A vírgula, esta vilipendiada pontuação, é agredida por Juliana Paes
15/01/2020 às 19:50 Ler na área do assinanteA vírgula é um sinal gráfico de pontuação muito desprezado, quando não vilipendiado. Sua omissão, ou má colocação pode acarretar perda da cadência, da sonoridade e da beleza de uma frase. Mas pode, acima de tudo, mudar radicalmente o sentido que o displicente (ou ignorante) usuário deste humilde sinal de pontuação queria imprimir à sentença. Segue abaixo um exemplo eloquente do que afirmo.
A atriz global, Juliana Paes, assumiu a campanha para que clubes de futebol não contratem o goleiro Bruno /1/.
Realmente, causa nojo saber que um assassino bárbaro e frio, como este, estagiou tão pouco na cadeia. Em países civilizados, onde a Justiça é coisa levada a sério, este assassino teria sido executado, ou passaria muitas décadas, ou mesmo o resto da sua vida na cadeia.
Repete-se aqui o mesmo nojo que me possuiu quando Lula, um criminoso corrupto do maior gabarito, foi solto pelo Quinteto-Pró-Crime do STF. Corrupção mata em escala muito maior do que um revolver ou um punhal. Daí o meu profundo nojo por corruptos de colarinho branco, políticos ou não, Lula à frente de todos.
Daquele texto de Juliana Paes, destaco o seguinte: “Eu como mulher, e defensora da causa da violência contra a mulher, queria dizer que estou muito orgulhosa ...”
O leitor atento e conhecedor de um Português básico entenderá, ao ler a frase citada, que Juliana Paes:
a. Come mulher.
b. É defensora da causa da violência contra a mulher.
É claro, Juliana Paes quis dizer o contrário do que disse, dá para adivinhar.
Por quê, então, ela escreveu o que escreveu? Porque desconhece o básico de Português, que isto não é requisito mínimo para ser celebridade da Globo.
O exemplo acima mostra que um erro na colocação da vírgula pode mandar alguém para a cadeia.
O que Juliana Paz quis dizer é: “Eu, como mulher e defensora da causa da não-violência contra a mulher, queria dizer que estou muito orgulhosa ...”
Era só isso. Entretanto, ...
Os fundamentos para a mudança de posição da virgula, que acaba por afetar radicalmente o texto da doce Juliana, são os seguintes: A palavra “como”, na redação corrigida que apresento acima, é uma conjunção coordenativa explicativa. Conjunção porque relaciona dois trechos de uma oração. Explicativa, porque a segunda parte da oração explica a primeira, isto é, “mulher e defensora” explica o “Eu” anterior. E existe uma regra imperativa e sem exceção (por que será?): antes da conjunção explicativa é necessária a virgula.
Para comparar, o erro na colocação da vírgula cometido por Juliana, transformou “como” - de conjunção explicativa que tinha que ser - no presente do indicativo do verbo “comer”. É uma diferença brutal!
Portanto, minha gente, mais atenção e respeito para com a vírgula.
A “última flor do Lácio” agradece.
José J. de Espíndola
Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.