Manifestações populares: Tarifa de ônibus versus juros

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Neste dia 19 de janeiro de 2016, a Avenida Paulista será novamente tomada por manifestantes. Dessa vez não pelos jovens manifestantes do MPL contra o aumento das tarifas dos ônibus e do metrô, mas dos sindicalistas contra o eventual aumento da taxa de juros. 

Vão com as suas bandeiras, os carros de som, seguidos pelos desempregados e outros levados por ônibus e alimentados com pão e mortadela, na frente do prédio do Banco Central, para pressionar a sua diretoria a não aumentar a taxa básica de juros, a SELIC. O que significaria, na prática de mercado, a redução da taxa real, descontada a inflação.

Sem entrar no mérito das razões do aumento ou não, a questão é "o povo" irá também, espontaneamente, apoiar e engrossar a manifestação?

Segundo as lideranças do MPL o "povo" irá às ruas, apoiar o seu movimento porque está indignado com "tudo que está ai" e apoiá-los é uma forma de manifestar a sua insatisfação e exigir dos Governos mudanças. Mudanças das medidas contra o povo, geradoras do desemprego e da inflação.  

Ou o "povo" já está é de "saco cheio" com a sucessão de manifestações.

O MPL irá apoiar e engrossar a manifestação das Centrais Sindicais? Ou usarão diversos argumentos para não ir. 

E os balckblocs, irão aproveitar para depredar as agências bancárias, o grande símbolo da opressão capitalista e os únicos que irão ganhar com o aumento de juros, nas circunstâncias atuais?

Mas se o aumento da tarifa de ônibus é facilmente percebivel e afeta diretamente o bolso dos trabalhadores não empregados, o aumento dos juros não é percebível tão facilmente.

Os juros estão embutidos nos preços e nos carnês das prestações. Um aumento agora da taxa SELIC (poucos sabem o que é), desencadeando um aumento dos juros nas dívidas do cheque especial ou do cartão de crédito, não aumenta o valor das prestações já contratadas.

Pesará sobre quem está endividado no cheque especial ou cartão de crédito. Com isso esses devedores irão comprar menos. Comprando menos os dirigentes do Banco Central acreditam (ou querem fazer acreditar) que os comerciantes e industriais irão baixar os preços para poder incentivar as vendas. Mas a reação real é outra. Muitos produtores e comerciantes preferem aumentar os preços para compensar a queda de venda física. Mas produzindo ou vendendo menos em quantidades, reduzem o seu quadro de pessoal e aumentam o desemprego.

Os desempregados irão à Avenida Paulista para pedir a volta dos seus empregos? Vão ligar uma coisa a outra?

Se a insatisfação da sociedade é geral, e ela deve ir às ruas para demonstrar a sua contrariedade, como o fez em junho de 2013. Em manifestações com seis e até sete dígitos de participantes. 

Se o MPL quer o apoio da sociedade, ele deveria engrossar o movimento das Centrais Sindicais. Mas não irá. Cheio de razões. Todas explicadas.

Mas o resultado efetivo é que não terá o apoio da sociedade para as suas manifestações, cada vez mais pontuais e com menos adesão. 

A pretensão de mobilizar a sociedade, como em 2013, a partir do aumento da tarifa dos ônibus, nunca mais.  

Jorge Hori

                                                 https://www.facebook.com/jornaldacidadeonline

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Jorge Hori

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