Chegou dezembro, os dias parecem passar mais rápido que o habitual, e então, o Natal se aproxima, o final do ano e início do próximo também...
É tempo de festas, férias, família reunida, confraternizações, partilhas, troca de presentes, afetos, avaliações de metas cumpridas, retrospectivas e sentimentos a flor da pele...
Para os mais espiritualizados ou religiosos, é um período de oração e de encontrar o transcendente nisso tudo!
Se é verdade que é um tempo feliz para muitos, é verdade também que é possível que seja um período de maior sensibilidade para outros...
Às vezes é o primeiro natal sem um ente querido, após uma separação, ou depois que um filho mudou-se para o exterior levando os netos que eram a razão da vida e o envolvimento dos avós...
Tudo isso pode nos colocar em contato com afetos por vezes, negligenciados na correria do dia a dia, ao longo dos outros onze meses...
São em momentos como esse que nos questionamos sobre a real relevância de acumular desafetos, mágoas e ressentimentos...
Queremos afinal, é nos aproximar do outro e nos sentir pertencentes a algo e a alguém; queremos nos sentir queridos (e está tudo ok! Isso é do ser humano e não há nada de errado ou vergonhoso nisso!).
Contudo, quando represamos nossas emoções e arquivamos conflitos e histórias não resolvidas, isso pode ser um impedimento ao encontro genuíno com o outro!
Lágrimas, por vezes, correm soltas, sem explicação. Alguns se enxergam em outras famílias, que consideram perfeitas, e esquecem que relações humanas envolvem conflitos e desentendimentos o tempo todo, nos doze meses do ano, em todos os endereços do planeta!
O que nos diferencia como seres humanos, mais ou menos felizes, reside na nossa capacidade adaptativa de lidar com o outro, perdoá-lo no que percebemos como imperdoável, aceitá-lo no que entendemos inaceitável, e entendermos que assim como aceitamos o outro com suas incoerências, também nos colocamos passíveis ao perdão do outro; pois mesmo quando juramos o contrário, também temos nossos pontos inaceitáveis, imperdoáveis e incoerentes.
Quando aceitamos o outro em sua incompletude (ou, minimamente, o respeitamos), também damos o exemplo, bastante pedagógico, de sermos aceitos em nossas idiossincrasias e imperfeições.
O que queremos afinal nesse tempo de Natal? Queremos o perdão por sermos quem somos, com nossas fortalezas e fraquezas...
Que tal então, começarmos por nós?
Ou consideramo-nos tão acima do bem e do mal, e nos julgamos capazes de passar incólumes ao relacional no mundo?
Que o tempo de perdão seja mais do que o período que antecede o Natal, mas uma constante nos doze meses do calendário, porque o outro pode precisar, é verdade; mas a maior verdade é que o nosso coração merece paz!
Não há melhor sensação do que percebemos a paz em nós, com o outro e com o mundo!
Sigamos ao encontro com o outro, e que os nossos braços sejam abraços que acolhem, nossos sorrisos sejam genuínos, e nossos olhares se cruzem em verdadeiras trocas afetivas e relacionais; porque se as relações são sempre recursivas...
A cada movimento de acolhimento que parte de nós, recursivamente afeta a quem recebe, e nos devolve em semelhante proporção.
Fico imaginando que é isso que o maior personagem desse tempo que comemoramos o Natal gostaria de ver em nós, criados a Sua imagem e semelhança!"
(Texto de Patrícia Manozzo Colossi. Doutora e Mestre em Psicologia (Unisinos). Especialista em Terapia Familiar e de Casal (Unisinos). Editora da Revista Universo Psi-Psicologia/FACCAT)