São Paulo e a decadência da Avenida Paulista

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A Avenida Paulista está em processo de lenta, mas continuada decadência econômica.

A um processo natural do mercado que desenvolveu outras oportunidades para a instalação de sedes de empresas e centros de compras, ações da Prefeitura Municipal estão acelerando o seu empobrecimento. Mas não o seu esvaziamento.

A ocupação dos espaços da cidade envolve sempre uma disputa de classes, raramente ocorrendo a convivência entre elas. 

Quando os de maior renda escolhem um determinada área da cidade, promovem a sua  modernização,  valorização, em geral, acompanhada pela verticalização e "motorização". A elite promove a graduação ("up grade") e enriquecimento.

As condições desse enriquecimento afastam os de menor renda, que não tem condições de usufruir das áreas privadas, dado o seu alto custo. 

Os de menor renda reclamam dessa apropriação do espaço urbano e  reivindicam o espaço público, através de ações dos Poderes Públicos.

Buscam assegurar a sua participação nos espaços públicos, seja nas calçadas, seja  pela instalação de ciclovias ou ciclofaixas, seja pelas faixas ou corredores para o transporte coletivo, em detrimento aos espaços para os automóveis como pelo direito de uso das vias para os seus movimentos reivindicatórios, festivos ou lazer.

Mais recentemente movimentos anticapitalistas, se valem de diversos motivos para ocupar a avenida, em passeatas. Acompanhadas pelos blackblocs para depredar agencias bancárias.

Enquanto prevelece o domínio da "elite" as áreas por ela escolhidas mantém uma dinâmica de crescimento econômico e físico, com sucessiva valorização imobiliária. Mas é essa valorização que ao se tornar excessiva ou alcançar o pico leva essa própria elite a buscar outras áreas, provocando a estagnação do crescimento econômico. Que é agravada em momentos de crise.

Esse processo já vinha ocorrendo com a Avenida Paulista, tendendo à estagnação econômica, agora agravada pela crise geral e pelas medidas da Prefeitura Municipal de privilegiar o espaço público para o povo, um eufemismo para os estratos de menor renda. 

Com a maior ocupação das áreas públicas pelo povo a elite tende a acelerar a sua saída das áreas privadas. 

O processo é conhecido. Com a saída de escritórios de grandes e ricas empresas, aumenta a ociosidade e promove a redução das novas construções. Mas como essas tem decisões e execução de médio prazo, alguns empreendedores imobiliários não tem outra alternativa a não ser efetivar os seus empreendimentos, mesmo sabendo que não terão o retorno previsto quando da compra do terreno ou do lançamento do imóvel. O fato de ainda existirem imóveis em construção ou lançamentos imobiliários, caracterizam apenas a concretização de decisões tomadas bem antes.

Somando esses novos espaços, aumenta mais a ociosidade e os proprietários não tem outra alternativa a não ser fracionar e reduzir os preços dos aluguéis. Resulta que se tornam viáveis a empresas de menor porte e de menores faturamento e renda. 

Esse processo resulta também no perfil dos frequentadores. Altos executivos ou empregados de elevados salários são substituídos por outros de renda média ou baixa. Não só o volume global de consumo cai, como o padrão das preferências. 

Esse processo é lento. A ociosidade dos imóveis pode persistir por muitos anos, dentro da expectativa dos proprietários de confiar na revitalização da Avenida. 

As reduções dos aluguéis já ocorrem pontualmente, mas uma contaminação generalizada levará tempo. Em muitos casos pelos prazos dos contratos.

Uma grande transformação urbana ocorrida na cidade levou os centros comerciais para outras áreas através da adaptação do modelo de shopping centers à cidade. 

A Avenida Paulista durante muito tempo ficou sem shopping center, até a transformação da antiga Sears, no entorno do início da avenida (Praça Oswaldo Cruz), no Shopping Center Paulista. Teve e tem a instalação de minishoppings (Center Três, Top Center), com algumas lojas, mas em volumes e diversidade menor que grandes shopping centers que se instalaram em outras áreas da cidade.

Abriu recentemente um midishopping center, com volumes totais de área e número de lojas menor que os concorrentes, funcionamento mais como âncora do conjunto de imóveis corporativos no terreno que foi residência dos Matarazzos. 

Não se fixou como centro de compras, gastronômico e de lazer cinematográfico, que marcam o modelo dos shopping centers.

Mas se fixou como o polo do lazer cinematográfico "alternativo", exibindo filmes de arte, diferenciados dos "blockbusters", lançados em grande rede dos cinemas dos shopping centers. 

Esses cinemas que tem um público fiel estão reclamando da perda de clientes com o fechamento da avenida para carros no domingo, e das frequentes ocupações da Avenida por manifestações públicas. 

Tendem a fechar e se localizar em outras áreas da cidade. Provavelmente nas proximidades da Vila Madalena e polarizada pela estação metroviária  Fradique Coutinho.

A eventual perda de um dos elementos de resistência da Avenida Paulista, acelerará a sua decadência e esvaziamento.

Com a gradual retirada do "capital" da Avenida Paulista, a classe média e a pobreza vão ocupando o espaço nobre. Até quando elas vão manter o dinamismo do espaço? 

O centro histórico empobrecido e esvaziado, sustentado artificialmente por iniciativas públicas poderá dizer à sua irmã: "eu sou você amanhã". 

Jorge Hori

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