, enquanto não o encontra, gira, gira e gira até ficar frente a frente com o astro-rei, tudo isso para mostrar a sua beleza por inteiro.
O então prefeito João Dória não deveria ter agido como agiu. Sua grosseria é que passou a ser notícia. Que desastre!. O tiro saiu pela culatra.
Por que o prefeito não recebeu o buquê de girassóis das mãos da dama-cidadã, eleitora e contribuinte, senhora Giulia Grillo?.
Por que não a ouviu e não a abraçou? Se a beijasse, aí, então, é que teria externado o máximo carinho, o reconhecimento e total preparo para o cargo que ocupava e para o qual foi levado pelo voto da maioria dos eleitores paulistanos. E certamente pelo voto de dona Giulia, por que não?
Sim, porque os que estavam naquele local eram todos ciclistas, vestidos com roupa e equipamentos de ciclistas, todos com suas bicicletas e flores, muitas flores. Não eram adversários políticos. Não eram “black blocs”. Não promoviam protestos nem baderna. Foi um belo e expressivo encontro que o novel João Dória não entendeu e jogou no lixo. Ou melhor, no chão da rua.
Outra consequência rude e brutal do gesto insensato do então prefeito, foi o de não enxergar que as flores que os ciclistas seguravam nas mãos eram “em homenagem aos mortos nas marginais”. É sempre perigoso quando somos materialistas, insensíveis, irreverentes, ingratos e autoritários em relação aos que nos precederam nesta passagem pela Terra.
Todos somos iguais. Nossas vidas são eternas. E a eternidade está no Espírito e não na carne, que tem início, meio e fim. Infeliz aquele que não soube aceitar e repartir com a Espiritualidade os cânticos, as solenidades, as homenagens, as reverências…flores e girassóis que os que transitam neste vale de lágrimas lhes prestam, lhes dedicam, lhes oferecem.
Respeitemos a chamada Lei do Carma (ou Karma): aqui se planta, aqui se colhe. Mas o então prefeito João Dória, hoje governador, nem depois foi ao encontro de dona Giulia Grillo para lhe pedir perdão, que certamente seria dado, aqui e no Além.
Dória é assim. A grosseria de agora, com o senhor presidente da República, no encontro com os governadores do Sudeste, não foi seu último gesto de brutalidade. Outros virão.
Veja o vídeo:
Jorge Béja
Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)