A história brasileira está recheada de estelionatos eleitorais, cada um mais escabroso que os outros. O problema é por onde começar e quando terminar o relato. Sem muito esforço chega-se ao Império e aos imperadores. A sequência de leis que levou à libertação dos escravos e a proclamação da República são fontes riquíssimas para os pesquisadores.
O campo-grandense Jânio Quadros, em 1960, prometia varrer o país de norte a sul e de leste a oeste, e acabar com a corrupção e com os desmandos administrativos. Seu mote eleitoral era “varre, varre, vassourinha”. Assumiu a presidência, mandou bilhetinhos para todos os lados e não fez nada do prometido. Renunciou ao mandato, imaginando que voltaria nos braços de seus eleitores. Foi mais uma tentativa de um folclórico golpe de estado que não deu certo.
João Goulart aceitou o parlamentarismo em 1961 para retornar ao presidencialismo um ano e meio depois. Prometeu que faria as reformas de base e que não recuaria frente aos poderosos latifundiários e banqueiros. Na hora do “pega”, fugiu para o Uruguai e deixou seus apoiadores desorientados e perdidos pelas ruas e palácios.
Castelo Branco liderou uma “revolução” em 1964 prometendo a redemocratização em 1965, logo que exterminasse o perigo comunista. A promessa foi esquecida e a ditadura militar durou 21 anos. O bipartidarismo foi outro engodo para camuflar o regime ditatorial, as guerrilhas e a repressão policial-militar.
Os líderes do movimento “Diretas Já”, em 1984, sabiam que a emenda constitucional seria rejeitada e que tudo não passava de uma jogada para ganhar as eleições indiretas no ano seguinte. A dobradinha Tancredo Neves/José Sarney foi uma tremenda enganação para deixar tudo como era antes. Tancredo morreu e José Sarney, ex-presidente da ARENA e porta-voz dos militares, tomou posse. Foi um desastre. Em 1986 lançou o Plano Cruzado (trocou o cruzeiro pelo cruzado, com três zeros a menos, congelou os preços das mercadorias e dos serviços, botou os “fiscais do Sarney” nas ruas e a Polícia Federal para aprisionar gado nas invernadas). Foi um sucesso eleitoral divulgado nos moldes das novelas da Globo – o PMDB elegeu a maior bancada do Congresso e 21 dos 22 governadores de Estado. Uma semana depois das eleições foi lançado o Plano Cruzado II desfazendo tudo o que o Cruzado I havia implantado.
Em 1989 foi a vez de Fernando Collor de Melo, o caçador de marajás, com o apoio irrestrito da Rede Globo, enganar o povo brasileiro. Fez uma campanha prometendo o paraíso na terra e muito mais. Tomou posse em 15 de março de 1990 e, no dia seguinte, Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia, anunciou o Plano Brasil Novo (conhecido como Plano Collor), arrebentando com a economia brasileira e com as finanças do povo. Dez meses depois lançou o Plano Collor II, fechou autarquias e fundações e iniciou a privatização das empresas estatais. Abriu as portas do país para o mercado internacional seguindo a cartilha do Consenso de Washington, redescobrindo a desnacionalização.
Fernando Henrique Cardoso, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco (vice de Fernando Collor de Mello), se apropriou do Plano Real e contribuiu com o processo de estelionato eleitoral comprando a emenda para sua reeleição. Desenvolveu a famigerada “privataria” que dilapidou o patrimônio nacional. Deu continuidade à desindustrialização nacional iniciada por Collor e iniciou o processo de corrupção que culminaria no “petrolão”.
Lula se elegeu prometendo um programa de governo de esquerda. Prometia a implantação de um socialismo democrático distanciado das poderosas elites e dos banqueiros internacionais. Tomou posse, nomeou Henrique Meirelles, ex-diretor do Banco de Boston, para presidir o Banco Central e Antônio Palocci para dar continuidade plena aos programas de FHC, a partir do Ministério da Fazenda. Depois alegou desconhecer os desmandos financeiros que acontecia em seu governo.
Falar sobre os estelionatos eleitorais de Dilma Rousseff, na primeira eleição e na reeleição, é a “redundância do óbvio”. O povo brasileiro foi traído duas vezes. Na primeira vez aconteceu quando Lula apresentou seu “poste” dizendo que era uma gerentona competente, imbatível e insuperável; e na segunda, quando ela escondeu os números das contas nacionais enquanto dava fantásticas “pedaladas” fiscais.
Nos Estados o processo eleitoral também é recheado de folclóricos estelionatos. Paulo Maluf em São Paulo, Azeredo em Minas Gerais, o pessoal do Distrito Federal e por aí em frente. Mato Grosso do Sul é um exemplo típico, desde os tempos dos governadores nomeados. O atual governador, quando em campanha, anunciava 22 metas prioritárias que seriam implementadas já no início de seu governo, sendo a principal a redução do ICMS do diesel e de outros produtos. Não reduziu o ICMS do diesel e aumentou as alíquotas de várias mercadorias. Das tais 22 metas, anunciou um ano depois, ufanísticamente, que já está trabalhando em cinco delas. Prometia transparência, mas os números das contas públicas continuam escondidos.
Quando o sistema partidário apodrece e os políticos perdem a credibilidade junto ao povo, restam poucas atitudes para os eleitores: a) abaixar a cabeça humilhado e deixar as coisas acontecerem, fingindo que tudo está bem; b) assumir a passividade masoquista no estilo Mahatma Gandhi; c) radicalizar e partir para os protestos de rua arrebentando as barreiras e os tropeços (no estilo de Martin Luther King) ou, d) partir para a não participação efetiva com o voto nulo.
O sistema político nacional está podre e os políticos brasileiros corrompidos pela ganancia e pela corrupção. Basta olhar o que acontece no poder legislativo, das câmaras de vereadores ao Congresso Nacional, onde as negociatas acontecem descaradamente. O candidato que não adere às práticas escusas fica fora das quirelas financeiras distribuídas pelos donos dos partidos e não se elege. A mesma sistemática é válida para o Executivo (prefeitos, governadores e presidente da República).
Campo Grande é outro típico exemplo de má administração pública. A Câmara de Vereadores é um fórum de incompetência, ganancia e desmandos em busca de vantagens pessoais. O executivo (o prefeito), inexplicavelmente, continua no cargo depois de ter sido cassado e “descassado”.
A corrupção é escancarada e o Ministério Público, a cada dia que passa, descobre mais coisas desairosas feitas por esses governantes “escolhidos” pelo povo. E o mais triste é quando se olha a lista dos pré-candidatos já em campanha.
Nada resta ao desiludido eleitor brasileiro que é obrigado a sujeitar-se ao descaramento dos políticos e à ditadura dos partidos, isto porque o voto é obrigatório. Está na hora de repetir a “campanha do voto nulo” que aconteceu no período de 1965 a 1970, quando o bipartidarismo (ARENA, partido do “Sim Senhor”, e MDB, o partido do “Sim”) obedecia servilmente aos militares.
O voto nulo é a única maneira de se materializar um protesto contra a corrupção e os desmandos dos políticos brasileiros (de todos os políticos) e de todos os partidos. Ressalte-se que a safadeza não está unicamente no PT. Ela é generalizada entre os políticos, e não escapa ninguém - homem, mulher, jovem e velho, todos os que aderem ao partidarismo eleitoreiro.
LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política.
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Landes Pereira
Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.