Quando se pensava que a Lava Jato não chegaria ao natal em face da intensa campanha orquestrada contra si pelos poderes da República, eis que surge mais uma retumbante operação da Receita Federal, do Ministério Público e da Polícia Federal contra a corrupção, mostrando, mais uma vez, que o combate ao crime organizado continua a ser a ação moralizadora mais importante já ocorrida no Brasil.
Dessa vez o flagrado foi o Lulinha, o primogênito de Lula, acusado de participar de um esquema de corrupção no qual ele e seus sócios teriam recebido milhões de reais de empresas ligadas às telecomunicações, beneficiadas durante o governo do pai, também preso e condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e outras fraudes.
Só do grupo Oi/Telemar, um dos beneficiados citados, as empresas ligadas a Lulinha teriam recebidos 132 milhões de reais; no total, essas empresas receberam 287 milhões de reais, segundo dados da Receita. Como era de se esperar, Lula contra-atacou, dizendo que agora o alvo é o seu filho, vítima de pura perseguição política. Segundo a imprensa, o hoje milionário empresário era, antes de Lula assumir o governo, um simples biólogo com cargo modesto no Zoológico de São Paulo.
Ele se tornou um empresário bem sucedido em curtíssimo tempo, justamente no governo do pai, que considerou o progresso do filho um “fenômeno”, comparando-o ao sucesso do jogador Ronaldo, tachando o herdeiro como o “Ronaldinho dos negócios”. Lulinha foi flagrado pela Lava Jato com base em documentos colhidos pela Receita Federal ligando-o aos interesses da OI/Telemar, ao se aproximarem do governo para obterem vantagens ilícitas. Esse é justamente o ponto central das investigações.
A Polícia Federal e o Ministério Público suspeitam que as empresas de Lulinha não prestavam os serviços pelos quais eram remuneradas. Em um dos e-mails que alguém lhe teria enviado e para outros funcionários da Gamecorp (empresa do Lulinha), está bem visível os interesses escusos nas operações detalhadas.
Para a Lava Jato, parte dos milionários repasses para as empresas amigas do Lulinha podem estar ligados à fusão da OI com a Brasil Telecom, autorizada por Lula. Essas negociatas iriam terminar na compra do Sítio de Atibaia, pois, segundo os investigadores, a posse do sítio teria vindo depois de um repasse de R$ 132 milhões da empresa de telefonia Oi/Telemar para o grupo de empresas Gamecorp/Gol, cujos donos são Lulinha, Fernando Bittar, Kalil Bittar e Jonas Suassuna. Bittar e Suassuna são, no papel, os donos do sítio, segundo a imprensa.
Os investigadores garantem que parte do dinheiro para a compra do sítio veio de um esquema envolvendo o Lulinha. A investigação envolvendo Lulinha faz parte da 69ª fase da operação Lava Jato.
O procurador da Lava Jato, Roberson Pozzobon afirmou que o que está em apuração são as evidências de que o sítio de Atibaia pode ter sido adquirido por Fernando Bittar e Jonas Suassuna com dinheiro repassado pela Oi. Segundo a investigação, o grupo Gamecorp/Gol era contratado pela Oi/Telemar para prestar diversos serviços, mas não tinha mão de obra ou ativos necessários para realizar os trabalhos, o que demonstra que os contratos celebrados eram todos de fachada.
Como era de se esperar, Lula veio em defesa do Filho, dizendo que tudo não passa de perseguição política. O ex-presidente usou as redes sociais para criticar a Lava Jato e a força-tarefa. “O espetáculo produzido pela força tarefa da Lava Jato é mais uma demonstração da pirotecnia de procuradores viciados em holofotes que, sem responsabilidade, recorrem a malabarismos no esforço de me atingir, perseguindo, ilegalmente, meus filhos e minha família”.
Para arrematar sua indignação, disse que ele e o PT não fizeram tudo, mas que ninguém havia feito tanto. Como o brasileiro ‘pouco’ está se importando com a corrupção, pelo menos devemos reconhecer que é um gozador nato. Daí correr nas redes sociais que Lula deveria ter dito que não fizeram tudo, mas, em compensação, ninguém roubou mais do que alguns companheiros quando estiveram no poder. Seja como for, o fato trouxe a Lava Jato de volta. O que prova que ela é indestrutível.
Luiz Holanda
Advogado e professor universitário