PM versus Movimento Passe Livre: Confronto de estratégias

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Diante do aumento do valor das passagens do transporte coletivo em São Paulo, um grupo de jovens ativistas, reunidos no Movimento Passe Livre - MPL, vem promovendo manifestações de rua, com o objetivo de provocar o cancelamento do aumento.

Acreditam nessa possibilidade, com base na iniciativa que tiveram em 2013, quando obtiveram ampla adesão da população, com a mobilização de milhões de adeptos, agregando diversas reivindicações e conseguindo a anulação dos aumentos, depois efetivada, sem maiores reações.

Voltam às ruas embalados pelo sucesso das manifestações contra a reorganização do sistema educacional estadual, com a suspensão da mesma.

O aumento da passagem de ônibus gera sempre uma insatisfação geral e é um dos temas que mais anima os jovens rebeldes a se manifestarem publicamente e em massa.

O sentido maior é o de auto-afirmação e extravasamento do inconformismo com as circunstâncias. Essas, mesmo quando insatisfatórias envolvem questões difusas. O maior problema da sociedade hoje é a corrupção e todos são contra. Mas a mobilização popular, nas ruas contra ela não tem o poder que o aumento da tarifa do ônibus tem. Esse é um fato objetivo que pesa diretamente no bolso e na bolsa das pessoas, todos os dias.

Por isso é preciso ir às ruas protestar contra o aumento. "Protestar é preciso". Uma parte dos manifestantes se dará por satisfeito em participar de uma manifestação, mesmo que não anule o aumento. 

Já um grupo mais radical e persistente, que assume a liderança procura manter a mobilização por mais tempo.

A sua estratégia, que deu certo em 2013, é obter o apoio da sociedade, em função da solidariedade contra a reação violenta da Polícia Militar.

Percebem o despreparo dos soldados e mesmo dos oficiais e partem para a provocação. Com o objetivo de aguçar a violência e ganhar o apoio da população. Para isso contam com a cobertura da mídia formal e informal. E usam amplamente a rede social para mostrar as imagens das violências sofridas.

Essa estratégia tem dado resultado. Há uma predisposição negativa da sociedade contra a reação desproporcional das polícias. Os mais ativos são ousados e estão dispostos a enfrentar os policiais, mesmo sabendo da sua inferioridade física e bélica. Quanto mais vitimizados forem, maior a probabilidade de solidariedade.

Além do problema de enfrentar a estratégia da PM, que comentaremos em outro momento, tem dois pontos fracos que comprometem as suas estratégias: a ação dos blackblocs e a perturbação no funcionamento da cidade.

Os blackblocs são importantes para dar mais visibilidade ao movimento e atuar na linha de frente da provocação dos soldados. Ademais estão treinados e preparados para apanhar, mas também bater. O problema está na sua atuação vândala. A sua atuação violenta pode afastar os mais pacíficos, não só por serem contra esse tipo de atuação, como porque estão sujeitos a serem vítima da violência dos policiais, que em fúria, não fazem muita distinção. O que, inicialmente, é animação vira medo, receio de apanhar.

E restringe o apoio dos demais que acham justas as suas reivindicações e luta, mas não estão dispostos a participar, junto com os violentos blackblocs.

O risco é de um rápido esvaziamento do movimento.

A perturbação do funcionamento da cidade faz parte da estratégia, para dar visibilidade ao movimento. Para isso precisam usar o fator surpresa. Definir o percurso previamente permite que os demais possam se programar e valer-se de rotas alternativas. Não as definindo pegam os demais de surpresa e geram maior percepção da sua existência. E quanto maior o número de pessoas atingidas, maior pode ser a adesão. Mesmo prejudicado, preso no trânsito, muitos ao perceberem o motivo, dão razão ao movimento, conformando-se com a perturbação.  Mas uma parte não se conforma e pode ser maior do que os que apoiam.

Sem o apoio de outros segmentos da sociedade o movimento tende a se esvaziar sem alcançar os seus objetivos. 

Jorge Hori

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Jorge Hori

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