Uma breve reflexão sobre aliados e lealdade e o posicionamento de Ronaldo Caiado
26/03/2020 às 05:23 Ler na área do assinanteA 2ª Guerra Mundial começou com a declaração de guerra da Inglaterra (ou melhor, do Reino Unido) e França contra a Alemanha Nazista, em setembro de 1939, quando essa invadiu a Polônia.
Isso é público e notório.
Mas uma coisa que muitos não param para pensar é que no início da guerra era apenas a Inglaterra lutando sozinha contra a Alemanha (a França já tinha capitulado frente aos Nazistas; apenas depois que ela se reorganizou, com De Gaulle no comando das forças militares, voltando para o “front” de batalha).
Depois, à medida que o cenário ia se desenvolvendo, outros países se aliaram à Inglaterra e França: Rússia, Estados Unidos, Canadá, Austrália, e até o Brasil, no final.
A Alemanha, por sua vez, também teve aliados: a Itália e o Japão, oficialmente, e os países “neutros”, como Espanha e Portugal, mas que no fundo eram colaboradores.
No final, a Inglaterra e seus aliados sagraram-se vencedores, e a Alemanha e o “eixo do mal” perdeu.
Assim funciona uma guerra: é um lado contra o outro.
Por isso que, em minha concepção, é inaceitável que um aliado abandone a aliança, no meio da guerra, e passe para o outro lado: é uma desonra para ele.
Com efeito, o antigo aliado sempre o considerará um traidor, e o antes inimigo sabe que não pode nunca confiar no novo aliado, que será capaz de traí-lo um dia.
Os motivos que levam o aliado a romper a aliança são vários; o mais comum é a “escolha” de um dos lados pelo aliado, quando acha que pode obter maiores frutos, ou até mesmo por desentendimentos estratégicos ou ideológicos.
Mas independentemente da razão, o rompimento da aliança sempre traz a consequência da desonra para quem assim age, repita-se, pois remonta à deslealdade.
Assim é na guerra, assim é na vida, assim é na política. Desde que o homem está no planeta, aliados rompem alianças para “se bandear” para o lado do inimigo.
Dito isso, hoje ficamos sabendo que Ronaldo Caiado, governador de Goiás, rompeu com Jair Bolsonaro.
Caiado era aliado do Presidente da República desde o “dia 1”; na verdade, desde a época da campanha presidencial.
A imprensa noticiou o fato com um êxtase quase orgásmico, e teve até governador-marqueteiro dando os “parabéns” a Caiado pela atitude.
Caiado diz que o que motivou seu gesto foi a indignação pelo “desrepeito aos cuidados com a saúde”, ou algo parecido, demonstrado por Bolsonaro, como a mídia noticiou.
Mas todos sabemos que não tem nada a ver com isso.
O Governador de Goiás, assim como todos que traem alianças, está, nitidamente, escolhendo um lado, que acha que lhe será mais favorável no futuro, de agora em diante.
Na Guerra Política em que estamos, Ronaldo Caiado está fazendo uma aposta na queda de Bolsonaro, tratando de desvincular seu nome do dele, para fazer proselitismo político no futuro, por causa das consequências do “vírus chinês”.
A lealdade é realmente uma virtude. Por isso que ela é rara. Especialmente nos dias “pós-modernos” de hoje.
Guillermo Federico Piacesi Ramos
Advogado e escritor. Autor dos livros “Escritos conservadores” (Ed. Fontenele, 2020) e “O despertar do Brasil Conservador” (Ed. Fontenele, 2021).