ATUALMENTE, o que mais se vê no Palácio do Planalto são militares. O mesmo ocorre na Esplanada dos Ministérios. A começar pelo Presidente da República e o seu Vice, general Hamilton Mourão. No Gabinete de Segurança Institucional, temos o general Augusto Heleno; na Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos; na Secretaria-Geral da Presidência, o major Jorge Oliveira; na chefia da Casa Civil, o general Braga Neto etc.
Esses militares do primeiro escalão trouxeram consigo dezenas de assessores que usam ou usaram fardas.
Além desses militares, no entorno da presidência podemos citar o Ministro da Ciência e Tecnologia, tenente-coronel Marcos Pontes, o Ministro das Minas e Energia, almirante de esquadra Bento Albuquerque, o Ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, o da Infraestrutura, capitão Tarcísio Freitas, o ministro da Controladoria-Geral da União, capitão Wagner Rosário etc.
Façamos uma visita às empresas estatais e encontraremos muitos militares nomeados por Bolsonaro.
Assim como os petistas aparelharam os órgãos governamentais, o presidente já aparelhou o primeiro, o segundo e o terceiro escalões do governo.
Só que, dessa vez, com militares.
A diferença é que, atualmente, ao contrário dos militantes da esquerda, para se obter uma alta patente nas forças armadas, o indivíduo tem que estudar muito, passar pela Escola de Guerra Naval (EGN), pela Escola Superior de Guerra (ESG) ou pela Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR), além de conhecer o Brasil, servindo em várias regiões militares, frequentando escolas militares no exterior, trabalhando como adido militar em nossas embaixadas e cumprindo missões de relevada importância. Senão estaciona na carreira militar. Não estamos mais no início do século XX, quando eram promovidos apenas por tempo de serviço e amizades. Hoje, os militares têm uma ampla visão do Brasil, do seu povo e das suas questões políticas e econômicas.
Alguém crê que será fácil mandá-los para casa do dia pra noite?
Voltando à pergunta inicial, quem bate panelas quer o quê? O impeachment do Presidente da República?
Com menos da metade do mandato, o vice, General Mourão, não assume. Teremos que convocar eleição no prazo de 90 dias.
Finjamos, pois (o que até fingido e imaginado faz horror), como diria o padre Antônio Vieira no "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda". Finjamos que o Congresso vote pelo impedimento do Presidente da República e sejam convocadas eleições em um prazo de noventa dias.
Alguém pode crer que teremos uma campanha eleitoral pacífica?
Alguém pode crer que, ainda durante as votações de impeachment, teremos ordem e calma no seio da população?
A resposta certamente é NÃO.
Em um país polarizado, teríamos uma balbúrdia sem limites.
Quem quer conhecer o pensamento militar deve ler com frequência a Revista do Clube Militar (https://clubemilitar.com.br/pag-revista/), porta-voz dos militares da reserva e da ativa (esses, impedidos de opinar publicamente, se pronunciam através da revista).
As forças armadas não vão permitir a baderna e a convulsão social que se seguiria durante o processo de impedimento do Presidente e do seu Vice.
Os militares já estão ocupando os postos-chaves do governo e será preciso mexer em quase nada. Talvez mudem o primeiro mandatário, troquem um capitão por um general, por um brigadeiro ou por um almirante, mas, em hipótese nenhuma vão deixar um político de carreira assumir.
Portanto, quem bate panelas hoje ou é um inocente útil ou um idiota. Está pedindo um novo AI-5.
(Texto de João Domingues Maia. Mestre e doutor em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, ex-professor da Universidade de Nantes-França, da PUC-RJ do CEFET-RJ. Autor de dezenas de livros didáticos e ensaios literários)