As evidências de que Dráuzio traiu o juramento que fez como médico
09/03/2020 às 09:45 Ler na área do assinante“Cuido da saúde de criminosos condenados há 30 anos. E por razões éticas não busco saber o que de errado fizeram. Sigo essa atitude para cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico”, disse Dráuzio Varella ontem no Fantástico.
Já o juramento a que ele se refere, e assegura cumprir, notem bem, não diz exatamente isso:
“Juro solenemente que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. NUNCA ME SERVIREI DA MINHA PROFISSÃO PARA CORROMPER OS COSTUMES OU FAVORECER O CRIME. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, gozem para sempre a minha vida e a minha arte de boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário.”
O juramento diz que um médico não poderá negar tratamento a um homicida ou estuprador que dele necessite (assim como um advogado criminalista, aliás, não pode recusar uma defesa criminal em virtude do crime cometido). O juramento NÃO DIZ que um médico usará de seu prestígio e espaço na mídia pra transformar um estuprador e homicida num herói.
Ao contrário, ao conduzir milhões de pessoas a empatizarem com um homicida, estuprador e ocultador de cadáver, Dráuzio Varella traiu a medicina. E agora quer se proteger atrás de seu jaleco, num momento em que não foi médico, mas antes agiu como publicitário de um assassino.
Imaginem vocês a dor da mãe da criança que pereceu nas mãos daquele monstro ao assistir à glamurização do assassino de seu filho na TV aberta diante de 20 milhões de pessoas. O fato de algo assim ainda gerar debate, ao invés de repúdio generalizado, só mostra como a bússola moral da sociedade brasileira foi desregulada com sucesso ao longo de 40 anos de reengenharia social brutal.
Todo médico que honra sua profissão tem o dever de repudiar esse atentado à dignidade humana, em cumprimento, justamente, ao mesmo juramento que Dráuzio Varella covardemente tenta usar como escudo pra glorificação do que a humanidade tem de pior:
"Se eu cumprir este juramento com fidelidade, gozem para sempre a minha vida e a minha arte de boa reputação entre os homens; SE O INFRINGIR OU DELE AFASTAR-ME, SUCEDA-ME O CONTRÁRIO"
Rafael Rosset
Advogado