A abertura do processo de impeachment de Fernando Collor, lá no início dos anos 90, foi precedida de uma grande manifestação popular, depois de o “tiro no pé” que o então presidente deu, ao conclamar a população para ir às ruas por ele: o povo foi às ruas contra ele, em vez de por ele. Uma pequena diferença que serviu como termômetro político para o impeachment.
Há alguns anos, Dilma Rousseff desdenhou da força do grito popular, e não levou a sério a vontade do povo de pedir seu impeachment. Na verdade (justiça seja feita), acho que ela nem sabia direito o que estava acontecendo, pela sua evidente limitação intelectual.
O processo de impeachment foi aberto, e culminou na sua despedida do Palácio do Planalto, depois de um espetáculo de horrores de “resistência” da Presidente, transformando a sede da Presidência da República em um “bunker”, em uma cena grotesca que nunca será esquecida.
Hoje (17), o povo sai às ruas para pedir o impeachment de Gilmar Mendes, um juiz do Supremo Tribunal Federal, feito inédito no país. Mas o ineditismo é por conta da instituição ao qual o futuro “impichado” pertence, e não ao impeachment em si.
E o povo sairá às ruas com a determinação de quem assistiu Gilmar Mendes dizer, arrogantemente, que existem apenas “robôs” se manifestando contra ele nas redes sociais, e que ele é uma pessoa com “prestígio na academia”, conhecido na Alemanha, em Portugal, nos Estados Unidos, e outros países mundo afora, citados por ele.
Vai ser melhor que Gilmar Mendes, no futuro, pegue esse tal “prestígio na academia”, que ele diz possuir, e que escolha um desses países aí para virar acadêmico do Direito, já que se acha preparado para tanto.
Porque a partir de amanhã, quando Davi Alcolumbre perceber que existe o “timing” político para iniciar o processo de impeachment do juiz da Suprema Corte, o povo brasileiro estará todo imbuído de um único propósito: despedir, pela primeira vez, um juiz do STF, algo que até ontem parecia impossível.
Impeachment é clima político. Impeachment sempre é precedido de povo nas ruas. Uma vez aberto o processo de impeachment, não tem mais volta, e a coisa vira um monstro que caminha sozinho.
Guillermo Federico Piacesi Ramos
Advogado e escritor. Autor dos livros “Escritos conservadores” (Ed. Fontenele, 2020) e “O despertar do Brasil Conservador” (Ed. Fontenele, 2021).