Aécio fatalmente teria sido o “Macri brasileiro”

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Vou aproveitar a derrota de Macri para abrir um parêntese e comentar sobre este assunto que, há muito, quero escrever; mas entre um escândalo e outro, nesta terra tupiniquim, acabo perdendo o "timing".

Eu sei que sou chato. Sou extremamente crítico e, muitas vezes, já fui acusado de “desunir a direita”, por falar sobre charlatães que ainda mantém as máscaras, ou condenar “movimentos populares” sem o menor sentido. Não fui sempre assim.

Em 2014, ainda tinha a cabeça de “vale tudo”. Queria uma solução imediatista e só me importava em tirar o PT do poder. Para isso, fiz uma campanha ferrenha para o Aécio.

Me recordo de poucas vezes que fiquei tão bravo quanto no final da apuração. A vitória da Dilma foi um tapa na minha cara.

Hoje eu sei que foi a melhor coisa que aconteceu para o Brasil.

Toda a campanha petista foi baseada em dizer que Aécio teria que fazer as coisas que eles sabiam ser inevitáveis.

Eles seguraram, por exemplo, o valor da gasolina e afirmaram, em todos os debates, que o tucano iria aumentar o combustível. Logo após as eleições, Dilma autorizou o aumento, que era imprescindível para cobrir o rombo que eles causaram na Petrobras. Se tivessem sido derrotados, segurariam o preço até o final do mandato, entregariam um rombo ainda maior e acusariam a “direita” pelo reajuste. O famoso "eu avisei".

Além disso, Aécio era tão corrupto quanto os petistas. Só não tinha, ainda, sido exposto. A diferença entre ele e a Dilma é que o psdbista tem um poder de articulação infinitamente superior ao da marionete guerrilheira. Teria, então, a capacidade de "frear" a Lava-Jato, antes que chegassem no seu nome. Com a direita "relaxada", certa de que foi vitoriosa nas urnas, seria uma manobra muito fácil.

Se Aécio fosse eleito presidente, então, Lula provavelmente estaria livre.

O seu mandato seria “travado”. Primeiro porque a corrupção continuaria na mesma escala do Lulo-Petismo; segundo porque é IMPOSSÍVEL consertar, em 4 anos, 3 décadas de insanidades políticas (ainda que se tenha vontade e coragem para tomar medidas impopulares. O que não seria o caso).

Com o PT fazendo o que sabe fazer de melhor, OPOSIÇÃO, um governo de Aécio mataria a direita ainda no berço. Em 2018, Lula voltaria triunfante, para "salvar" o país da "catástrofe neoliberal".

EXATAMENTE O QUE ACONTECEU NA ARGENTINA.

A derrota de 2014 e todos os fatos sucessivos me ensinaram que DEVEMOS TOMAR CUIDADO COM NOSSOS DESEJOS. As vezes, o que nos parece a melhor opção, pode ser um atalho para a catástrofe. Política é ESTRATÉGIA DE LONGO PRAZO e, por mais que queiramos mudanças urgentes, NÃO EXISTE IMEDIATISMO.

Por isso, continuarei me posicionando CONTRA qualquer solução desesperada, como paralisações de caminhoneiros, movimento intervencionista, fechamento de Congresso ou destituição de STF.

Qualquer passo em falso, por mais que pareça ser a "salvação da lavoura", poderá devolver o poder para as mãos da esquerda.

Continuarei contrário, também, a QUALQUER MECANISMO DE CENSURA ESTATAL. Por mais que seja tentador calar o inimigo, devemos lembrar que, querendo ou não, O PODER MUDA DE MÃOS. Qualquer dispositivo criado para combater a esquerda, com a força do Estado, poderá ser usado contra nós mesmos, no futuro.

Vale lembrar que o Estado agigantado, criado pelos militares durante o combate aos subversivos, foi usado pelo governo Sarney para tabelar preços e, inclusive, PRENDER comerciantes que desobedeciam o governo.

A única forma de combater a esquerda é REDUZIR O ESTADO, do qual ela se alimenta, e FORTALECER A DEMOCRACIA, a qual ela não sobrevive.

É demorado e cansativo. Eu sei. Mas todo o resto é apenas ilusão.

"Quando eliminamos o impossível, o que resta, ainda que improvável, tende a ser a verdade." (DOYLE, Arthur Conan)

Foto de Felipe Fiamenghi

Felipe Fiamenghi

O Brasil não é para amadores.

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