A “ignorância esclarecida” do general Santos Cruz
27/11/2019 às 02:06 Ler na área do assinante"Não li e nem nunca vou ler [as suas obras], só pelo seu linguajar". Foi algo mais ou menos assim que o General Santos Cruz falou na CPMI, quanto a Olavo de Carvalho.
Isso me lembra uma música dos Ramones, chamada "ignorance is bliss". Trata-se daquela conhecida frase “a ignorância é uma benção”, que significa a pessoa ser preservada de alguma coisa ruim por causa da própria ignorância, que acaba trabalhando em seu próprio favor.
De fato, os ignorantes podem mesmo não sofrer, não passar por sentimentos ruins, não vivenciar tristezas ou frustrações, devido ao desconhecimento da situação (ignorada). Essa é a ignorância inata, congênita, contra a qual a pessoa ignorante nada fez para terminar com ela; até, com perdão da repetição, devido à sua própria ignorância, que o deixa em uma certa zona de conforto (no mau sentido).
Mas pior do que essa própria ignorância inata e congênita é aquela “ignorância esclarecida”, que é a ignorância da arrogância; é a ignorância autossuficiente; a ignorância independente, da qual alguns indivíduos são providos por sua própria escolha e livre-arbítrio, de quem sabe exatamente o que está fazendo, ao se manter na ignorância.
O Presidente da República pode até ter se beneficiado da ignorância (para usar a expressão do início desse texto) quanto ao ponto fora da curva que era a presença do General Santos Cruz (seu amigo de décadas, e um militar experiente e condecorado, que já atuou até junto à ONU, em missões de paz no Congo e no Haiti) em seu governo; mas agora o citado General usa contra si mesmo a “ignorância esclarecida” de que falo acima, ao preferir conservar-se na ignorância propositalmente sobre as coisas relacionadas à política e à ideologia.
Lamento que seja assim. Mas, como diz o ditado, "così è la vita".
Guillermo Federico Piacesi Ramos
Advogado e escritor. Autor dos livros “Escritos conservadores” (Ed. Fontenele, 2020) e “O despertar do Brasil Conservador” (Ed. Fontenele, 2021).