O mundo vive nesse início de século XXI o oposto do que viveu no início do século XX.
O último século foi caracterizado por conflitos entre extremos: fascismo X comunismo, direita X esquerda, capitalismo X socialismo, ditadura X democracia, etc., causadores dos eventos mais sangrentos da história da humanidade.
No fundo, extremos ideológicos não são sobre ideologia, mas sobre poder. Como disse Millôr Fernandes, "desconfio de qualquer idealista que lucra com seu ideal" ou “democracia é quando eu mando em você e ditadura é quando você manda em mim”.
O século XXI começou com uma inovadora revolução digital, com democracia direta e parcerias, com novos acordos comerciais, compromissos sobre desenvolvimento sustentável, maior participação cidadã e vários indícios que um planeta com menos conflitos ideológicos e mais serviços públicos seria melhor para todos. Mas ainda não conseguimos mudar a natureza humana.
O Brasil vive um momento interessante, parece que está decidindo se vai entrar no século XXI ou não. Pela primeira vez em nossa História há uma movimentação da sociedade motivada pela Operação Lava Jato, pela prisão de empresários e políticos corruptos, pela apreensão recorde de drogas, por uma política de estado contra a corrupção e criminalidade e a favor da transparência.
Isso tem pouco a ver com ideologias. Depois de trabalhar com desenvolvimento por mais de 30 anos, cheguei a uma conclusão muito simples.
Transparência e a honestidade não são consequência do desenvolvimento, mas suas verdadeiras causas.
Um país desonesto e corrupto nunca se desenvolveu em nenhum lugar do mundo – apenas enganou sua gente por algum tempo, como vimos na Alemanha Nazista de Hitler, na União Soviética de Stalin, e em países onde o governo monopoliza informação.
O Brasil tem inimigos insistindo em permanecer no passado porque o passado lhes convém. Políticos que financiaram suas campanhas e suas vidas de luxo através de corrupção usam o pretexto da "justiça social" para ficar no poder.
Nossa História recente é sentida por todos: profunda crise econômica, assalto aos cofres públicos, envio pelo BNDES de bilhões de dólares para governos ideologicamente alinhados com a pseudo-esquerda, propinas de milhões de dólares, aparelhamento ideológico das instituições, criação de empresas estatais deficitárias, concorrências fraudulentas para beneficiar aliados políticos, aliciamento da mídia e universidades públicas, etc. Ao mesmo tempo, é curioso notar que alguns capitalistas imperialistas monopolistas como bancos e empreiteiras tiveram lucros estratosféricos em gestões da pseudo-esquerda brasileira. Por outro lado, a recente parceria entre Brasil e China mostra que políticas públicas pragmáticas são mais importantes. Atualmente, a prioridade dos governos, sejam de “direita” ou de “esquerda”, é atrair investimentos.
O problema mais sério é o seguinte: enquanto brasileiros comprometidos com o desenvolvimento do país operam dentro das regras de um jogo limpo, os inimigos do Brasil operam segundo suas próprias regras de corrupção, parcerias perversas com criminosos e traficantes, propinas para canais de comunicação, compra de mandatos, aliciamento de agitadores profissionais, blogs sujos, táticas de negociação politiqueira contra os interesses do país, política do toma-lá-dá-cá, etc.
Os que fazem isso muito bem usam a retórica da “democracia” para se perpetuar como representantes promíscuos da nossa classe política. Como brasileiro que paga seus impostos em dia, fico revoltado quando vejo o produto do nosso trabalho ser usado para fomentar essas práticas sujas. Algumas “excelências” não enxergam que há uma nova cidadania emergente insistindo em entrar no século XXI, enquanto cresce a revolta da grande maioria de brasileiros honestos.
Repito: não é apenas uma questão de ideologia. É a possibilidade de um país ético e desenvolvido desejado pela maioria contra alguns que tem o rabo preso e querem que tudo continue como sempre esteve. Eles não vão prevalecer.
Texto de Jonas Rabinovitch. Arquiteto e Conselheiro de Inovação e Serviço Público na ONU (escrevendo em sua capacidade pessoal)