Todos vamos envelhecer... Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos. A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar. Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio. ("Erótica é a Alma" )"
Alguém não se torna velho por haver vivido certo número de anos, torna-se velho porque desertou dos ideais. Os anos enrugam a pele, mas a renúncia a um ideal enruga a alma. As preocupações, as dúvidas, os temores e as desesperanças são os inimigos que, lentamente , nos fazem vergar para o chão e nos convertem em pó antes da morte. ( General Douglas Mc Artur)
Simone de Beauvoir em seu livro clássico sobre a velhice mostra, entre outras coisas, que o inconsciente não tem idade e que temos forte tendência a nos comportar, na velhice, como se jamais fôssemos velhos: aos 60 anos, raros são os que se consideram nessa condição e mesmo depois dos 80 anos há muitos que acreditam ser de meia-idade e uns tantos que continuam a se achar jovens.
Como escreve Cícero, em seu famoso tratado De Senectute (Da velhice),
"Todos querem chegar à velhice; quando chegam, acusam-na". E ainda: "Torna-te velho cedo, se quiseres ser velho por muito tempo". Pensamentos que ressoam, no século XVII, no dito de Swift e que, de certo modo, vão na mesma direção dos dados do livro de Simone de Beauvoir: "Todos desejam viver por muito tempo, mas ninguém quer chegar a ser velho".
A medida da vida está em olhar para si mesmo e contabilizar não o tempo, mas as ações e as relações humanas construídas. Se olharmos para trás e sentirmos que valeu a pena viver, então a vida foi plena. Por que, então, temer a velhice?
Pio Barbosa
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Pio Barbosa Neto
Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará