É o fim da história?

Ler na área do assinante

Na década de 1990, com o sucesso do neoliberalismo e a desagregação do estado soviético, um funcionário a serviço do Departamento de Estado norte-americano, Francis Fukuyama, teve a petulância de decretar o fim da história. Em seu livro defendia a supremacia do neoliberalismo que levou ao desmonte o aparato da economia estatal com desapropriações de empresas públicas, muitas delas de maneira irresponsável. Basta ver o que aconteceu com as empresas públicas brasileiras. Além disso pregou a falácia do chamado estado mínimo sem a contraposição de uma ideologia como o socialismo. Essa foi a ideia que Fukuyama “vendeu” na época, apregoando que o mundo não mais passaria por embates ideológicos e ameaças revolucionárias. Mas a história mostrou que os antagonismos persistem sob novas roupagens e que este teórico quebrou a cara.

Depois desta pregação sem consistência, novos ventos de transformação começaram a varrer as prolongadas ditaduras árabes que dominaram por décadas a ferro e fogo, porém com características próprias e não motivadas por movimentos internacionalistas ou socialistas. O desemprego, em especial entre jovens, a crise econômica, os privilégios de poucos, a corrupção endêmica e a perda do medo da repressão praticada por esses governos sanguinários, desencadearam as revoltas populares. É preciso ressaltar que grandes nações do ocidente, como EUA, França e outras, sempre fecharam os olhos e apoiaram ditaduras sangrentas por interesses econômicos ou geopolíticos. O próprio Brasil nunca se manifestou contrário ao que acontecia no interior desses regimes arbitrários do mundo árabe.

Todos esses governos totalitários, na contramão da história, já estavam se esfacelando e dependiam de apenas um motivo para a deflagração da rebeldia popular. Na época, o estopim foi a revolta popular na Tunísia que levou à deposição do seu ditador. Depois, a bola da vez foi o Egito que, apesar da repressão, também derrotou o seu velho ditador. Porém, o governo egípcio ficou nas mãos dos militares, o que não foi um bom sinal, apesar de prometerem fazer a transição para um regime democrático. Infelizmente para a população egípcia, a coisa foi bem diferente do que esperavam. Eclodiram manifestações populares de repulsa às ditaduras no Irã, no Iraque, no Bahrein, no Iêmen, na Argélia e no Marrocos. Um verdadeiro “efeito dominó”. Mas, lamentavelmente, toda esta extensa região segue envolvida num mar de violência, corrupção e terrorismo.

Entretanto, o que chamou a atenção naquele momento de efervescência foram as manifestações de revolta na Líbia que culminaram com o trucidamento do ditador líbio, Muammar Gadaffi. Por 4 décadas o líder árabe da maior oposição ao ocidente, governou sempre com mão de ferro e sem nunca tolerar contestação. Para o espanto de muitos, Lula durante o seu governo elogiou a liderança deste desprezível e ridículo chefete. A revolta popular, numa luta entre os rivais xiitas, sunitas e diversas tribos, motivou a incontida fúria de Gadaffi que promoveu uma repressão violenta. Deu no que deu.

Todavia, a roda da história continua a se mover com transformações, muitas delas revolucionárias ou radicais como o terror implantado pelo estado islâmico, sustentado pela jihad que distorce os ensinamentos do islamismo. A crise que hoje abala todo o planeta com seus componentes econômicos, forte instabilidade financeira com tresloucada dança de bolsas de valores, países em estado de falência como o caso da Grécia, terrorismo e flagrantes desrespeitos aos direitos humanos, sem falar das epidemias que assolam continentes inteiros (ebola, zika e etc.) formam o quadro tenebroso deste começo do século XXI.

  Depois destas tragédias, a teoria da hegemonia incontestável do capitalismo neoliberal e o fim da história como luta internacional de classes continua deslizando por água abaixo.  Os países atingidos pelas crises não parecem caminhar para uma normalidade democrática que proteja as suas respectivas populações, muito pelo contrário.  Na verdade, democracia plena é na prática uma utopia, mas a humanidade ainda não inventou coisa melhor para governar uma comunidade.

Por isso está aceso um sinal de alerta ao Brasil e sua confusa política internacional, aliás um fiasco do governo de Dilma Roussef.  Desde o governo de seu predecessor, o interesse em conquistar um efetivo assento na ONU levou o Brasil, costurando uma teia de amizades internacionais e de apoio aos mais diversos países democráticos ou não, só causou até agora constrangimentos. O mais grave é que estamos sequer preparados para resolver nossa própria crise, quanto mais colaborar para consertar a balbúrdia que o mundo está vivendo.

Mais uma vez, e há muito tempo, o Oriente Médio provoca surpresas e apreensões em todo o planeta. Há até mesmo previsões místicas tenebrosas sobre o início de uma terceira e trágica guerra mundial começando por aí. Falando concretamente, o mundo todo já está vivendo uma guerra mundial pulverizada com os ataques do terror de grupos radicais ou de “lobos solitários”, além de quebras das economias nacionais e problemas insolúveis de saúde pública.

Quando é que os grandes líderes políticos e aqueles que de fato mandam no mundo vão acordar e tomar medidas efetivas para proteger a história e a vida de todos nós?

Valmir Batista Corrêa

                                   https://www.facebook.com/jornaldacidadeonline

Se você é a favor de uma imprensa totalmente livre e imparcial, colabore curtindo a nossa página no Facebook e visitando com frequência o site do Jornal da Cidade Online.

Foto de Valmir Batista Corrêa

Valmir Batista Corrêa

É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

Ler comentários e comentar